terça-feira, 24 de março de 2009

Provocação: Reflexão (55) - Relendo a História 1

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por Jefferson Ramalho

Conforme tínhamos combinado na semana passada, vamos tirar algumas semanas - ou meses - para fazermos uma releitura da História do Cristianismo. Claro que aqui tudo será feito de maneira muito breve e panorâmica. Contudo, este tema vem sendo desenvolvido em minhas aulas de História da Igreja, desde o início do ano, no Instituto Bíblico O Brasil para Cristo, que me convidou para lecionar a partir desse ano. Fiquei muito honrado com o convite e tenho procurado corresponder às expectativas da direção, coordenação e principalmente dos alunos.

Para uma primeira releitura, podemos trabalhar com a História dos primórdios da religião cristã. Pra início de conversa, o cristianismo não era cristianismo. Era uma seita do judaísmo, e muito rejeitada por sinal, no contexto judaico. Jesus, consequentemente, o maior dos hereges entre os judeus. Cumpriu toda a Lei, mas se assumia direta ou indiretamente, ser aquele Messias prometido no Primeiro Testamento.

Para entender o início da fé cristã, é fundamental a leitura dos textos neotestamentários, especialmente dos Evangelhos Sinópticos e de Atos dos Apóstolos. Mas que não seja uma leitura feita com a utilização de óculos da dogmática, seja qual for ela. Tentemos fazer uma (re)leitura do Evangelho a olho nu. Para isso, é interessante e ao mesmo tempo indispensável aceitar que Mateus e Lucas foram escritos a partir de Marcos e de Q (alemão: QUELLE = Fonte) que se trata de uma fonte hipotética, não existente, mas suposta por alguns biblistas dos últimos séculos, na tentativa de justificar a existência de aproximadamente 250 versículos contidos em Mateus e Lucas, mas que não se encontram em Marcos.

E quando é feita uma análise panorâmica da (des)harmonia dos evangelhos, o que se percebe é que fica difícil criar uma história perfeitinha como muitos tentam, tendo em vista os inúmeros problemas textuais existentes. Isso só pra falar de Sinópticos.

De Atos, gostaria de destacar os capítulos dois e quatro. Em 2.1-13 acontece a chamada "descida do Espírito Santo". Curiosamente - ou sem a menor importância - tal fenômeno teria ocorrido no dia da festa judaica de Pentecostes. Poderia ter sido na Páscoa. Não faria diferença. Mas fico pensando se tivesse sido na Páscoa. Como os pentecostais se chamariam? Pascoais?

Sobre o dom de línguas, está claro que ninguém ali proferiu línguas inexistentes. O milagre, na verdade, não esteve no falar línguas estranhas, mas no ouvir o estrangeiro falar minha língua, sendo que a língua dele é outra (cf. verso 6).

Do verso 42 ao 47 do segundo capítulo e do verso 32 ao 35 do quarto capítulo, vejo as duas melhores consequências do fenômeno compartilhado pelo autor, conforme 2.1-13. Trata-se, na minha opinião, de uma consequência concreta, sólida, que faz sentido na vida e pra vida. Gente que não é egoísta, mas que por ter sido cheia do Espírito Santo, é capaz de dar tudo o que têm, não para o pastor comprar os mais preciosos bens e com isso aumentar seu patrimônio pessoal, mas para atender à necessidade dos irmãos que não tinham nada, mas que faziam parte da comunidade.

Parece utopia? Não só parece, mas é utopia! Principalmente quando o que está em evidência, predominando, é o egoísmo, a ganância, o desejo de conquistar elevadas posições e valiosos bens através de uma suposta troca com Deus, a corrupção Estado-Igreja, a exploração de obreiros inocentes e manipulados por seus líderes, a alienação da massa diante do carisma de seu pastor, além de tantas outras coisas que enojam qualquer ser humano que tem o mínimo de bom senso e temor pela Palavra - e quando digo Palavra, me refiro não a uma coleção de livros, mas à Pessoa de Deus, Encarnada e Verbificada.

E para provocar um pouco mais, deixo uma pergunta para a qual não preciso de resposta, pois tamanha é a clareza: Será que esse negócio dos nossos dias chamado "igreja evangélica" tem a ver com aquele movimento clandestino, rebelde, autenticamente evangélico, ao mesmo tempo sectário, perseguido, escandaloso, racionalmente absurdo e radicalmente socialista apresentado nas páginas dos Evangelhos e de Atos?

Abração a todos!

Semana que vem tem mais!

na Graça,
Jefferson

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