segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Reflexão (86) - No ensejo do nosso dia


por Jefferson Ramalho

Hoje, 15 de outubro, é o dia no qual “comemora-se” a importância dos professores. Sou um deles neste País maravilhoso e, ao mesmo tempo, difícil de nele viver. É maravilhoso por sua diversidade cultural, por sua gente, pelo sorriso estampado no rosto. Mas é difícil porque ainda permite que a desigualdade ocupe mais espaço que a justiça.
Vivo num País no qual o professor tem dia, mas não tem dignidade. Eu gostaria de dizer, após ter estudado por mais de vinte anos, entre escolas públicas e em três faculdades privadas, com publicações em revistas científicas, licenciatura, bacharelado, mestrado, que a minha remuneração de professor na Educação Básica estivesse equiparada à formação acadêmica que construí. Não... não está!
Sei que há incontáveis – sim, incontáveis – razões que impedem que o meu salário seja aquele que eu gostaria. Somos todos vítimas de um sistema econômico que nos escraviza a comprar tudo com tão pouco no bolso; somos vítimas de um sistema político sem vergonha que se disfarça de democracia, fazendo-nos de idiotas todos os dias; somos vítimas de um sistema educacional que optou pelo número de pessoas com diploma na mão e não pela qualidade da formação escolar que elas recebem. Por que?
Porque a maioria precisa estudar em uma escola pública que reza o que o Estado incompetente manda: aluno que não falta às aulas, ainda que tenha notas insatisfatórias em todas as disciplinas, deve ser aprovado. Ele não sabe ler, ele não sabe escrever, ele é vítima da incompetência do Governo do Estado, de todos os Presidentes que o Brasil já teve de Deodoro a Dilma, do Prefeito de sua cidade, dos vereadores e deputados de ontem e de hoje ao ponto de ter que ir à escola para comer merenda porque não tem comida em casa, mas será aprovado. Ele não vai à escola para estudar, ele vai à escola para matar a fome. Em troca disso, sem saber, ele aceita passar de ano sem aprender nada. Ele é a única vítima quando é aprovado sem ter aprendido.
Sempre há exceções; eu nem precisaria dizer isso. Mas, o que predomina é aquilo que não é exceção. É aquilo que é regra, que é comum...
E não pensem que é somente a educação pública que se encontra decadente no Brasil. Não... Infelizmente, não! A educação privada também não anda bem das pernas, com exceção de poucos colégios no País, pensando em termos de proporção, mas que são aqueles em que apenas alguns poucos filhos de classe dominante podem estudar. Por que?
Porque está cheio de donos e donas de escolas pensando na grana que entra e não no ensino de qualidade que sua instituição deveria oferecer. São, à semelhança de muitas escolas públicas, colégios sem estrutura para que o aluno aprenda desfrutando de recursos pedagógicos mais avançados, sem bibliotecas, sem laboratórios equipados, sem projetores, sem material esportivo de qualidade para as aulas de Educação Física, sem segurança, sem professores eventuais, sem um monte de outras coisas. Por que?
Quem quer uma Educação de qualidade, que tenha dinheiro para pagar por ela. Muito dinheiro! Existe argumento mais irresponsável que este?
E o Estado, por excelência, já provou que é irresponsável, as escolas privadas de pequeno e médio porte – salvo exceções – já provaram qual é a sua grande meta ($$$).
Eu teria mais de uma centena de coisas a dizer, mas a revolta, a indisposição, os sentimentos de desesperança me impedem de fazê-lo.
E o lado bom? Só há um lado bom, meus caros: o orgulho de saber que apesar de tudo isso, há alguns poucos alunos e alunas que sabem o que você está fazendo ali. Você está ali, mais do que por qualquer outra razão, por causa deles. Hoje, muitos deles não conseguem mensurar o valor disso; entenderão depois. Não importa, pois sempre foi assim e continuará sendo.
O que não pode continuar é que a Educação do nosso País continue no controle de aproveitadores, de gente interessada no poder e no dinheiro, de gente desinteressada na educação do outro. Quanto mais gente desinformada (mesmo que oficialmente formada) mais fácil será para aqueles que controlam, continuarem controlando.
Aqueles que questionam e que apontam o problema, que criticam, que incomodam, que perguntam, que não permitem que suas mentes sejam alienadas, que não calam a boca com um bônus do governo depositado na conta em ano de eleição, e que acima de tudo conhecem todos – efetivamente todos – os seus direitos, estes serão atingidos, criminalizados, silenciados em um País no qual se afirma haver liberdade de expressão, serão demitidos, violentados, agredidos de diferentes maneiras, mas dignificados não pelo que ganham, muito menos pelo que deixam de ganhar, mas pelo sorriso de gratidão estampado no rosto de alguns dos seus alunos e nas falas sinceras destes, que dizem: Obrigado! 
Obrigado, não pelas notas que você me deu, ou por ter me passado de ano. Mas, obrigado por ter sido meu professor e pela influência positiva que você exerceu em minha vida! E quando você ouve isso, dinheiro algum do mundo é capaz de reproduzir em números ou em conquistas materiais o tamanho da emoção que se apropria de você. 

Feliz por ser hoje o que sempre sonhei no passado, 
Jefferson



Meu novo livro

Amigas e Amigos:

Esta é a capa do meu segundo livro que será publicado pela Fonte Editorial. A Editora ainda não definiu a data, o horário e o local do coquetel de Lançamento. Mas, assim que tiver, irei divulgá-los.

Espero que possamos estar juntos nesta noite que será muito especial para mim, da mesma forma que foi na primeira, cinco anos atrás.

Um grande abraço!

Jefferson