sábado, 28 de dezembro de 2013

Reflexão (87) - As bem diferentes "erudições" de Jorge Mario Bergoglio e Joseph Aloisius Ratzinger


por Jefferson Ramalho

"Fale de amor, se for preciso use palavras." - São Francisco de Assis

Bergoglio critica Ratzinger não com palavras, mas adotando uma postura totalmente diferenciada. Logo, não é preciso dizer nada. Aliás, a gentileza, a educação, a forma polida de ser e agir anulam qualquer necessidade de Bergoglio ser áspero com quem quer que seja. Não que ele não possa vir a sê-lo um dia. Mas, a questão aqui é entre ele e seu predecessor. A propósito, as falas e os atos de Bergoglio são suficientes para explicitar a crítica e a denúncia direta que faz ao modelo episcopal que Ratzinger e tantos outros bispos e papas adotaram ao longo da história. Não é preciso dizer nada!


Ratzinger (o Bento XVI) é, para aqueles que conhecem um pouco de sua trajetória, conhecido por duas características fundamentais. Dono de uma mente brilhante, não há como negar que tenha sido um dos intelectuais católicos mais eruditos de seu tempo. Por outro lado, Ratzinger também é conhecido por muitos como sendo o grande inquisidor, aquele que fez o “serviço sujo” no pontificado de João Paulo II. Não foram poucos que tiveram de se apresentar ao Vaticano para prestar contas de suas “heresias” diante dele que era o cardeal responsável pela Congregação para Doutrina da Fé.


Bergoglio, poucos conheciam até aquele fim de tarde (já noite em Roma) de quarta-feira em que foi apresentado ao mundo como novo Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Um padre das periferias, sim! Não apenas das periferias de Buenos Aires, mas, sobretudo, da periferia do Planeta. Como ele próprio disse: “foram me buscar no fim do Mundo”.


Abrindo parênteses, este é o século XXI, para quem ainda não tinha percebido. Um século em que um negro se torna presidente dos Estados Unidos da América, em que um operário metalúrgico e depois uma mulher se tornam presidentes do Brasil, em que o Corinthians (time que mais odeio, mas um time do povo – como negar isso?) se torna Campeão da Copa Libertadores. Logo, o que faltava? Faltava um Papa não europeu; melhor, um Papa Latino-Americano. Perfeito!

Fazendo justiça com o nome que escolheu, Bergoglio – agora, Francisco – deixou claro o seu perfil quando esteve entre nós na Jornada Mundial da Juventude. Poderia citar aqui as muitas frases que explicitariam seu lado “periferia do mundo”, mas não se faz necessário. Poderia repetir tudo o que já foi dito sobre sua negação aos adornos de ouro, ao carro de luxo, ao aposento papal gigantesco, e às tantas outras e incontáveis ostentações que não foram rejeitadas por seus antecessores. Porém, não é preciso. Todos já estamos convencidos de quem Francisco é.

Aprendi neste ano inesquecível de 2013 – absolutamente contrário ao triste 2012, pelo menos para mim – que ser erudito é ser como uma pedra que é, pouco a pouco, polida. E quando vejo o modo polido com que Francisco se mostra, concluo que sua erudição é muito mais valiosa que a erudição intelectual de Ratzinger. Aliás, quem já teve a oportunidade de ouvir ou ler o testemunho de Leonardo Boff, um dos que teve de se apresentar ao tribunal do santo inquisidor dos anos 1980, percebeu que a intelectualidade polida de Ratzinger, conquanto existisse, esteve sempre à serviço de outros interesses.

O que concluo desse novo momento da igreja católica, em linhas gerais, é que haverá menos condenação e mais inclusão e tolerância, menos exclusivismo e mais diálogo inter-religioso, menos sermões longos e cansativos e mais mensagens de fé e esperança, menos fundamentalismo e mais abertura para uma nova época na história, não só da igreja católica, mas da sociedade mundial como um todo.

Que o apelo sempre sorridente de Francisco, sem muitas palavras e ostentações, mas com todos os gestos de gentileza e simplicidade, possa contagiar o mundo, para que as pessoas se tornem pessoas melhores, independentemente das religiões que seguem, da opção sexual que escolhem, do espaço geográfico que ocupam no planeta e da bandeira política que agitam. Feliz 2014 a todos e a todas! - Jefferson


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Reflexão (86) - No ensejo do nosso dia


por Jefferson Ramalho

Hoje, 15 de outubro, é o dia no qual “comemora-se” a importância dos professores. Sou um deles neste País maravilhoso e, ao mesmo tempo, difícil de nele viver. É maravilhoso por sua diversidade cultural, por sua gente, pelo sorriso estampado no rosto. Mas é difícil porque ainda permite que a desigualdade ocupe mais espaço que a justiça.
Vivo num País no qual o professor tem dia, mas não tem dignidade. Eu gostaria de dizer, após ter estudado por mais de vinte anos, entre escolas públicas e em três faculdades privadas, com publicações em revistas científicas, licenciatura, bacharelado, mestrado, que a minha remuneração de professor na Educação Básica estivesse equiparada à formação acadêmica que construí. Não... não está!
Sei que há incontáveis – sim, incontáveis – razões que impedem que o meu salário seja aquele que eu gostaria. Somos todos vítimas de um sistema econômico que nos escraviza a comprar tudo com tão pouco no bolso; somos vítimas de um sistema político sem vergonha que se disfarça de democracia, fazendo-nos de idiotas todos os dias; somos vítimas de um sistema educacional que optou pelo número de pessoas com diploma na mão e não pela qualidade da formação escolar que elas recebem. Por que?
Porque a maioria precisa estudar em uma escola pública que reza o que o Estado incompetente manda: aluno que não falta às aulas, ainda que tenha notas insatisfatórias em todas as disciplinas, deve ser aprovado. Ele não sabe ler, ele não sabe escrever, ele é vítima da incompetência do Governo do Estado, de todos os Presidentes que o Brasil já teve de Deodoro a Dilma, do Prefeito de sua cidade, dos vereadores e deputados de ontem e de hoje ao ponto de ter que ir à escola para comer merenda porque não tem comida em casa, mas será aprovado. Ele não vai à escola para estudar, ele vai à escola para matar a fome. Em troca disso, sem saber, ele aceita passar de ano sem aprender nada. Ele é a única vítima quando é aprovado sem ter aprendido.
Sempre há exceções; eu nem precisaria dizer isso. Mas, o que predomina é aquilo que não é exceção. É aquilo que é regra, que é comum...
E não pensem que é somente a educação pública que se encontra decadente no Brasil. Não... Infelizmente, não! A educação privada também não anda bem das pernas, com exceção de poucos colégios no País, pensando em termos de proporção, mas que são aqueles em que apenas alguns poucos filhos de classe dominante podem estudar. Por que?
Porque está cheio de donos e donas de escolas pensando na grana que entra e não no ensino de qualidade que sua instituição deveria oferecer. São, à semelhança de muitas escolas públicas, colégios sem estrutura para que o aluno aprenda desfrutando de recursos pedagógicos mais avançados, sem bibliotecas, sem laboratórios equipados, sem projetores, sem material esportivo de qualidade para as aulas de Educação Física, sem segurança, sem professores eventuais, sem um monte de outras coisas. Por que?
Quem quer uma Educação de qualidade, que tenha dinheiro para pagar por ela. Muito dinheiro! Existe argumento mais irresponsável que este?
E o Estado, por excelência, já provou que é irresponsável, as escolas privadas de pequeno e médio porte – salvo exceções – já provaram qual é a sua grande meta ($$$).
Eu teria mais de uma centena de coisas a dizer, mas a revolta, a indisposição, os sentimentos de desesperança me impedem de fazê-lo.
E o lado bom? Só há um lado bom, meus caros: o orgulho de saber que apesar de tudo isso, há alguns poucos alunos e alunas que sabem o que você está fazendo ali. Você está ali, mais do que por qualquer outra razão, por causa deles. Hoje, muitos deles não conseguem mensurar o valor disso; entenderão depois. Não importa, pois sempre foi assim e continuará sendo.
O que não pode continuar é que a Educação do nosso País continue no controle de aproveitadores, de gente interessada no poder e no dinheiro, de gente desinteressada na educação do outro. Quanto mais gente desinformada (mesmo que oficialmente formada) mais fácil será para aqueles que controlam, continuarem controlando.
Aqueles que questionam e que apontam o problema, que criticam, que incomodam, que perguntam, que não permitem que suas mentes sejam alienadas, que não calam a boca com um bônus do governo depositado na conta em ano de eleição, e que acima de tudo conhecem todos – efetivamente todos – os seus direitos, estes serão atingidos, criminalizados, silenciados em um País no qual se afirma haver liberdade de expressão, serão demitidos, violentados, agredidos de diferentes maneiras, mas dignificados não pelo que ganham, muito menos pelo que deixam de ganhar, mas pelo sorriso de gratidão estampado no rosto de alguns dos seus alunos e nas falas sinceras destes, que dizem: Obrigado! 
Obrigado, não pelas notas que você me deu, ou por ter me passado de ano. Mas, obrigado por ter sido meu professor e pela influência positiva que você exerceu em minha vida! E quando você ouve isso, dinheiro algum do mundo é capaz de reproduzir em números ou em conquistas materiais o tamanho da emoção que se apropria de você. 

Feliz por ser hoje o que sempre sonhei no passado, 
Jefferson



Meu novo livro

Amigas e Amigos:

Esta é a capa do meu segundo livro que será publicado pela Fonte Editorial. A Editora ainda não definiu a data, o horário e o local do coquetel de Lançamento. Mas, assim que tiver, irei divulgá-los.

Espero que possamos estar juntos nesta noite que será muito especial para mim, da mesma forma que foi na primeira, cinco anos atrás.

Um grande abraço!

Jefferson


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Viva o Brasil!


por Jefferson Ramalho

Queridos brasileiros, é um absurdo esta manifestação que estão fazendo em São Paulo. Afinal, chega ser ridículo o motivo da reivindicação. Tudo bem que R$ 0,20 multiplicados por milhões de paulistanos DIARIAMENTE possa ser um dinheiro que servirá para atender aos privilégios e mordomias de poucos políticos. 


Mas, convenhamos, eles merecem. Afinal, trabalham tanto, não é mesmo? Só para darmos um exemplo do que eles têm feito pelo nosso Brasil tão desenvolvido, neste sábado será definitivamente inaugurado - embora já tenha sido aberto para o público por duas vezes este ano - o mais novo e moderníssimo HOSPITAL de última geração.

Além da arquitetura espetacular, os equipamentos que existem nele são tão avançados que o tal HOSPITAL poderá atender inclusive aos estrangeiros que aqui estarão este ano e ano que vem. As câmeras de segurança instaladas no interior desde HOSPITAL são de tão alta tecnologia que poderão captar nitidamente e em altíssima resol
ução qualquer movimento ocorrido em qualquer ponto do HOSPITAL. Tudo pela segurança!

É um orgulho mesmo ser governado por uma presidenta, por governadores, por prefeitos e por deputados e vereadores como os nossos. Como se não bastasse, além desse HOSPITAL que será oficialmente inaugurado com, inclusive, transmissão AO VIVO para todo o Brasil e para o MUNDO INTEIRO pelas principais emissoras do nosso país, por cerca de 90 minutos, outros 10 ou 15 HOSPITAIS AVANÇADOS (são tantos, que nem me lembro quantos exatamente) serão inaugurados nos próximos 12 meses.

É um orgulho ser nascido num país que tem uma Dilma como Presidenta, ser morador num Estado que tem um Alckimin como governador e saber que estamos tão bem servidos em matéria de deputados, vereadores e senadores. Pra frente Brasil! Agora, só resta ganhar a Copa que, diga-se de passagem, é uma coisa com a qual nossos governantes não têm se preocupado muito, pois de forma competente eles têm priorizado a saúde, a educação, a segurança e, sobretudo, a dignidade do nosso povo!

envergonhado - jamais por ser brasileiro - mas por ser governado por bandidos,
Jefferson

domingo, 31 de março de 2013

O grito silencioso dos oprimidos


por Jefferson Ramalho

Senhores empregadores que se consideram justos:

Os senhores acreditam que estão pagando um salário justo aos seus empregados e colaboradores, sabendo o quanto eles trabalham?

Respondam a si mesmos: os senhores viveriam bem com os salários que pagam à maior parte de seus funcionários?

Se a resposta é negativa, então concordam que o salário não é justo ou, pelo menos, não é dos melhores!

Assim sendo, os senhores não se envergonham de pagar tais salários?

Os senhores seriam corajosos o suficiente para reduzir seus lucros e faturamentos líquidos para acrescentar tais valores aos salários de seus empregados?

Se não, então são covardes? E qual covardia dos senhores parece-lhes mais difícil de ser superada?

1) a covardia de continuar desfrutando insensivelmente de um lucro excessivo que só existe graças ao trabalho do outro?

2) a covardia de continuar explorando o trabalho do outro, pagando-lhe um salário que está muito longe de chegar próximo à tua mais-valia?

3) ou, finalmente, a covardia de simplesmente demitir aquele trabalhador que, mesmo sendo competente e comprometido como profissional, resolveu reivindicar o mínimo de reconhecimento da parte de seu empregador?

J.R.

terça-feira, 19 de março de 2013

Ontem estive com os amigos Carlos Bregantim, Fernando Oliveira e Marco Nicolini, no Papo na Rede. Gravamos uma conversa muito agradável sobre a transição papal, um pouco sobre o pontificado de Bento XVI e o que representa a eleição do papa Francisco. O programa vai ao ar na próxima quinta-feira, às 16h, no site www.koinoniaonline.net 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Reflexão (85) - Como seria bom se o próximo papa fosse assim...



por Jefferson Ramalho

É muito difícil tratar de uma temática tão complexa como esta. Sim, a renúncia de um papa por ser algo que não ocorria há séculos, trata-se de uma questão complexa. Não pretendo aqui repetir tudo o que os jornais já falaram e ainda irão falar até o dia 28 de fevereiro. Também, não é minha intenção ficar explicando como se escolhe um papa num conclave, coisa que os jornais, revistas e reportagens também estão mostrando e ainda mostrarão em demasia nos próximos dias.

Li todos os artigos aos quais tive acesso, fosse através do facebook ou de alguns portais que tenho o hábito de visitar mesmo antes dessa barulheira toda. Da mesma forma, procurei assistir atentamente vários programas televisivos, entrevistas e documentários sobre o tema corrente.

O que me chamou a atenção, por exemplo, foram falas como as do teólogo brasileiro Leonardo Boff e de outros intelectuais e religiosos ligados à clássica e não extinta – embora muitos ainda insistam em afirmar isso – Teologia da Libertação. Afirmações estas que podem ser resumidas na surpresa que a renúncia de Bento XVI lhes causou, demonstrando humildade e, sobretudo, uma atitude de uma pessoa com mente sensata.

Estes que assim disseram foram os mesmos teólogos que sempre lançaram críticas ao cardeal Ratzinger – mais que ao papa Bento XVI – por sua postura repressiva e intolerante quando foi braço direito do antigo Sumo Pontífice João Paulo II. O atual papa, quando era o cardeal responsável pela Congregação para Doutrina da Fé, uma vez que trabalhava para defender a sã doutrina católica, fora encarregado pela convocação, julgamento, condenação e censura de diversos padres que, como Leonardo Boff, adotaram uma interpretação da fé à luz de referencias teóricos reprovados pela Igreja Católica; por exemplo, o marxismo.

Hoje, às portas da renúncia oficial de um papa e início de um conclave que elegerá um líder que poderá vir a ser a representação de um novo ciclo na história da Igreja Católica, sabemos o quanto não somente a instituição católica e seus fiéis, mas o mundo quase todo precisa de um papa absolutamente diferente de Bento XVI, de Ratzinger, como queiram chamá-lo.

Sim, ele ainda exerce uma influência significativa internacionalmente. Quando um presidente como Barack Obama diz que foi bom trabalhar com Bento XVI, parece ficar claro o quanto a influência de um papa ainda é real no mundo contemporâneo. Poderíamos listar inúmeras formas através das quais esta relação ampla de poderes entre a Igreja e os Estados acontece nos dias atuais. Não é necessário!

Mas, já que esta mútua colaboração política não deixará de existir por muito tempo ainda – não sabemos quanto – que possa ser com a participação de um papa que: não seja tão retrógrado, tão religiosamente medieval, tão comprometido com uma teologia dogmaticamente conservadora, tão defensor de fundamentos e de tradições absolutamente incompatíveis com o nosso século. A sensação que temos com Bento XVI é a de que vivemos quase mil anos antes do nosso tempo – só faltam as fogueiras.

Como seria bom se o novo papa fosse aquele que insistisse na importância de uma parceria da Igreja Católica com instituições, ONGs e até com a própria mídia em campanhas de combate à AIDS, de orientação tanto acerca do planejamento familiar como da educação sexual, conscientizando o mundo sobre o uso da camisinha e dos métodos contraceptivos!

Como seria bom se o novo papa fosse aquele que reconhecesse o valor das mulheres religiosas, ou seja, as freiras, ao ponto de oficializar a estas uma autoridade absolutamente igual à dos homens dentro da hierarquia da Igreja!

Como seria bom se o novo papa entendesse e, mais do que isso, convidasse a Igreja a entender junto com ele que homossexuais são simplesmente seres humanos e, que, por causa disso, como qualquer católico heterossexual, merece também uma vida comum e digna perante a igreja e a sociedade, inclusive tendo o direito de experimentar a felicidade e a emoção de uma cerimônia religiosa ao pé da cruz de Cristo, para oficializar diante de Deus o seu amor e a sua união com a pessoa com a qual quer viver até que a morte (ou o divórcio) os separe!

Como seria bom se o próximo papa derrubasse os muros do fundamentalismo tão protegidos por papas como Bento XVI e, consequentemente, permitisse que os sacerdotes pudessem assim como os leigos, terem o direito de construir uma família, ter filhos e, simultaneamente servir a igreja, porque isso é possível, sim!

Como seria bom que o papa que será eleito nos próximos dias escrevesse pelo menos uma encíclica afirmando que realmente a mulher é dona de seu corpo e, que, por esta razão, pode decidir se terá ou não aquela criança que foi gerada em seu ventre!

Como seria bom se o próximo papa não fizesse vistas-grossas para os inúmeros casos de pedofilia praticados por padres, no mundo todo. Punir, apenas o sacerdote, é pouco. É preciso punir a pessoa. O pedófilo é um criminoso como qualquer outro e deve ser julgado rigorosamente, sem o amparo e a proteção de uma Instituição que diz que não o apoia, mas que na prática lhe oferece todo o amparo. Lamentável!

Como seria bom se a Igreja, a partir do próximo papa, desse as mãos à ciência e à medicina, reconhecendo que pesquisas com células-tronco embrionárias são não somente um avanço, mas, principalmente, um instrumento divino descoberto pelo homem para salvar a vida de inúmeras outras pessoas!

Como seria bom se o próximo papa fosse um agente que promovesse a partilha, a eliminação da miséria em países aonde ainda se morre de fome, de frio ou até de calor, a solidariedade efetiva para com os desfavorecidos e a assistência aos doentes sem cobrar as fortunas que muitas vezes são cobradas em hospitais sob filiação católica, uma vez que sabemos ser o patrimônio da Igreja, graças às doações dos fieis do mundo todo, infinitamente maior que o salário de um médico ou que o preço de uma cara cirurgia ou de um caro exame!

Infelizmente, neste caso, devo ser sincero: não acredito que isso venha acontecer. Às vezes parece que a Igreja na condição de instituição tem seu compromisso firmado não com a humanidade, mas com o seu patrimônio e com o seu edifício de tradições dogmáticas.

Mas, não é caro nem proibido sonhar assim!

na esperança de um mundo melhor,
Jefferson

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sobre a renúncia de Bento XVI

                                                                                 

Amigas e Amigos:
Em breve escreverei sobre o Papa Bento XVI e sua renúncia. Estou acumulando artigos e depoimentos como os do teólogo Leonardo Boff e aguardando novas informações para que, quando escrever, o possa fazê-lo uma única vez; mesmo que isso seja só após o conclave. Até breve!
Abraços aos visitantes e seguidores do blog.
Cordialmente
Jefferson

sábado, 19 de janeiro de 2013

Reflexão (84) - Afinal, ele é Deus ou não é?



por Jefferson Ramalho

Poucos sabem que em 2008 lancei um livro chamado:  “Jesus é Deus? – uma reflexão sobre a divindade de Cristo na História”. Pois bem, esta publicação corresponde ao meu trabalho de graduação interdisciplinar, apresentado e defendido em banca examinadora na Universidade Mackenzie, para obtenção do meu título de bacharel em teologia, cerca de três anos antes.

Hoje, quando apresento o livro a alguém e a pessoa vê que o título é uma pergunta, logo ela me devolve a mesma pergunta. Sinceramente, sinto vontade de dizer: leia, por favor, e saberá. Mas, opto por responder de diferentes maneiras, considerando sempre quem está perguntando.

Mas, o mais comum e correto, em minha opinião, é dar a seguinte resposta: Depende! Se a pessoa perguntar “por que?”, eu responderei: Simples, você quer que eu diga se Jesus é Deus a partir de qual perspectiva? Posso lhe responder como historiador, como cientista da religião, como teólogo e como religioso. O que prefere?

Sim, porque sou um pouco das quatro coisas. Estou tentando ser historiador, pois não passo de um licenciado em História que almeja o doutorado na mesma área; recentemente consegui me tornar mestre em Ciências da Religião; sou teólogo de formação, mesmo porque o tal livro foi resultado de uma pesquisa teológica e, finalmente, embora sem frequentar qualquer culto religioso há pelo menos dois anos, ainda me considero um religioso, pois mantenho em mim uma certa e bastante agnóstica espiritualidade que muito despretensiosamente costumo chamar de fé.

Se for para eu responder como historiador, direi: Não, Jesus não é Deus! Trabalho com a hipótese de que houve uma personagem histórica chamada Jesus de Nazaré, que com o passar dos primeiros séculos da nossa era, aos poucos, foi sendo divinizado pelos que se identificavam como seus seguidores. E esse processo de divinização foi consequência de uma série de interesses: religiosos, políticos, sociais e econômicos. Portanto, como historiador, tenho certeza de que Jesus não foi Deus, mas um simples líder de um pequeno grupo dentro do judaísmo que, com o tempo, ganhou forma, cresceu e se tornou numa das principais religiões mundiais, sem que ele (Jesus), inclusive, tivesse pretendido isso quando reuniu seus primeiros companheiros.

Como cientista da religião, mesmo que em diálogo com a história e com a teologia, direi: não importa! Isso mesmo, não importa se ele era ou não Deus. O que importam são os efeitos que a sua história tenha causado entre aqueles que optaram por segui-lo, independentemente do momento, do lugar e sob que formato. O que importam são os modos como alguns pensamentos lhe foram atribuídos e, mais do que isso, aceitos e rejeitados ao longo do tempo. O que importam são os modos como suas ideias e história terrena tenham sido reproduzidas em formas de texto, imagem, pintura, escultura, música e rito. Logo, veremos que estas reproduções, ora lhe apresentarão como humano, ora como divino, ora como humano e divino, enfim, importam estas formas, sem que haja de minha parte o compromisso de afirmar que ele foi Deus ou não só porque a arte, a letra, o pincel,... assim o mostraram.

Se me perguntam se Jesus é Deus esperando uma resposta teológica, responderei: depende de qual corrente teológica eu sigo. Se eu for ortodoxo dogmaticamente falando, responderei sem titubear que ele é Deus e sempre será, literalmente. Se, porém, eu for um teólogo heterodoxo, direi, por exemplo, que sua divindade é muito mais uma metáfora como afirma John Hick ou um símbolo do divino como diz Roger Haight, mas, jamais, uma divindade no sentido literal e completo conforme afirmaram teólogos clássicos como Santo Agostinho, Santo Atanásio, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino e Karl Barth.

Finalmente, se esperarem de mim uma resposta de um religioso, direi: não sei, pois como agnóstico, não conheço os mistérios daquilo que está além da nossa realidade. Prefiro dizer que não sei por uma razão simples. Se eu disser que tenho certeza de sua divindade, estarei mentindo, pois alguns anos de estudo sobre o longo processo que levou à convicção dogmática da divindade de Jesus foram suficientes para fincar um gigantesco ponto de interrogação em minha mente, e isso, mesmo eu sendo alguém que ainda crê em alguns absurdos da fé, não posso desconsiderar. Sou daqueles que entendem a dúvida não como algo prejudicial à fé, mas contribuinte, pois me livra de voltar a acreditar em invenções de líderes religiosos desonestos.

Contudo, mesmo com essa dose forte de agnosticismo que tomou conta de mim de algum tempo para cá, não consigo abrir mão daquilo que sei e vivi, enquanto ser humano – e isso vem antes da academia, da filosofia, da ciência, da razão, da dúvida – que foi um encontro genuíno com a Graça Absoluta de Deus, por meio da compreensão que pude ter da singularidade que representa e significa o sacrifício de Jesus, e este, neste caso, não somente como Jesus, mas como Jesus e como Cristo. Cristo é a palavra grega que traduz o hebraico Messias. Em outras palavras: o ungido, o escolhido e, na perspectiva cristã, mais que tudo isso, o Deus Encarnado.

Eu prefiro continuar crendo, duvidando e, convicto, de que independentemente da resposta correta para a pergunta que serve de título ao meu livreto, Jesus deixou um exemplo e um ensino de amor e solidariedade que valem muito mais que qualquer dogma construído teologicamente acerca de sua pessoa, sobretudo, quando tal exemplo e tais ensinos são colocados em prática por mim, que quase sempre não passo de um imprestável ser humano.

na Graça, mas sempre com dúvidas; 
Jefferson