sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Reflexão (9) - Quatro vozes que me abençoam


por Jefferson Ramalho

Nos últimos dois anos Deus tem tratado minha alma de uma maneira muito peculiar. As necessidades da alma me fizeram perceber a cada dia o quanto sou dependente do Seu amor, do Seu cuidado e da Sua Graça. A teologia tinha me ensinado isso apenas na teoria, mas na prática, aprendi sentindo na pele.

Quando eu estava iniciando na caminhada cristã, me fizeram acreditar que Deus fala de forma audível, diretamente conosco, conforme registrado em algumas passagens bíblicas. Em minha inocência, acreditei que assim seria.

O tempo foi passando e nada de Deus falar, embora muitas vezes eu pregava e enchia a boca arrogantemente para dizer que Ele estava falando comigo. Com isso eu não fazia nada além de misturar presunção com ingenuidade, e o que é pior, manipulava pessoas fazendo-as acreditar que eu tinha uma intimidade com Deus que eles não tinham.

Disseram-me também que Deus nos fala através de outras pessoas. Também acreditei, mas tudo o que Ele supostamente me falou através de outros não foi nada tão surpreendente para ser atribuído a Ele. Com o decorrer dos anos fui percebendo que Deus não fala conosco de modo esquisito. Deus não é esquisito.

Leituras de passagens bíblicas, muitas vezes, conseguem vir em nossa direção com mensagens que parecem ser do próprio Senhor. Algumas vezes isso também acontece por meio de pregações, mas não na maioria das vezes, pois grande parte delas atualmente, consegue ser a antítese da mensagem cristã. Tudo, menos Palavra de Deus.

Nos últimos dois anos Deus tem sido generoso comigo e tem me falado não diretamente nem indiretamente, mas colocando pessoas no meu caminho e me edificando através de suas vozes e de suas palavras. São em especial quatro irmãos que não têm nenhuma auréola, mas têm Graça de Deus naquilo que falam.

O primeiro deles é meu irmão, pastor, mestre e acima de tudo, amigo, Ricardo Bitun. Nos conhecemos no início de 2000. Ele foi o principal responsável por muitas decisões, rompimentos, reflexões e principalmente conversões que aconteceram na minha vida: no meu coração e na minha alma.

Sua voz calma, seu olhar penetrante, seu temor a Deus nunca vistos por mim em qualquer outro ser humano e sua atenção a todos os meus momentos de aflição me fizeram ver nele alguém com quem eu pudesse contar. Deus está naquele homem. Não sem defeitos, mas com muitas qualidades. Até hoje desfruto de sua amizade e espero poder contar com ela por toda minha vida. Não caminhamos juntos como igreja, mas somos um, como Igreja. Sempre que quero saber como é andar com o Senhor e ouvir Sua voz, procuro este irmão. Ele anda com Jesus.

O segundo amigo é o Carlos Bregantim. Um homem que não precisou subir no pedestal pastoral para me estender a mão quando dele precisei. Na primeira conversa que tivemos pude ver quem ele era e quem ele é. Suas pregações, sem compromissos com rigor acadêmico e teológico embora ele tenha conhecimento suficiente para isso, têm sido o meu alimento espiritual todos os domingos pela manhã.

Um irmão, mais que pastor, que ao ouvir minha aflição, não viu outra maneira de me acolher a não ser compartilhando a sua própria experiência. Algo que pastores, bispos e apóstolos certamente não fariam, a menos que fossem experiências de triunfalismos. Quando as experiências são “evangelicamente escandalosas”, elas não servem de exemplo. Mas com este amigo não foi assim. Desde quando conversamos naquela tarde no Café Girondino, meu coração nunca mais foi o mesmo. Deus falou por ele, sem fantasias, mas como homem.

Outro irmão com o qual tenho tido poucos encontros, mas o suficiente para querer sempre estar perto é o Sergio Fortes. Sua voz extremamente grave consegue ser ao mesmo tempo extremamente doce, carinhosa e agraciada por Deus, sobretudo, pelas palavras que pronuncia. Seu abraço de irmão e amigo consegue agasalhar não somente o corpo, mas principalmente a alma de quem ele abraça. Suas reflexões são simples e singelas, mas são Palavra de Deus na medida que vão se construindo durante uma conversa sempre e em qualquer lugar que nos encontramos.

Não há quem o conheça de fato, que não se sinta atraído por sua maneira mansa e doce de expressar a verdadeira espiritualidade de um cristão que ama Jesus sobre todas as coisas, e não tem outra postura a não ser a de silenciar-se diante da Sua Grandeza.

A
quarta voz que tem me abençoado é a de um irmão com o qual não tive ainda o privilégio de estar mais próximo. Nos vimos apenas uma vez. Contudo, sua voz, sua poesia, sua música e suas canções têm me enchido o coração de alegria todos os dias. Stênio Marcius é o seu nome. Cada uma de suas músicas tem produzido um significado novo no meu coração acerca das passagens bíblicas ou das situações que ele simplesmente inventa e transforma em melodia como ninguém.

Os louvores a Deus na voz e na composição do Stênio não são extravagantes, explosivos, circenses ou superproduzidos. São apenas louvores. Músicas com toques poéticos, com vocabulário não rebuscado mas amplo, sem adornos mas ao mesmo tempo impressionantes. Simples. Como C. S. Lewis certamente diria: cristianismo puro e simples, só que em forma de canção. O suficiente para tocar o coração e evidenciar ainda mais a Graça de Deus existente na alma e no coração do compositor. Obrigado, Stênio.

São essas as vozes de Deus que têm falado à minha alma. Sem espetáculo, sem espiritualizações bestializadas, sem circo, sem línguas inexistentes, sem esquisitice. Apenas simples e suficientes. Obrigado Senhor, por generosamente falar comigo dessa maneira.

na Graça,

Jefferson




quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Café Acadêmico de Dezembro - último do ano

Café Acadêmico de Dezembro - último do ano

8/12 - 9h

com prof. Marcos David Muhlpointner

O diálogo entre Religião e Ciência sobre Bioética e Criação x Evolução
Biólogo pela Universidade Mackenzie de São Paulo.
Colunista dos portais Provoice e Vida Acadêmica.


Local: Auditório da Editora Vida
Rua Julio de Castilhos, 280 - Belenzinho - São Paulo (SP)

Inscrição:
R$ 10,00
(11) 6618 7045 (c/ Jefferson) ou pelo e-mail
jefferson.ramalho@editoravida.com.br

Inclui:
Material didático
Certificado de participação
Coffee break
30% de desconto em qualquer obra acadêmica da Editora Vida

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Reflexão (8) - O fariseu e o publicano


por Jefferson Ramalho

Para que compreendamos juntos o objetivo desta reflexão é ideal que antes seja feita uma leitura atenta de Lucas 18.9-14.

Não podendo fazer a leitura bíblica agora, não siga em frente. Deixe para mais tarde.

... (leitura bíblica)

Reflexão sobre o texto:

O contexto fala de duas realidades absolutamente distintas.

O fariseu é a representação da santidade, mas ao mesmo tempo da arrogância, do sentimento de confiança em justiças próprias, da presunção, da jactância e de tudo que caracteriza o desejo perverso e pervertido de estar em destaque em relação aos outros.

O publicano é a representação do ser mais podre e perverso que possa existir na sociedade. No entanto, seu comportamento diante de Deus é o único correto que pode haver. A humildade, a sensibilidade e a capacidade de se perceber tomam conta de sua existência e ele faz tudo o que precisava fazer, dizendo a única coisa que poderia ser dita: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!"

Como tem sido nossa postura diante do PAI? Quando acertamos, continuamos humildes e reconhecedores de nossa incapacidade ou somos revestidos pela armadura da arrogância, cobrando coisas de Deus e acusando o nosso irmão?

Ou somos humildes apenas quando erramos e percebemos o quanto precisamos da misericórdia tanto de Deus quanto do mundo inteiro?

Que os sentimentos de santidade, de pureza e de justiça não se apoderem de nossas almas, mas que busquemos tais coisas estando ao mesmo tempo certos de que jamais as alcançaremos plenamente enquanto estivermos vivos na Terra.

Que não sejamos mais acusadores - satanázes - do outro e sim capazes de nos percerbermos enquanto seres pecadores, perversos e carentes todos os dias da GRAÇA ABSOLUTA DE DEUS EM CRISTO JESUS.

Não há outro caminho para alcançar a perfeição a não ser através do reconhecimento das próprias imperfeições.

Que haja Paz em sua vida!

na Graça,

Jefferson


terça-feira, 27 de novembro de 2007

Vídeo (1) - É proibido pensar

Não deixe de assistir este vídeo. Embora o João Alexandre tenha feito a música e um internauta que talvez nem ele - o João - conheça tenha adaptado as imagens, jamais pude ver tamanha harmonia antes.

Reflexão (7) - O texto em si é apenas texto

por Jefferson Ramalho

Amados,

Eu estava pensando no significado que muitos têm dado à expressão humana, às imagens, aos textos, às formas... A maioria consegue fazer exatamente aquilo que Paulo disse que não deveria ser feito... "cultuar a criatura no lugar do Criador".

Quando a igreja católica romana começou a valorizar os escultores, e, suas imagens "entraram" nos templos, o objetivo era simples... mostrar a santidade em forma de imagens para aqueles que não sabiam ler. Contudo, com o tempo, elas ganharam outro significado.

Quando um homem ama uma mulher, mas não a tem, ele se contenta por um tempo em contemplar seu lindo "objeto" de amor por meio de uma fotografia, mas com o tempo ele enjoa da foto, afinal, não é a foto que ele ama, mas quem está na foto. A pessoa.

O texto bíblico, para muitos, virou objeto de idolatria. Muitos se tornaram bibliólatras, e não conseguem aceitar que o que está no texto é apenas uma "construção humana" acerca do Sagrado, onde consta a perfeita mensagem de Deus. Mas o texto não é Deus. De tal modo, que Paulo nos diz em 1Co13 que um dia veremos a Deus face a face, e aí perceberemos como Deus de fato é.

O texto, insisto, não é Deus. É criação também e apenas. Sua peculiaridade está somente em ser o único conjunto de livros que melhor falou sobre Deus em toda a história. Serve-nos como nenhum outro livro, de guia, de manual, de cardápio. Mas o Caminho que este guia nos leva, O Que devemos cultuar conforme o manual orienta e o Alimento que devemos comer conforme o cardápio oferece, Estes sim, são Deus.

O texto é como a fotografia da mulher ou do homem distante. É como as imagens que se tornaram ídolos, quando passaram a ser mais adorados que o próprio Deus. Só que palavras, fotos, imagens... não bastam. É preciso conhecer AQUELE que é o CAMINHO, que é a VERDADE e que é a VIDA, conforme o texto apenas e suficientemente registra. Esta foi a função do texto, apenas.

na Graça,

Jefferson

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Reflexão (6) - A escuridão me basta

Meus amigos e irmãos,

A oração abaixo foi extraída dos textos de Thomas Merton (1915-1968), monge trapista norte-americano. Um dos grandes mestres contemporâneos da espiritualidade cristã.

Eu diria que esta é a típica oração de alguém que realmente consegue perceber a sua própria insignificância diante da Graça misteriosa do Altíssimo.

título: Tu não és como o tenho imaginado

Senhor, é quase meia-noite e estou Te esperando na escuridão e no grande silêncio.

Lamento todos os meus pecados.

Não me deixe pedir mais do que ficar sentado na escuridão, sem acender alguma luz por conta própria, nem me abarrotar com os próprios pensamentos para preencher o vazio da noite na qual espero por Ti.

Deixa-me virar nada para a luz pálida e fraca dos sentidos, a fim de permanecer na doce escuridão da Fé pura.

Quanto ao mundo, deixa-me tornar-me para ele totalmente obscuro para sempre. Que eu possa, deste modo, por esta escuridão, chegar enfim à Tua claridade.

Que eu possa, depois de ter me tornado insignificante para o mundo, estender-me em direção aos sentidos infinitos, contidos em Tua paz e Tua glória.

Tua claridade é minha escuridão. Eu não conheço nada de Ti e por mim mesmo nem posso imaginar como fazer para Te conhecer.

Se eu te imaginar, estarei errado.

Se Te compreender, estarei enganado.

Se ficar consciente e certo que Te conheço, serei louco.

A escuridão me basta.

(Thomas Merton) - extraído do site do compositor e intérprete cristão, Jorge Camargo.

Aí vai o link:

http://www.jorgecamargo.com.br/podcasts.php

Abração a todos.

na Graça,

Jefferson

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Reflexão (5) - A minha Graça te basta


A minha Graça te basta.
(II Coríntios 12.1-10).

por Jefferson Ramalho

Foi esta a resposta de Deus a Paulo. Este pedira três vezes ao SENHOR para que lhe retirasse o espinho que lhe incomodava na própria “carne”.

Há controvérsias no que se refere a definir que espinho era aquele. Alguns afirmam: era uma enfermidade como cegueira, talvez. Outros insistem: Eram as perseguições que os judeus praticavam contra seu ministério. Também há quem defenda: o espinho na carne de Paulo era uma tentação ao pecado que mais o atormentava na alma.

O fato é que não interessa qual era o espinho de Paulo. Isto não muda o teor da mensagem presente em todo o contexto da situação. A questão é: ele tinha um tormento posto espiritualmente em sua existência, que acima de tudo lhe fora acometido para que o orgulho não prevalecesse em sua mente e a arrogância não tomasse conta de seu coração.

É importante saber que para perceber a GRAÇA de Deus, é necessário conhecer as principais-próprias fraquezas. Sempre foi assim. Quando o SENHOR responde: “a minha GRAÇA te basta, pois o MEU poder vai sempre se aperfeiçoar em sua fraqueza”, ELE está simplesmente dizendo: muitas vezes é preciso você sentir na própria pele o quanto é frágil, para jamais se esquecer do quanto é dependente de MIM.

Assim é conosco. Não peçamos mais ao SENHOR para que nossos “espinhos” sejam arrancados. Antes, peçamos a ELE: Pai, se possível, afasta de mim este cálice/espinho, todavia, não seja como eu quero, mas como TU queres, pois a SUA vontade, por mais que doa em minha frágil humanidade, sempre será boa, perfeita e agradável, isto é, sempre será o que o SENHOR tem de melhor para mim. Assim é o SENHOR. Todo MISTÉRIO, Imperceptível, Enigmático, não teologizável, Absconditus, Escondido, Totalmente Outro, Soberano e Indefinível.

É ELE quem diz: TODAS AS COISAS (até aquelas que mais nos afligem) COOPERAM PARA O BEM (ainda que para nossas limitadas mentes, pareçam ruins), DAQUELES QUE AMAM A DEUS.

Um final de semana de Graça e na Graça,

Jefferson

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Reflexão (4) - Autopercepção


Não despreze um homem que, para compreender realmente o que não compreende, compreende que não compreende.

(Santo Agostinho)

por Jefferson Ramalho

Há uma conexão clara entre os pensamentos de Santo Agostinho, Paulo o Apóstolo, Sócrates, Martinho Lutero, João Calvino e tantos outros personagens da história, sobretudo, aqueles que fazem parte da galeria de pensadores cristãos.

Em todos estes, a maior de todas as “virtudes filosóficas” é a de deixar explícita em suas palavras a convicção acerca de si mesmos. A maior característica que um ser humano pode ter é a autopercepção. Jesus ensinou isso em todo tempo. Quando Ele diz “sem mim nada podeis fazer”, o que de fato Ele quer dizer é que nenhum homem é capaz de com suas próprias forças conseguir qualquer coisa sem a ação misteriosa dAquele que é MISTÉRIO em SI mesmo.

Sócrates dizia: “só sei que nada sei”, ou seja, quando alguém chega a esta conclusão, cai toda presunção, arrogância e confiança em justiças próprias, e o que toma o lugar destas coisas descaracterizáveis é a humildade e a dependência total e exclusiva do ALTÍSSIMO.

Quando Santo Agostinho afirma que a compreensão só vem quando se compreende acerca da própria incapacidade de se compreender qualquer coisa, ele está claramente conectado às falas de Sócrates, Jesus, Paulo e de outros tantos que viveriam depois como Martinho Lutero, João Calvino e Karl Barth.

Ter a certeza de que não se pode compreender nada, nem mesmo dominar totalmente qualquer ciência, teologia ou outra vertente do saber humano, é a maior virtude que um homem pode ter. Isto quer dizer que a maior virtude está em reconhecer que não se tem virtude.

Paulo o Apóstolo já dissera: “em mim não há bem algum...”. Isto também está claro nas experiências de muitas pessoas que viveram nos tempos do Primeiro Testamento. Isaías quando vê a GLÓRIA de DEUS, não pula, não grita, não chora, não tem nenhuma “explosão de louvor” como muitos dizem nos dias de hoje. Ele simplesmente se percebe e diz: “ai de mim”, ou seja, ele reconhece a sua própria imperfeição, pois a primeira coisa que acontece com alguém que se vê diante da PRESENÇA Daquele que É, é enxergar as próprias imperfeições e deficiências morais. Digo morais, não como diria um moralista.

Portanto, quero deixar esta reflexão com os amados, a fim de que busquemos todos os dias de nossas vidas esta urgente e única virtude que um cristão deve ter. Aquela que faz o ser humano se perceber, se enxergar e se definir. Quando isso ocorre, começamos a deixar de julgar o próximo, reconhecemos nossa pequenez diante do PAI e entregamos a melhor expressão de louvor que alguém pode oferecer a Deus: o silêncio.

na Graça,

Jefferson

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Reflexão (3) - Muito mais que palavras


No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor, mas vocês não quiseram.
(O Senhor - cf. Is 30.15 - NVI)

por Jefferson Ramalho

Philip Yancey é, sem dúvida, um dos principais escritores sobre a espiritualidade cristã dos últimos anos. Jornalista, Yancey consegue transformar em palavras as experiências mais conflitantes que um ser humano pode experimentar.

Contudo, um de seus últimos livros de maneira proposital recebeu o título "Muito mais que palavras". Nesta obra, Yancey compila textos de escritores cristãos, onde a influência de grandes mestres da literatura é mais que evidente. Na verdade, esta é a proposta da obra.

Henri Nouwen, Dostoievski, Kierkegaard e Shakespeare são apenas quatro dos vários mestres apresentados nesta obra, como grandes influenciadores da vida e pensamento dos autores de cada capítulo. Yancey, especialmente, escreveu sobre a influência que recebera de John Donne.

Semelhantemente tenho experimentado a importância que há em viver a vida cristã além do discurso, das palavras, da retórica. Tenho conseguido experimentar esta importância, sobretudo, porque a cada dia percebo o quanto estou longe de viver uma vida cristã conforme o Evangelho nos convida.

Quando leio Henri Nouwen, Anselm Grün, Brennan Manning, Tomas Merton, Santa Tereza d'Ávila, São João da Cruz, C.S. Lewis, Santo Agostinho e principalmente os textos dos Padres do Deserto, fico ainda mais constrangido diante de Deus, pois percebo o quanto estou distante de sua Condição Santa.

Resta-me silenciar-me diante de SUA INDEFINIBILIDADE e apenas sussurrar: Pai, perdoa-me por eu ser como sou e me ajuda a “viver" e não apenas "saber como devo viver". Como dizia São Francisco de Assis: "pregue o Evangelho, se for preciso, use palavras".

A autêntica pregação do Evangelho é essa que não se resume em dizer como fazer, mas que faz. É a que assiste o aflito, visando sua real libertação. E libertação, conforme diz Leonardo Boff, é a ação de libertar. Falar, pregar, escrever, pensar e ensinar sobre libertação, em certo sentido, é bastante simples. O difícil é ser um agente ou veículo de libertação.

Como ser este veículo? Vivendo todos os dias o "amor" revelado nas Escrituras. Como reconheço que ainda estou muito distante de viver este amor, me sinto constrangido diante dELE, que é o próprio Amor em Pessoa. Que ao menos este ato de simplesmente reconhecer a própria incapacidade de amar conforme o Evangelho, já seja um primeiro passo.

na Graça,

Jefferson

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Reflexão (2) - Caminhos de desgraça


Há caminhos que ao homem parecem corretos, mas o fim deles são caminhos de morte
. (Salomão)

por Jefferson Ramalho

Todo ser humano vive experiências de fracasso. Sejam profissionais, ministeriais, sentimentais ou familiares. Tudo isso por uma razão simples. Todos nós tomamos decisões erradas na vida. Escolhemos estudar alguma profissão que não gostamos porque desde cedo somos “forçados” por nossos pais a fazer isso, ou decidimos trabalhar em uma atividade que detestamos, mas que supostamente nos proporcionaria um bom retorno financeiro, resolvemos nos casar com a pessoa errada muitas vezes impulsionados por uma paixão cega e repleta de ansiedade ou até mesmo desanimamos de nossa caminhada com Cristo só porque ao nos convertermos ao Evangelho, nos entregamos de tal modo ao trabalho eclesiástico até "descobrirmos" que não foi para aquele ministério que Deus nos chamou.

Acredito que Deus tem um propósito em tudo que acontece em nossas vidas. Até nas decisões erradas que tomamos. Ele sempre tem algo a nos ensinar, nem que seja para nos fazer enxergar com maior precisão uma frase como esta que Solomão escrevera milênios atrás: "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são caminhos de morte". De que morte Salomão está falando? Contextualizando, podemos identificar esta morte como sendo a conseqüência de tudo o que resolvemos fazer na vida, quando sabemos que aquela não é uma decisão racionalmente correta.

Não quero com isso anular o lado emocional que habita a alma humana. Todos os homens e mulheres têm emoções e estas devem ser exploradas. Mas a razão serve exatamente para isso. Para proporcionar a moderação necessária em todo sentimento humano. Se eu optar por uma profissão que não me agrada, certamente cedo ou tarde morrerei profissionalmente. E aquilo que sempre sonhei "ser quando crescer" nada mais será que uma frustração de quem não conseguiu atingir seu sonho profissional. Se eu faço opção por uma pessoa que não amo verdadeiramente ainda que seja a melhor esposa ou esposo que eu pudesse ter na vida, em algum momento lá na frente direi ao menos para mim mesmo: não valeu a pena. O tempo passou, meus cabelos estão brancos e agora é tarde.

Se logo que eu me converto ao Evangelho, me mergulho de cabeça nas atividades da igreja sem pedir nenhuma direção a Deus acerca disso, poderei em algum momento da vida perceber que eu jamais deveria ter feito aquilo. Descubro que resolvi fazer tantas coisas, e no fundo Deus só queria que eu fizesse apenas uma.

Todas estas decisões erradas têm o poder de nos conduzir à morte. Morte na vida profissional, no casamento, na família, nos estudos ou na igreja. Portanto, pense sempre antes de decidir impulsivamente. Olhe lá na frente. Pergunte para si próprio: serei feliz trabalhando com isso? Quero viver com este homem / mulher minha vida inteira? Foi isso mesmo que o SENHOR me chamou para fazer enquanto mensageiro do SEU Evangelho?

Talvez ainda haja tempo para que lá na frente você não tenha que perceber que o que aos seus olhos parecia direito, teve um fim de morte e destruição. Caso você já esteja vivendo as conseqüências de uma opção errada, tente sair dela para não matar outros com você. Fazendo assim, "salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (Paulo). Talvez ainda haja tempo para encontrar a verdadeira felicidade e com isso evitar a morte de sua alma.

na Graça,

Jefferson

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Reflexão (1) - Segurança e inconformismo - paradoxo necessário


O que eu faço, não o sabes agora; compreenderás depois
.
(Jesus - em João 13.7)

por Jefferson Ramalho

Amados,

A tônica da mensagem evangélica hoje tem sido o inconformismo. As pessoas são estimuladas a não aceitarem o simples fato de serem "gente", "seres humanos". E "gente" passa por problemas, dificuldades, enfermidades. Todos os seres humanos, pelo simples fato de serem o que são, estão sujeitas a toda "sorte" de problemas que possam existir. Com aqueles que são cristãos não é diferente.

Ninguém está isento de ser atingido por um câncer, de ficar desempregado durante meses ou mesmo anos, de passar por necessidades, de sofrer desilusões sentimentais etc. Portanto, não há diferença nesse sentido entre os que são e os que não são cristãos. A diferença, porém, é única e suficiente. O cristão autêntico tem a certeza de que o Altíssimo está no controle de todas as coisas.

Quando Jesus respondeu a Pedro: “o que eu faço, não o sabes agora; compreenderás depois”, o que Ele estava dizendo tem tudo a ver com essa convicção que o cristão deve alimentar dentro da sua alma. Não significa também que devamos ficar acomodados, de tal modo que não façamos absolutamente nada para combater as aflições da vida.

O Senhor, conquanto esteja no controle de todas as coisas, não nos desautoriza reagir contra as adversidades da vida. Devemos estar convictos de que Ele é nosso "Motor que tudo move" - para plagiar Aristóteles - mas também devemos buscar a genuína libertação de coisas que afligem nossa fragilidade humana.

A miséria, por exemplo, incompreensível e paradoxalmente não foge do controle do Senhor e ao mesmo tempo não pode ser aceita como um inimigo social que não deve ser combatido. Mas o segredo está em como deve se dar este combate à miséria, à fome, à prostituição, à aflição da alma, às enfermidades, à corrupção política, à violência urbana, à violência doméstica, ao desemprego e a tantos infindos problemas sociais.

As Escrituras, tanto no primeiro quanto no segundo Testamentos nos orientam acerca disso. O combate ao consumismo, a necessidade do desprendimento de bens fúteis, a não aceitação da exploração da fé exercida por pastores das mega-igrejas e mega-comunidades evangélicas que têm nestes últimos anos ensinado seus fiéis a cultuarem, servirem e buscarem um deus chamado Riquezas, mas que vem rotulado e disfarçado com os Nomes de Deus e de Jesus. Transformaram as Escrituras em um manual de prosperidade financeira, convertendo errada e escandalosamente determinadas passagens bíblicas que não têm nenhuma relação com o dinheiro, em um método de busca de riquezas financeiras e materiais cada vez maiores. Isso não é Evangelho. É qualquer outra coisa, menos Evangelho.

Que sejamos, com a Graça de Deus, simplesmente humanos, e que identificam o controlar de Deus em tudo, afinal Ele não deixou de ser o Senhor Soberano. Que sejamos humanos que descansam no chão da Graça do Senhor, mas que também não se conformam com as injustiças sociais, desigualdades, misérias, violências, corrupções, explorações religiosas em nome de Deus e toda sorte de “abuso cristão” que tem sido praticado no Brasil.

na Graça,

Jefferson