quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Leia comigo (8) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno


Caros amigos,


Na semana passada, não postei a continuação da leitura que estamos fazendo da obra do prof. Alessandro Rocha. Vamos retomar de onde paramos.

Abaixo, seguem os fragmentos que selecionei da página 42 à 69, onde termina o primeiro capítulo.

Boa leitura!

"Após ter evidenciado o caminho da metafísica na filosofia grega clássica e sua contribuição para a afirmação de uma teoria do conhecimento sustentadora de univocidade, só alcançável na dimensão da essência e nunca na multiplicidade da existência concreta, interessa neste momento a tarefa de evidenciar a similaridade do caminho trilhado pela teologia cristã comparado ao grego." (p. 42).

"Em suma, para ser relevante e verdadeiro, o discurso teológico deve fundamentar-se na essência ou na existência? Se na essência, a linguagem deve ser literal, capaz de identificar o discurso com a realidade, produzindo a univocidade da verdade. Se na existência, a linguagem será metafórica, compreendendo a teologia como ciência hermenêutica aberta à equivocidade e, por assim dizer, ao caráter provisório de seu discurso." (p. 47).

"A univocização do discurso teológico tem sua gênese: não é de forma alguma ontológica. As primeiras gerações cristãs não a conheciam, como fica evidenciado na linguagem utilizada na época. Desde o uso da metáfora poética nas parábolas neotestamentárias, da linguagem equívoca das cartas paulinas, da escatologia e do gênero apocalíptico até os escritos pós-apostólicos, amplamente voltados para a dinâmica da comunidade e para a função litúrgica nela presente, o que se constata é a polissemia teológica, não como fragmentação destrutiva, e sim como instrumento estruturador das múltiplas experiências de fé com o Cristo e a necessária comunicação delas." (p. 48s).

"O processo de univocização do discurso teológico cristão confunde-se com sua aproximação ao pensamento filosófico grego presente no helenismo, a qual é fortemente marcada pela aceitação da filosofia platônica apresentada no médio-platonismo.O pensamento platônico, sobretudo sua metafísica, serviu ao discurso teológico cristão em seu estágio até então mais elaborado." (p. 49).

"Em Clemente a veneração por Platão e a influência do platonismo contemporâneo assumem uma dimensão ainda mais ampla e desenvolvimentos ainda mais ricos do que em Justino. Em Protréptico, Clemente pede a Platão que se torne seu companheiro na busca de Deus.Longe de ser obra do demônio, dizia ele, a filosofia grega é, ao contrário, um bem. A ela coube a tarefa propedêutica de conduzir os gentios a Cristo. O que a Lei fora para os judeus a filosofia foi para os gentios." (p. 53s).

"O outro grande nome da escola de Alexandria foi Orígenes. [...] Com Orígenes, a escola catequética de Alexandria atinge o seu ponto mais alto [...] Orígenes supera Clemente em todos os pontos de vista, e sobretudo pela penetração especulativa. Sobre os fundamentos lançados por Clemente pôde erguer o primeiro edifício sistemático doutrinal." (p. 54s).


"Tudo fica muito claro naquelas que serão as instâncias últimas da apologética: os concílios.Neles, está presente a objetivação mais radical da influência da filosofia grega sobre o pensamento cristão, tanto na linguagem construtora das sentenças dogmáticas, tão estranhas ao mundo bíblico, quanto na formulação dos anátemas, amplamente devedora dos princípios da não-contradição." (p. 56).

"
Se Justino, Clemente e Orígenes foram os primeiros interlocutores da filosofia no interior do cristianismo, no sentido de produzir uma teoria do conhecimento capaz de introduzir o discurso teológico cristão no ambiente greco-romano, é Agostinho quem o fará de forma mais complexa, erigindo um sistema epistemológico de influência definitiva sobre a teologia cristã." (p. 57).

"
A doutrina agostiniana da iluminação consagra a metafísica como instrumento adequado de conhecimento da verdade no interior do discurso teológico cristão. A contingência do objeto e do sujeito do conhecimento negativos, para Agostinho, legitima a exterioridade dualística da verdade. É negada à teologia qualquer identificação da relevância nas vivências concretas da fé no interior da comunidade cristã." (p. 60).

"
Tomás, no entanto, fiel às análises de Aristóteles, afasta-se de Agostinho quanto à maneira de conceber o modo de iluminação. [...] Aquino faz em relação a Agostinho o mesmo caminho que Aristóteles fez anteriormente em relação a Platão. Ele toma o dualismo externo da tradição platônica assumido por Agostinho e o interioriza. A verdade, que só podia ser encontrada 'no mundo das idéias' e alcançada por intuição intelectual, agora está na mente humana, podendo ser conhecida pela inteligência, ela própria um dom de Deus." (p. 61).

"
A criação da metafísica é, portanto, a maneira mais adequada de afirmar a univocidade." (p. 62).

"
O discurso teológico dogmático cristalizado e potencializado para além de seu tempo cultural só é possível a partir da metafísica, que se apresenta como seu elemento sustentador." (p. 63).

"
Na perspectiva do impacto da ortodoxia protestante sobre a teologia bíblica, Ladd afirma: 'Os resultados obtidos pelos estudos históricos da Bíblia, realizados pelos reformadores, logo se perderam no período imediatamente após a Reforma, e a Bíblia foi mais uma vez utilizada sem uma perspectiva crítica e histórica, para servir de apoio à doutrina ortodoxa. A Bíblia foi considerada não somente como um livro isento de erros e contradições, mas também como sem desenvolvimento ou progresso'." (p. 67).

"
Partindo de cima, do universal em direção ao particular, a teologia sistemática manualista garante a irredutibilidade de sua fala, bem como sua univocidade." (p. 69).

Na próxima semana tem mais.

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Amanhã teremos uma nova Reflexão.

Abração!

na Graça,

Jefferson

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Vídeo (6) - É proibido pensar - 2


Confira a entrevista do compositor e intérprete cristão, João Alexandre, em que ele comenta a respeito de sua música "É proibido pensar"!


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Café Acadêmico Inaugural de 2008


Caro amigo,


Clique na imagem abaixo e saiba quais serão as atrações do 1º Café Acadêmico do ano. Imperdível! Espero vê-lo por lá!

Abração!

na Graça,

Jefferson


sábado, 26 de janeiro de 2008

Reflexão (30) - Não tenho rótulos


por Jefferson Ramalho

Não sou liberal. Há algumas semanas tenho ouvido de alguns amigos, alunos e visitantes do blog que sou um liberal, por causa das coisas que venho escrevendo. Permitam-me compartilhar algumas definições básicas de liberalismo e de fundamentalismo. Tais conceitos me fazem acreditar ainda mais em uma frase de um professor que tive no último ano da faculdade de teologia, dr. Osvaldo Hack: "Todos nós temos um pouco de liberal, um pouco de conservador, um pouco de fundamentalista e um pouco de progressista."

O liberalismo protestante clássico, do século XIX, rompeu com várias peculiaridades ortodoxas da tradição cristã. Uma delas é a produção de Catecismos e Confissões de Fé, conforme foi feito pelos protestantes do século XVII. Neste sentido, não tem como não concordar com o liberalismo. Tudo o que trava a reflexão, manipula o conhecimento e paralisa a capacidade de pensar, é letal.

Com o advento da filosofia iluminista e todas as formas de racionalismos, com a chegada do método exegético histórico-crítico, e, sobretudo, com os avanços das ciências, da medicina e da tecnologia de um modo geral, não tem como escapar da coerência dos argumentos dos teólogos liberais.

Contudo, qualquer extremo se torna prejudicial. Muitos deles acabaram negando princípios básicos da fé cristã. A Divindade de Jesus Cristo, por exemplo, é um fundamento - embora este não seja um termo que eu goste de usar - que se negado, torna qualquer "fé cristã" inútil e imbecil.

Os liberais, por outro lado, salientaram o valor da questão ética, o que não pode ser desconsiderado por nenhum cristão, por mais fundamentalista que seja. Ou pode?

Já o fundamentalismo clássico, aquele que reagiu ao liberalismo, não foi de todo ruim. Os seus cinco pontos são apenas princípios que se negados integralmente, tornam a pessoa que os nega, qualquer coisa, menos cristã.

Por exemplo, tenho muitas dificuldades em aceitar o primeiro ponto que afirma a inerrância do texto bíblico, mas não consigo me contrariar à hipótese de que na Bíblia está a mensagem de Deus para o ser humano. Portanto, ainda que o texto não seja inspirado e inerrante, a Palavra de Deus enquanto mensagem está ali. Caso contrário, por que os que ingenuamente se dizem liberais, usam a Bíblia sempre que vão pregar alguma Mensagem?

O segundo ponto afirma o nascimento virginal de Jesus de Nazaré, ou seja, que Ele foi gerado pelo Espírito Santo. É óbvio que racionalmente, isto é um mito absurdo e sem sentido. Mas nisto consiste a fé cristã. Em crer em absurdos. Na verdade, se optarmos pela via racional, não acreditaremos em quase nada do que consta nas Escrituras. "O justo viverá pela fé" (Paulo).

A expiação vicária de Cristo é o terceiro ponto. Ora, se Cristo não morreu pelos pecadores, a fé cristã perde todos os seus significados. Ele não morreu apenas para ficar para a História. Sua morte tem um sentido espiritual singular. Quem nega esse princípio, não é autenticamente cristão.

A ressurreição corpórea de Jesus e sua segunda vinda, são outros dos muitos absurdos que o Fundamentalismo, com propriedade, ratificou. A fé proposta pela Bíblia é aquela que leva o ser humano a acreditar que o Filho de Deus está vivo, pois venceu a morte, e que Ele voltará. Não crer nesses princípios, não seria apenas ser liberal, mas seria o mesmo que não ser cristão conforme o Evangelho.

Finalmente, o quinto ponto diz que os milagres relatados na Bíblia aconteceram na História. É possível que eles tenham acontecido, pois não podemos limitar a Deus e ao Seu poder. Contudo, muito mais importantes que os milagres enquanto fatos históricos, são os milagres enquanto Mensagem para a vida humana.

O Fundamentalismo, com o passar das décadas, ganhou outro significado. Passou a ser sinônimo de intolerância, terrorismo e oposição à abertura ao diálogo. Neste sentido, ser fundamentalista é inescrupuloso. O liberalismo também ganhou novos significados devido aos extremos que alguns liberais assumiram. Ser liberal, portanto, passou a ser o mesmo que incrédulo e agressor da essência da fé cristã ortodoxa. Mas todo liberal que impede um conservador de expressar sua opinião conservadora, também se tornou um fundamentalista, pois ele só permite a fala aos que defendem sua linha de pensamento.

Enfim, não consigo ver em mim qualquer um destes rótulos: conservador, liberal, fundamentalista, progressista. Primeiro, porque ainda sou apenas um teólogo em fase embrionária. E o que é pior: com as limitações que tenho, nem sei se um dia conseguirei ser um teólogo. Acho infeliz a afirmação ingênua de alguns bacharéis em teologia que estufam o peito para dizer: "sou teólogo". Imagino Agostinho, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino, Karl Barth e Rudolf Bultmann, por exemplo, contemplando um desses bacharéis em teologia se identificando como teólogos.

Em segundo lugar, vejo pontos positivos e negativos em todas essas linhas. Por esta razão, prefiro trazer para mim o que vejo de bom em cada proposta. No fim das contas, quero ser alguém que não é contrário à reflexão, à diversidade, ao livre pensamento, às várias leituras sobre a fé, e, ao mesmo tempo, alguém que não deixou de acreditar que Jesus é Deus, que Ele nasceu da Virgem Maria, que Ele morreu por meus pecados, que Ele ressuscitou dos mortos e que Ele voltará, pois as Escrituras enquanto texto que contém a Mensagem de Deus para os seres humanos, assim afirmam.

na Graça,

Jefferson

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Reflexão (29) - Inquisição sem fogueiras


por Jefferson Ramalho

Tudo o que demonstra ser intolerante, representa um perigo. Quando ouço esta palavra, me lembro automaticamente de boa parte da História da igreja cristã, que, sobretudo na Idade Média, se tornou a instituição mais intolerante daquele momento, para não dizer de toda a História.

Hoje, infelizmente, a religião cristã quando fundamentalista, mesmo que teologicamente, não consegue deixar de se demonstrar intolerante com todos aqueles que não pensam como ela. Para ela, todos os que são contrários às suas perspectivas, representam uma ameaça e precisam ser impiedosamente lançados fora.

É o que alguns já teriam chamado de "inquisição sem fogueiras". E só é sem fogueiras, porque não podem queimar estes que eles consideram hereges. Se pudessem, muitos não escapariam de tal condenação. Homens como Rubem Alves, Frei Betto, Caio Fábio, Milton Schwantes, Ricardo Gondim, Leonardo Boff, meu ex-professor dr. Ricardo Quadros Gouvêa, meu ex-professor e amigo dr. Ronaldo Cavalcante e outros tantos cujos nomes não me vêm agora, dificilmente escapariam da fogueira dos inquisidores brasileiros dos nossos dias.

De qualquer maneira, graças a Deus por não existir esta fogueira. Contudo, a repressão, a intolerância, a perseguição, a impiedade, a proibição de que o outro que é diferente de mim possa apenas falar são marcas registradas deste fundamentalismo cristão presente no Brasil.

O pior é que tudo isso é feito em nome de Deus, tudo isso é para defender a sã doutrina, tudo isso é feito supostamente por "amor à Palavra". Como o Mestre, minha oração neste sentido é a única que eu poderia fazer neste momento: "Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem".

Quem sou eu para usar as Palavras do Mestre? Ninguém. Apenas alguém que também precisa de misericórdia, de perdão e de Graça. Mas graças a Deus, pois posso dizer que por outro lado, sou alguém que não foi contagiado pelo intolerante fundamentalismo protestante.

na Graça,

Jefferson

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Reflexão (28) - Aquecimento global e congelamento político


por Frei Betto

O prêmio Nobel da Paz 2007 foi dividido entre Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima). Esta importante instituição alerta que o futuro do nosso planeta estará comprometido se não houver, o quanto antes, mudança do atual modelo de desenvolvimento.

O paradigma predominante é o do consumismo ilimitado, do carro como ideal de transporte, da utilização de produtos descartáveis que não são biodegradáveis, ou seja, levam milhares de anos, como os plásticos, para serem absorvidos pela natureza.

Nos últimos 150 anos, o ser humano alterou a composição da atmosfera e o funcionamento de ecossistemas que se auto-regulavam há 4,5 bilhões de anos. Nos últimos 30 anos, a concentração de gases de efeito estufa – que provocam o aquecimento global e a perda de biodiversidade – aumentou de 280 partes por milhão para 375. Dobrou a concentração de metano na atmosfera. Segundo o IPPC, a saúde da Terra estará seriamente comprometida se a concentração de CO2 (gás carbônico) na atmosfera ultrapassar 550 partes por milhão.

A camada de ozônio, que nos protege dos efeitos negativos dos raios solares, já se reduziu em 6%, aumentando a incidência de câncer de pele e outras doenças. Prevê-se que, neste novo século, a temperatura da Terra subirá de 2 a 4%, e o nível do mar, 40 cm. Isso poderá afetar a Amazônia, já ameaçada pelo desmatamento e a falta de vontade política do governo federal para evitá-lo. A maior área de biodiversidade do planeta corre o risco de se transformar, em futuro próximo, em cerrado. De sua área original, 17% da Amazônia brasileira já foram desmatadas.

O Brasil é, hoje, o 4º maior emissor de gases de efeito estufa devido às queimadas e ao desmatamento. Nosso país desmata cerca de 15 a 20 mil km² por ano (Sergipe tem área de 21.910 km²), o que corresponde a 74% de nossas emissões de gás de efeito estufa. A queima de cana-de-açúcar para produzir etanol lança na atmosfera, a cada ano, cerca de 64,8 milhões de toneladas de gás carbônico.

Por cada hectare, a floresta amazônica absorve, na madeira das árvores, cerca de 100 toneladas de CO2. Ao todo, são de 100 a 400 milhões de toneladas de carbono por ano. Ao queimar esta madeira para dar lugar a pasto ou ao plantio de soja, o carbono deixa de ser assimilado pelo ecossistema e sobe para a atmosfera. Calcula-se que, hoje, a floresta lance na atmosfera, por ano, cerca de 200 a 300 milhões de toneladas de carbono. Portanto, reduzir o desmatamento é o meio mais barato de restringir a emissão de gases.

Este planeta é a nossa casa e os efeitos da ação humana sobre a natureza atingem, indistintamente, ricos e pobres. Além de cessar o desmatamento, é preciso incentivar políticas de reflorestamento para reduzir as emissões de gás carbônico. E adotar processos industriais mais convenientes, como a fabricação de carros híbridos. O modelo Prins, da Toyota, funciona com 4 motores elétricos e 1 a diesel, e emite metade do CO2 gerado por veículos do mesmo porte.

Devido ao pico da produção de petróleo, e o sucessivo aumento do preço do barril, os EUA pretendem reduzir o seu consumo em 20% até 2017, o que significará aumento de 800% do consumo de etanol até aquela data. E lá o etanol é feito de milho, que agora inflaciona os preços dos alimentos. A União Européia se propõe a reduzir o consumo de gasolina em 10% até 2020. Só não diz como. Para produzir etanol, teria de utilizar 70% de sua área agricultável, o que é impensável.

Se para substituir o petróleo o continente americano quiser produzir, por ano, 110 bilhões de litros de etanol, no Brasil os canaviais terão de ocupar 75 milhões de hectares. Para se ter uma idéia do que isso significa, hoje toda a área utilizada para a produção de alimentos vegetais no Brasil é de 60 milhões de hectares.

Segundo o governo federal, a safra 2007/08 produzirá 473,16 milhões de toneladas de cana, um aumento de 11% em relação à safra de 2006/07. Além de ameaçar a Amazônia, empurrando para lá a soja e o gado, a cana contribui para o aumento de emissão de CO2, causado pelo uso de fertilizantes e plantadeiras, colhetadeiras e traminhões. E a extensão do plantio por áreas agricultáveis refletirá no preço dos alimentos, encarecendo-os.

Frente ao aquecimento global, é preciso forçar o descongelamento político, obrigar o governo a preservar a Amazônia e pensar o país, não em termos de crescimento do PIB, e sim do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano.

Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Ática), entre outros livros.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Leia comigo (7) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno


Hoje vamos ler trechos que selecionei do primeiro capítulo do livro do prof. Alessandro Rocha.

Por se tratar de uma obra que exige considerável atenção, resolvi dedicar duas semanas para cada capítulo, para que vc. acompanhe a leitura com tranqüilidade.

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Abaixo, estão as passagens que escolhi para esta semana. Boa leitura!

"O que propomos no presente capítulo é percorrer o itinerário da sublevação da metafíca no âmbito da teologia cristã e na construção de seu discurso, apontando o gradativo abandono da metáfora como forma adequada de comunicar os temas da fé. Para tanto, é indispensável conhecer o desenvolvimento da metafísica na cultura grega, sobretudo pelo fato de que a teologia cristã refez esse mesmo caminho ao aproximar-se do mundo greco-romano, na tentativa de tornar compreensível sua mensagem." (p. 22)

"Neste capítulo objetivamos a discussão do método. É fundamental, portanto, rastrear o itinerário da metafísica, que estruturou o discurso teológico-cristão - desde seus primeiros passos, em Parmênides, até sua construção última, em Aristóteles; das primeiras aproximações de Clemente de Alexandria até Tomás de Aquino. Esse itinerário é, a um só tempo, o da afirmação da metafíscia e o da negação da metáfora; o do abandono da polissemia pela afirmação da univocidade." (p. 23)

"A filosofia grega, distanciando-se da polissemia geradora de plurivocidade, encontra na metafísica um instrumento adequado, capaz de sustentar um discurso unívoco que, por ser unívoco, pode ser referido como universal." (p. 27)

"A metafísica está para a filosofia como um método de compreensão da verdade. Essa verdade alcançada pela filosofia com base na metafísica é absoluta, porque se identifica com o ser (fundamento último da existência). 'Ser e verdade são a mesma coisa, e a metafísica, enquanto ciência do ser como tal, é ciência da verdade como tal'. Para completar seu método de produção de conhecimento de caráter unívoco, a filosofia, além da metafísica, gerou a lógica, que marcaria a impossibilidade da contradição no âmago de uma proposição que se pretendesse verdadeira." (p. 28)

"Dentro da filosofia pré-socrática, salienta-se a filosofia de Heráclito e Parmênides. Trata-se de duas construções opostas, situadas em dois pontos geográficos extremos [...]. Tanto Heráclito quanto Parmênides buscam afirmar uma teoria do conhecimento que possibilite ordenar a vida." (p. 28)

"O caminho da univocidade encontra na inauguração da metafísica as condições necessárias à sua afirmação. A metafísica passa a ser um instrumento de conservação da verdade única que se estabelece na negação de toda multiplicidade." (p. 32)

"Tanto Heráclito quanto Parmênides propõem uma teoria do conhecimento. Ambos se apresentam com a possibilidade à filosofia. O pensamento de Parmênides, porém, sobretudo a lógica e a metafísica, será aquele que a influenciará em seu período clássico." (p. 33)

"Platão toma o pensamento de Heráclito e Parmênides e arruma-os num edifício de dois andares." (p. 34)

"[...] é possível perceber a aproximação que Platão promove entre o pensamento de Heráclito e Parmênides. Os dois sistemas são valorizados hierarquicamente, produzindo uma teoria do conhecimento que parte das imagens para as idéias, da existência para as essências, das opiniões e crenças para a ciências." (p. 36)

"O pensamento de Aristóteles, no que diz respeito à metafísica, não consiste numa ruptura com seus antecessores pré-socráticos, sobretudo Heráclito e Parmênides, muito menos Platão. Há uma complexidade crescente da metafísica desde Parmênides até Aristóteles. Assim como Platão, que havia aproximado Heráclito e Parmênides e sistematizado a teoria desses filósofos em sua compeensão da realidade (mundo sensível e inteligível), Aristóteles também o faz, porém observa que Platão, com seus mundos, instaurava um dualismo entre essência e existência, que destinava toda a compreensão da verdade a uma instância separada da intelecção humana." (p. 39)

"Em Aristóteles, o caminho da univocidade sustentado pela elaboração da metafísica, iniciado em Parmênides, encontra-se em seu momento de maior sofisticação. A filosofia grega clássica encontra-se sistematizada. Embora haja uma tentativa de superação em cada uma dessas escolas, é possível afirmar um princípio comum a elas: a separação de essência e existência e a identificação da essência como lugar próprio do ser. O que se diz de verdadeiro é dito com base no ser." (p.42)

Na próxima semana tem mais.

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Amanhã teremos uma nova Reflexão.

Abração!

na Graça,

Jefferson

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Reflexão (27) - Dependência X Ansiedade


por Jefferson Ramalho

A ansiedade é uma das piores condições humanas. Conquanto ela possa fazer parte da vida, quando atinge um patamar de exagero, torna-se muito prejudicial. Ela pode causar perdas, angústias extremas, aflições incontroláveis, e dependendo do caso, não fica muito difícil de conduzir o indivíduo à esquizofrenia.

O pior de tudo é que a gente sabe que a ansiedade é uma condição absolutamente desnecessária. Por que ser ansioso, se tudo está no controle do Pai? Por que pressa, se Ele é dono do tempo? Por que querer que as coisas aconteçam hoje, se elas não podem e não vão acontecer hoje?

Na reflexão anterior falei sobre esperançar. Se somos pessoas cheias de esperanças, não há motivos para sermos ansiosos. A ansiedade mata. Mata a alma, mata os relacionamentos, mata os planos, mata o que estiver à sua frente. Sem piedade.

Hoje acordei com pouca ansiedade, mas quero até o final do dia estar 100% sem ansiedade. É fácil pregar, escrever e falar sobre esperança, calma, silêncio, tranqüilidade etc. O difícil é viver essas coisas quando a ansiedade toma conta da gente. Em todo caso, o ideal é depender.

Paulo Bregantim, amigo e irmão amado do Caminho da Graça em São Paulo falou sobre isso nos últimos dois domingos. Para vencer a ansiedade, é só se lembrar que somos dependentes. Dependentes da Graça, dependentes da Soberania do Pai, dependentes do Seu controle absoluto, dependentes da Sua vontade. Quando alimentamos isso em nossa consciência, a ansiedade é vencida. É isso que precisamos fazer. É isso que preciso fazer. É isso que vou fazer.

Que esta semana e nas que virão, tenhamos uma certeza ainda maior acerca da dependência que temos de Deus em Cristo. Que a ansiedade seja definitivamente eliminada dos nossos corações e que a Graça tome conta, de fato, das nossas almas.

na Graça,

Jefferson

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Reflexão (26) - Enquanto Ele não volta


por Jefferson Ramalho

Não é fácil escrever ou preparar uma Reflexão com responsabilidade. Na verdade, demora um certo tempo.

Mas há casos em que a "inspiração" é tamanha, que a Reflexão vem em questão de poucos minutos.

Hoje estou inspirado, não sei se para escrever. Hoje estou inspirado, não sei se para refletir.

Hoje estou inspirado, porque estou feliz. A felicidade é indefinível, mas não imperceptível.

Todos sabemos o que pode nos trazer felicidade e o que pode afastá-la de nós. Estar com pessoas que amamos, fazer coisas que nos dão prazer, ouvir músicas que nos distraem, enfim, envolver-se com coisas assim, que são capazes de manipular nosso ânimo e nos tornar pessoas felizes ou infelizes.

Hoje estou feliz! Mas não vou dizer o porquê. Quero e preciso guardar pra mim. Por favor, não me considere um egoísta. Todos têm as suas particularidades.

Estar com Cristo nem sempre traz felicidade. A felicidade humana, infelizmente, se prende a resultados terrenos. E a gente sabe que estar com Cristo, muitas vezes é sinônimo de complicações. Ele mesmo disse isso. Ele nunca escondeu que estaríamos livres de aflições ao optarmos por viver com Ele.

Em contra-partida, estar com Cristo, é descansar em paz, é viver ouvindo os gritos do silêncio divino que ensurdecem a nossa alma, é viver uma contínua espera (mas não aquela espera do verbo esperar, mas do verbo esperançar). É uma contínua e infindável esperança.

Jesus voltará e essa é a maior esperança que abraçamos quando O reconhecemos como Salvador das nossas almas.

É fé misturada com convicção, é esperança misturada com ansiedade, é prazer temperado com uma pitada de angústia. Somos humanos. Quem é que está livre de sentir angústia?

Mas o mais importante é que é uma certeza do coração e disso não abrimos mão. Ele voltará!

Que nunca percamos esta esperança. Mas enquanto Ele não volta, que sejamos "instrumentos" dEle, no intuito de aliviar a angústia, semear esta mesma certeza, enganar a ansiedade e acima de tudo, matar a fome, de quem já perdeu a esperança.

na Graça,

Jefferson

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Reflexão (25) - A "teologia" do maltrapilho


por Jefferson Ramalho

Sou um homem existencialmente maltrapilho, inexplicavelmente alcançado pela Graça de Deus.

Os cristãos protestantes do Brasil que gostam de boas leituras, sabem que nos últimos anos tem sido publicada uma grande quantidade de obras a respeito de espiritualidade. Na verdade, em termos de conteúdo, é uma tentativa de resgate daquela espiritualidade clássica dos antigos monges do deserto.

Brennan Mainning, C.S. Lewis, Henri Nouwen, Philip Yancey, Richard Foster são apenas alguns destes pensadores recentemente publicados no Brasil. Alguns vivos, outros já no descanso eterno. Infelizmente sabemos que são poucos os cristãos que apreciam esse tipo de literatura.

A maioria, mal influenciada por seus líderes e pastores, bispos e apóstolos, são estimulados a ler aquilo que eu não conseguiria chamar de outra maneira a não ser de lixo literário dos evangélicos. São os "Bom dia, Espírito Santo" da vida. Todos publicados pela maioiria das editoras. Muitas delas, inclusive, são as mesmas que publicam os bons autores. Que paradoxo!

Na verdade, ao escrever estas linhas, minha intenção é apenas a de compartilhar acerca da influência positiva que a "teologia do evangelho maltrapilho" tem exercido na vida de tantos cristãos. Eu sou um deles. Publicados pela Editora Mundo Cristão, as obras de Brennan Mainning têm sido lançadas em pouquíssimo tempo, dada a qualidade literária e reflexiva do autor.

Mainning é provocativo e desafiador, rompe com muitos princípios e mostra que seu principal objetivo é o de evidenciar a Graça de Deus. Os pastores brasileiros durante décadas têm escondido a verdadeira e ao mesmo tempo misteriosa ternura da Graça de Deus. Graça é Graça. Não é o que estes neo-pelagianos têm apresentado ao povo evangélico, gerando com isso uma igreja cada vez mais doente e distante daquilo que o Mestre sempre ensinou.

Descanso, silêncio, tranqüilidade e paz são alguns dos termos que não existem nem de longe no vocabulário desses caras. Portanto, não como editor, pois assim eu convidaria você a ler livros da Editora Vida (rsrsrsrs), mas como um simples cristão alcançado pela Graça, convido você a conhecer a obra de Brennan Mainning. Tenho certeza que uma das coisas que você perceberá em meio a simplicidade desse autor, é que a Graça de Deus é algo absolutamente distinto desse negócio que está diante dos nossos olhos, chamado igreja evangélica brasileira.

Graça é Graça, ou seja, não precisa pagar nenhum preço, não há negociações, não tenho minha parte no negócio, Deus é o agente de tudo. Só tenho que obedecer palavras como aquela que diz: "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará".

Abração a todos!

na Graça,

Jefferson


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Leia comigo (6) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno


Hoje começaremos a leitura do livro "Teologia sistemática no horizonte pós-moderno" do prof. Alessandro Rocha, que é pastor, mestre em Teologia Sistemática pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (RJ) e doutorando na mesma área pela PUC-RJ.



Conforme o próprio convite à leitura contido na quarta capa da obra, a preocupação fundamental deste estudo foi compreender a importância das mediações culturais no discurso teológico, sobretudo em seu aspecto dogmático. Para esse fim, o autor parte da filosofia, da antropologia e da fenomenologia numa dupla tarefa: evidenciar a tendência da teologia sistemática em herdar as tradições metafísicas e propor uma abordagem teológica que contemple as vivências da fé.

A proposta de Alessandro é a de que a teologia se distancie, por um momento, das vivências histórico-sociais e que seja dado espaço às mediações culturais como fator determinante para novas abordagens metodológicas.

Abaixo estão os fragmentos que selecionei da introdução do livro.

Boa leitura!

"Por percebermos que a teologia sistemática manualista vive um momento de esgotamento de sentido, em que a fé cristã se restringe à repetição dogmática de reflexões histórico-sociais do passado, vimos a necessidade de abordar criticamente a 'gestação' dos métodos e situá-los como construtos sociais."

"O unívoco, porém, só poderia ser afirmado com base em uma fonte fidedigna que transcendesse as realidades culturais (que são equívocas). Somente dessa forma seria possível afirmar uma resolução de abrangência universal. E a fonte fifedigna que a filosofia grega elaborou para afirmar a univocidade universal foi a metafísica."

"A teologia ... [abandonou] a equivocidade e a metáfora, [aproximando-se] gradativamente da univocidade e da metafísica."

"Diante desse discurso teológico, que potencializa, com base na metafísica, uma mediação cultural, cristalizando-a e transformando-a em norma de alcance e vigência universais, é imperioso que se afirme o distanciamento da teologia das vivências históricas e culturais."

"O primeiro capítulo, de caráter descritivo, versa sobre o processo de sublevação da metafísica 'em detrimento da metáfora na comunicação dos temas da fé cristã'."

"O segundo capítulo, que articula descrição e proposição, trata da 'ascensão, potencialização e evocação: processo de gestação da univocidade universalizante'."

"No último capítulo, buscamos a elaboração de uma abordagem metodológica que dê conta dos resultados obtidos. Assim, propomos uma 'afirmação do local como princípio de uma nova abordagem metodológica em teologia sistemática'."

"Desse modo, partindo da sensação incômoda da inadequação do discurso sistemático da manualística protestante às realidades do 'local', apresentamos uma proposição metodológica (ainda que embrionária), cujo propósito é reabilitar a multiplicidade discursiva das comunidades locais em suas mediações culturais."

Na próxima semana tem mais.

Compre este livro no link:
http://www.editoravida.com.br/loja/product_info.php?products_id=250

Amanhã teremos uma nova reflexão.

Abração!

na Graça, sempre!

Jefferson

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Reflexão (24) - Parábola dos blogueiros cristãos e o homossexual


por Jefferson Ramalho

"Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:

Três pessoas subiram ao templo com o propósito de orar: dois blogueiros cristãos, e o outro, um homossexual.

Os blogueiros cristãos, colocando-se em pé - pois nisto se reduzem suas posturas de reverência cheias de normas e severidades - oravam de si para si mesmos, desta forma: Ó Deus, graças te damos porque não somos como os demais seres humanos, ladrões, injustos, adúlteros, liberais, tolerantes, libertários e esquerdistas, nem ainda como este homossexual;

jejuamos várias vezes por semana, damos os dízimos de tudo o que ganhamos, defendemos a fé cristã como verdadeiros guardiões da sã doutrina e temos tanta convicção acerca das normas severas contidas em tua lei, que somos incapazes de um dia nos tornarmos tão perversos como este homossexual.

O homossexual, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas simplesmente batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!

Digo-vos que este desceu justificado para a sua casa, e não aqueles blogueiros cristãos cheios de normas severas, porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado."

É isso!

Sem comentários!

na Graça,

Jefferson

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Reflexão (23) - Conversão ou experiência religiosa?


por Jefferson Ramalho

Em dezembro de 1995 experimentei aquilo que para os "evangélicos" é chamado de conversão. Hoje, doze anos depois, confesso que tenho minhas dúvidas acerca daquela experiência. Para a psicologia é natural que nessa fase da vida, os seres humanos tenham experiências religiosas, independentemente de onde sejam. Pode ser em uma igreja evangélica ou em um terreiro de umbanda. Só muda o endereço.

Quando me lembro do "conteúdo teológico" daquilo que me ensinaram ser a verdadeira doutrina cristã, minhas dúvidas aumentam ainda mais. Me refiro, é claro, àquilo que os líderes do neo-pentecostalismo local de onde me "converti" ensinavam como verdade.

Cinco anos depois resolvi estudar teologia. Eu já estava diretamente envolvido com os trabalhos da igreja e não via incoerência alguma em estudar para me preparar para o ministério. Contudo, o esquisito é que os meus superiores não concordavam com a minha opção em estudar. Chega ser cômico. Mandei todos eles às favas e fui estudar.

Não demorou muito, no decorrer dos estudos percebi que teologia cristã e aquelas convicções aberrantes que me ensinaram durante cinco anos eram duas coisas completamente distintas. O que aquela "igreja" me ensinara a praticar e posteriormente passei a ensinar a outros, se resumia em uma relação de barganha com deus e não de comunhão com Deus. Era preciso fazer e dar, para receber. Não existia e não existe Graça no negócio deles. Só "negociação com deus", por isso não pode ser outra coisa a não ser "negócio".

Alguns anos após o início da minha caminhada na ambiência acadêmica, comecei a aprender e a compreender a proposta da Graça. A Graça escandalosa e absurda do Evangelho, que não exige troca, barganha, negociação, prestação de contas ou qualquer coisa do gênero. Por isso é Graça.

Compreendi a Graça que convida o ser humano a ter simplesmente um relacionamento de filho para Pai e de Pai para filho. E este Pai é Deus e não deus. Um Deus que é acessível através de Cristo e não das ofertas que entregamos naquelas "campanhas de fé" que em sua essência não têm outro objetivo além do de arrecadar cada vez mais.

Pretendo um dia escrever uma reflexão só para dizer como aquele vigarista idealizava suas "campanhas de fé". Lembro-me de cada uma, as passagens bíblicas que ele utilizava para argumentar a favor de sua perspectiva, a maneira como ele manipulava seus obreiros a jogarem o seu jogo e farei questão de concluir dizendo onde o dinheiro era investido.

Hoje, portanto, não sei ainda dizer se aquela experiência quase mística que tive no neopentecostalismo poderia ser chamada de conversão, pois a compreensão da Graça veio bem depois. E somente quando compreendi a Graça foi que comecei a encarar a fé como coisa séria, por amor e por prazer e nunca mais por um ingênuo e arrogante interesse de ficar rico e próspero; muito menos por medo do diabo, que é uma das coisas que eles mais sabem semear na alma dos seus seguidores.

Me envergonho, hoje, de dizer que fui um desses seguidores do neopentecostalismo. Mas ao mesmo tempo sou grato a Deus por ter me dado a oportunidade de viver a experiência que vivi naquele ambiente. Lá aprendi como eu jamais devo proceder na vida cristã. Foi a melhor escola para vigaristas que eu poderia freqüentar em toda a minha vida. Mas hoje estou na Graça.

Beijão repleto de Graça a todos!

na Graça,

Jefferson

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Leia comigo (5) - Oração - ela faz alguma diferença?


Oração - ela faz alguma diferença?

Caros amigos,

Esta é a última postagem de citações do novo livro de Philip Yancey que lemos nas últimas semanas.

Abaixo estão as passagens que escolhi da quinta e última parte da obra.

Na próxima semana iniciaremos a leitura de outro livro. Conto com a tua tão agradável companhia.

Abração!

na Graça,

Jefferson

citações...

"Ficar na companhia de alguém que se ama nunca é uma perda de tempo, especialmente se aquele em cuja companhia eu fico for Deus." (p. 355)

"Ninguém precisa me provar que a oração faz diferença, escreveu Henri Nouwen durante sua estada na América do Sul. Ele acrescenta que sem oração, fico irritável, cansado, sinto um peso no coração e perco o Espírito que dirige minha atenção para as necessidades dos outros, em vez de para mim mesmo. Sem oração, minha atenção se volta para as minhas preocupações. Fico chato e muitas vezes me ressinto e quero vingança." (p. 357)

"Orar significa abrir-me para Deus, e não lhe impor limites por meio de meus preconceitos. Em suma, orar significa deixar Deu ser Deus." (p. 367)

"Na melhor das hipóteses, a oração não busca manipular a Deus para que ele faça minha vontade — muito pelo contrário. A oração cai no lago do próprio amor de Deus e se expande cada vez mais." (p. 381)

"Numa carta ao seu irmão, C. S. Lewis menciona que orava todos os dias pelas pessoas que se sentia mais tentado a odiar — Hitler, Stalin e Mussolini encabeçavam a lista. Em outra carta, escreve que, ao orar por eles, meditava sobre como a própria maldade dele poderia se transformar em algo como a deles. Lembrava-se de que Cristo morreu por eles tanto quanto por ele, e que ele mesmo não “diferia muito daquelas horríveis criaturas”." (p. 385)

"Com efeito, transfiro o pesado fardo para aquele que está muito mais bem equipado para carregá-lo. Com o tempo, a ferida mostra delicados sinais de cura. Deus faz em mim aquilo que eu mesmo não poderia fazer." (p. 386)

"O matemático francês Blaise Pascal opunha-se a orar pedindo ajuda, muito menos cura, quando caía enfermo: Não sei o que me é mais lucrativo, se a saúde ou a doença, a riqueza ou a pobreza ou qualquer outra coisa deste mundo. Esse discernimento ultrapassa o poder de homens e anjos e está oculto entre os segredos de nossa Providência, que eu adoro, mas não procuro sondar." (p. 401)