quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Leia comigo (8) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno


Caros amigos,


Na semana passada, não postei a continuação da leitura que estamos fazendo da obra do prof. Alessandro Rocha. Vamos retomar de onde paramos.

Abaixo, seguem os fragmentos que selecionei da página 42 à 69, onde termina o primeiro capítulo.

Boa leitura!

"Após ter evidenciado o caminho da metafísica na filosofia grega clássica e sua contribuição para a afirmação de uma teoria do conhecimento sustentadora de univocidade, só alcançável na dimensão da essência e nunca na multiplicidade da existência concreta, interessa neste momento a tarefa de evidenciar a similaridade do caminho trilhado pela teologia cristã comparado ao grego." (p. 42).

"Em suma, para ser relevante e verdadeiro, o discurso teológico deve fundamentar-se na essência ou na existência? Se na essência, a linguagem deve ser literal, capaz de identificar o discurso com a realidade, produzindo a univocidade da verdade. Se na existência, a linguagem será metafórica, compreendendo a teologia como ciência hermenêutica aberta à equivocidade e, por assim dizer, ao caráter provisório de seu discurso." (p. 47).

"A univocização do discurso teológico tem sua gênese: não é de forma alguma ontológica. As primeiras gerações cristãs não a conheciam, como fica evidenciado na linguagem utilizada na época. Desde o uso da metáfora poética nas parábolas neotestamentárias, da linguagem equívoca das cartas paulinas, da escatologia e do gênero apocalíptico até os escritos pós-apostólicos, amplamente voltados para a dinâmica da comunidade e para a função litúrgica nela presente, o que se constata é a polissemia teológica, não como fragmentação destrutiva, e sim como instrumento estruturador das múltiplas experiências de fé com o Cristo e a necessária comunicação delas." (p. 48s).

"O processo de univocização do discurso teológico cristão confunde-se com sua aproximação ao pensamento filosófico grego presente no helenismo, a qual é fortemente marcada pela aceitação da filosofia platônica apresentada no médio-platonismo.O pensamento platônico, sobretudo sua metafísica, serviu ao discurso teológico cristão em seu estágio até então mais elaborado." (p. 49).

"Em Clemente a veneração por Platão e a influência do platonismo contemporâneo assumem uma dimensão ainda mais ampla e desenvolvimentos ainda mais ricos do que em Justino. Em Protréptico, Clemente pede a Platão que se torne seu companheiro na busca de Deus.Longe de ser obra do demônio, dizia ele, a filosofia grega é, ao contrário, um bem. A ela coube a tarefa propedêutica de conduzir os gentios a Cristo. O que a Lei fora para os judeus a filosofia foi para os gentios." (p. 53s).

"O outro grande nome da escola de Alexandria foi Orígenes. [...] Com Orígenes, a escola catequética de Alexandria atinge o seu ponto mais alto [...] Orígenes supera Clemente em todos os pontos de vista, e sobretudo pela penetração especulativa. Sobre os fundamentos lançados por Clemente pôde erguer o primeiro edifício sistemático doutrinal." (p. 54s).


"Tudo fica muito claro naquelas que serão as instâncias últimas da apologética: os concílios.Neles, está presente a objetivação mais radical da influência da filosofia grega sobre o pensamento cristão, tanto na linguagem construtora das sentenças dogmáticas, tão estranhas ao mundo bíblico, quanto na formulação dos anátemas, amplamente devedora dos princípios da não-contradição." (p. 56).

"
Se Justino, Clemente e Orígenes foram os primeiros interlocutores da filosofia no interior do cristianismo, no sentido de produzir uma teoria do conhecimento capaz de introduzir o discurso teológico cristão no ambiente greco-romano, é Agostinho quem o fará de forma mais complexa, erigindo um sistema epistemológico de influência definitiva sobre a teologia cristã." (p. 57).

"
A doutrina agostiniana da iluminação consagra a metafísica como instrumento adequado de conhecimento da verdade no interior do discurso teológico cristão. A contingência do objeto e do sujeito do conhecimento negativos, para Agostinho, legitima a exterioridade dualística da verdade. É negada à teologia qualquer identificação da relevância nas vivências concretas da fé no interior da comunidade cristã." (p. 60).

"
Tomás, no entanto, fiel às análises de Aristóteles, afasta-se de Agostinho quanto à maneira de conceber o modo de iluminação. [...] Aquino faz em relação a Agostinho o mesmo caminho que Aristóteles fez anteriormente em relação a Platão. Ele toma o dualismo externo da tradição platônica assumido por Agostinho e o interioriza. A verdade, que só podia ser encontrada 'no mundo das idéias' e alcançada por intuição intelectual, agora está na mente humana, podendo ser conhecida pela inteligência, ela própria um dom de Deus." (p. 61).

"
A criação da metafísica é, portanto, a maneira mais adequada de afirmar a univocidade." (p. 62).

"
O discurso teológico dogmático cristalizado e potencializado para além de seu tempo cultural só é possível a partir da metafísica, que se apresenta como seu elemento sustentador." (p. 63).

"
Na perspectiva do impacto da ortodoxia protestante sobre a teologia bíblica, Ladd afirma: 'Os resultados obtidos pelos estudos históricos da Bíblia, realizados pelos reformadores, logo se perderam no período imediatamente após a Reforma, e a Bíblia foi mais uma vez utilizada sem uma perspectiva crítica e histórica, para servir de apoio à doutrina ortodoxa. A Bíblia foi considerada não somente como um livro isento de erros e contradições, mas também como sem desenvolvimento ou progresso'." (p. 67).

"
Partindo de cima, do universal em direção ao particular, a teologia sistemática manualista garante a irredutibilidade de sua fala, bem como sua univocidade." (p. 69).

Na próxima semana tem mais.

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Amanhã teremos uma nova Reflexão.

Abração!

na Graça,

Jefferson

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