quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Há brasileiros que preferem que suas vidas sejam adestradas por enlatados estadunidenses tais como cartilhas de pessoas altamente saudáveis, livros e videozinhos com 7, 10, 12 passos para alcançar sucesso na vida...! Essa, infelizmente, é a mentalidade predominante no século XXI. Prefiro entender e acreditar que esses manuais de vida perfeita jamais poderão dar conta de toda a complexidade que compõe a alma humana.

sábado, 15 de outubro de 2011

Ensaio sobre a simplicidade que aprendi

por Jefferson Ramalho

É difícil escrever. E escrever bem é ainda mais difícil. Certa vez eu ouvia Rubem Alves dizendo – não me recordo se em palestra ou entrevista – que escrever é quase uma magia, pois é delicioso brincar com as palavras, trocá-las de lugar num texto, torná-las compreensíveis o máximo que for possível. Quando o ouvi dizendo isso, pensei: será que algum dia eu conseguirei brincar assim com as palavras? Até hoje estou me perguntando.

Todo texto tem uma motivação. Toda palavra traz intenções, emoções, sentimentos puros ou torpes, um pouco de medo ou mesmo ousadia. Às vezes, quando escrevo, tenho medo de ser mal compreendido, mas, o que fazer? A isso está sujeito todo aquele que escreve. Já quis muito falar de espiritualidade, e aqui no blog não foram poucas as vezes que desabafei, confessei, critiquei, provoquei, xinguei e até, sem que os poucos leitores soubessem, chorei.

Aqui sempre escrevi com sorriso nos lábios ou com lágrimas no rosto, com o coração saltando pela boca de tanta felicidade como também não foram poucas as vezes que eu escrevia com o coração apertado de tristeza, arrependimento, remorso, raiva, revolta e desespero.

Mas, há um detalhe que não aprendi nesses anos de tantos encontros e desencontros em minha vida. Não aprendi ser arrogante, não aprendi deixar de ser simples, não aprendi humilhar o meu próximo mesmo nos momentos que eu julgava ter conquistado alguma coisa, não aprendi ser egocêntrico, não aprendi ser ganancioso, não aprendi ser ambicioso, não aprendi a confiar em minha justiça própria, não aprendi a julgar o outro por aquilo que ele veste, usa, come, gosta, compra. Tamanha mediocridade não faz parte de meus vícios e doenças.

Aprendi com Richard Foster quando li um de seus livros há alguns anos a viver na liberdade da simplicidade. Sim, me contento com pouco, muito pouco para aqueles que costumam valorizar aquilo que enferruja, aquilo que com o tempo é consumido pelo gasto, aquilo que um dia será velharia. Contento-me com o sorriso de três pessoas: da minha companheira de todas as horas, da minha mãe e do meu pai. O sorriso e o carinho da minha esposa, o beijo e o abraço da minha mãe e o sorriso do meu pai expresso em sua alegria naquilo que ele verdadeiramente gosta e sempre gostou e não aquilo que ele artificialmente passou a gostar.

Aliás, todos nós somos sujeitos às artificialidades. Aprendemos a gostar de coisas novas e muito boas, aprendemos com retardo, mas jamais podemos desconsiderar nossas raízes de verdade. É disso que estou falando. Quando vejo as raízes dessas três pessoas que mais amo nesta vida expressas em seus próprios olhos, sinto-me realizado. Assim são todas as vezes que viajo para Minhas Gerais com minha esposa e companheira, assim são todas as vezes que desfruto da companhia de meu pai em um jogo de futebol como foi na ocasião da despedida do Estádio Palestra Itália ou num show sertanejo, assim é sempre que vejo a alegria da minha mãe quando ela está ao lado de sua família. Não preciso e não quero mais nada. Mais nada, mesmo. Se as demais coisas vierem, serão bem recebidas, se não, deixar-me-ei de ser feliz por conta disso?

Já estou realizado e satisfeito, baseado na simplicidade e na alegria de ter perto de mim as pessoas que eu amo e que me amam também. O resto, que se confine em suas inutilidades!

Faço minhas as palavras de Toquinho: “Tenho tempo só pra ser feliz.”