sexta-feira, 24 de abril de 2009

Agenda!!!

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Pois é, amigos!

A correria tem sido tão intensa que o blog, coitado, tem ficado abandonado a cada dia. Haverá um tempo, eu espero, em que não terei mais que levantar às 5h30 e chegar em casa às 23h. E aí, o blog terá toda atenção que merece. Você que me lê de fora do Estado de São Paulo, saiba que para chegar na capital paulista para trabalhar ou estudar, todos os dias, inclusive aos sábados, enfrento um trem - famoso "kata loko" - de 1 hora, além do metrô e das caminhadas básicas de aproxidamente 20 minutos, cada. :(

Pois é! Ainda não sou um grande pregador. E nem quero ser! :)
Quando eu era doente, fanático, bitolado, e acreditava que o bispo da "igreja", aliás, da pseudo-igreja em que eu frequentava era um homem de Deus, eu sonhava em ser um Benny Hinn brasileiro. Que deprimente!

Bem, vamos falar do que se aproveita!

Deixo-vos abaixo uma programação de alguns lugares nos quais estarei nas próximas semanas falando sobre meu livro. Nesse domingo já tem programação, inclusive. Após a agenda, deixo também alguns folders que foram preparados para a programação do Nordeste, em maio, e o curso de Nova História do Cristianismo Primitivo, em junho, no qual terei a honra de falar na companhia do meu amigo dr. Roque Frangiotti.

26 de abril = 19h = Igreja Presbiteriana de Vila Guilhermina, em São Paulo.
Rua Nilza, 385 - Vila Esperança - Próximo ao Metrô Guilhermina-Esperança.

27 de abril = 9h = Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Edifício João Calvino - Rua da Consolação, 930 - 2º andar - sala 28.

7 de maio = 19h - Faculdade de Teologia de Belo Horizonte - Izabela Hendrix - Rua da Bahia, 2020 - Funcionários - Belo Horizonte - MG.

19 de maio = 19h - Seminário Teológico Batista em São Luís - Av. João Pessoa, 214 - João Paulo - São Luís - MA.

21 de maio = 19h - Hotel Maine - Av. Sen. Salgado Filho, 1791 – Lagoa Nova – Natal – RN.

23 de maio = das 9h às 12h - STEC – Seminário Teológico Evangélico Congregacional
Av. Cruz das armas, 662 – Cruz da armas – João Pessoa – PB.

8, 15, 22 e 29/6 - 15h30 às 17h30 - Livraria Santuário - Centro de São Paulo - palestra sobre Uma Nova História da Igreja Primitiva, ao lado do dr. Roque Frangiotti. Inscrições abertas!







terça-feira, 21 de abril de 2009

Provocação: Reflexão (57) - Relendo a História 3

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por Jefferson Ramalho

Reler e repensar a História, além de representar um grande desafio ao curioso historiador, é uma tarefa no mínimo instigante. O historiador que a isso se propõe deve estar preparado para receber críticas dos mais baixos tons, sempre provenientes - como não poderia ser diferente - das vozes e mentes mais conservadoras.

Justo L. Gonzalez, escritor cristão conhecido por todos aqueles que passam pela experiência de estudar teologia e história do cristianismo, é um dos historiadores cristãos que mais admiro. Sua obra há poucos anos lançada no Brasil com o título "História do Pensamento Cristão", em três volumes, é uma obra prima. Seu "Dicionário ilustrado dos intérpretes da fé" é também uma ferramente de valor singular. Além dessas e outras tantas obras de Gonzalez, quem não conhece sua famosa "Uma história ilustrada do cristianismo", em dez volumes, lançada no Brasil na década de 1980 por Edições Vida Nova?

Portanto, é inegável a contribuição da obra de Gonzalez no que diz respeito à recuperação, exposição e organização dos principais fatos da História do cristianismo, algumas vezes até dissertados com riqueza de detalhes, para que o estudioso protestante da América Latina conheça aquilo que a historiografia religiosa de linha tradicional tem apresentado como verdade histórica nesses dois mil anos de religião cristã.

Só que a problemática - termo muito utilizado a partir da Escola dos Annales - está exatamente nesse ponto: verdade histórica. Gonzalez é um Eusébio de Cesaréia das últimas décadas. E ao seu lado, pegam carona outros tantos teólogos que ganham o nome de historiadores pelo simples fato de recontarem o passado.

Hoje, gostaria de me concentrar em alguns pontos do primeiro volume da sua "Historinha" ilustrada do cristianismo. Quem já não leu e não aprendeu sobre o cristianismo primitivo a partir da obra de Gonzalez intitulada "A Era dos Mártires"?

O problema está logo na primeira página, no prefácio, quando Gonzalez afirma: "Em certo sentido, esta história é uma autobiografia [...]. Mas, mais que uma autobiografia individual, esta história é a biografia desse povo de Deus chamado igreja, onde minha fé foi formada e nutrida. Sem compreendê-la não compreendo a mim mesmo."(p.1).

Gonzalez escreve não como historiador, mas como um crente que pretende falar sobre a história de sua religião como sendo a verdadeira entre todas as existentes. Preocupa-se apenas em falar dos grandes feitos, grandes datas e grandes nomes da história do cristianismo. Apresenta sua religião como aquela que foi vítima de uma perseguição impiedosa do império - o que não deixa de ser uma hipótese verdadeira - mas se esquece, ou então prefere omitir, que o mesmo cristianismo, mesmo antes de sua institucionalização ocorrida no quarto século, também foi favorável à escravidão, por exemplo.

Como Eusébio, Gonzalez relata o martírio de Perpétua e Felicidade, chamando a primeira (Perpétua) - uma jovem de boa posição social (cf. p.136) - de heroína e apenas mencionando que Felicidade e Revocato eram escravos. Por que não explorar os detalhes a respeito de Felicidade, a escrava? Por que não questionar o fato de Perpétua, uma cristã rica, ter escravos?

Além disso, por que não olhar criticamente para a influência óbvia da cultura helênica tanto na composição dos textos do Novo Testamento como na própria formulação de princípios morais dos primeiros cristãos? Já que Gonzalez não trata dessas questões, recomendo duas obras: "O mundo moral dos primeiros cristãos", de Wayne A. Meeks, publicada no Brasil pela Editora Paulus, e o clássico "History of Dogma", de Adolf von Harnack, ainda inédito no Brasil.

Como já salientamos, Gonzalez reproduz com propriedade a história dos mártires com óculos eusebianos. Contudo, ao tratar da suposta conversão de Constantino e sua consequente proteção ao cristianismo, no final do primeiro volume e início do segundo, parece dissertar com olhares de admiração pelo imperador.

Não demonstra ver problemas na institucionalização da igreja, na construção das primeiras basílicas - o que representa a prática de sacralização do espaço no contexto cristão, o que conforme o Evangelho jamais deveria ser feito - e, por fim, Gonzalez parece aprovar o desenvolvimento de uma "teologia oficial", o que só aconteceu graças à proteção do Estado e à suposta conversão do imperador que para boa parte dos cristãos da primeira metade do quarto seculo era "o eleito de Deus".

Na próxima semana, se possível, pretendo refletir um pouco a respeito dos principais motivos da transformação ocorrida no cristianismo do quarto século, e isso com olhar especulativo, sem nenhuma intenção de proteger a aliança entre a Igreja e o Estado ou de defender a Ortodoxia que passa a ganhar uma força que nunca teve, a partir daquele momento. Ao contrário, com uma pitada de protesto, vamos tentar identificar quando foi que a igreja cristã começou a se tornar aquilo que ela nunca mais deixou de ser - uma instituição humana.

Abraços!

na Graça,
Jefferson

terça-feira, 14 de abril de 2009

Provocação: Reflexão (56) - Relendo a História 2

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Leitores amigos,

Primeiramente, quero me desculpar por não ser tão "religiosamente evangélico" com as postagens no meu blog. Eu sempre prometo e acabo não cumprindo. Mas espero que você tenha tido paciência! Aqui estamos juntos novamente para tentarmos reler a História do Cristianismo, à luz das propostas críticas, interdisciplinares e nada preocupados em fazer uma apologia à fé, como se a História fosse uma serva da Teologia.

Atualmente, por certo influenciado pelas novas perspectivas da historiografia sobre as quais tenho tomado conhecimento em meu curso de pós-graduação, tenho lido bastante a respeito das propostas da Escola dos Annales, originada na primeira metade do século XX, na França, precisamente na Universidade de Estrasburgo.

Observando a teoria histórica proposta pelos Annales, percebo a cada leitura que os historiadores cristãos, desde Eusébio de Cesaréia, têm pisado na bola. Quase todos, com raríssimas exceções, conseguiram escrever qualquer coisa, menos uma autêntica história da igreja. Se olharmos com os óculos das historiografias positivista e tradicionalista, que valorizam os grandes nomes, as grandes datas, os grandes episódios e os grandes feitos, concluiremos que tais historiadores cristãos acertaram. Só que o problema maior é que com as perspectivas da Escola dos Annales, especialmente da Nova História, percebemos que os caras erraram feio.

História vista de cima para baixo sempre foi o paradigma estabelecido. Mas a História vista de baixo para cima nunca foi privilegiada. Os excluídos, os anônimos, os sem nome, os clandestinos, enfim, os verdadeiros cristãos - aqueles que não aparecem nas páginas dos idolatrados Manuais de História da Igreja - sempre foram omitidos graças ao concubinato que passou a existir entre Estado e Igreja a partir do quarto século, e que se mostra evidente através da primeira de todas as obras de História da Igreja, produzida pelo bispo Eusébio de Cesaréia, servo da cristandade e, ao mesmo tempo, amigo íntimo do imperador que era nada mais nada menos que Constantino.

Desde Eusébio, História da Igreja é na verdade uma defesa à religião cristã com linguagem de historiador, menos uma obra autenticamente histórica. Podemos listar alguns que chegaram até nós brasileiros: Justo Gonzalez, Earle Cairns, Robert Nichols e Kenneth Scott Latourette, para citar apenas alguns mais admirados pelos protestantes. Na historiografia católica não é diferente.

Existem, porém, historiadores que não se preocuparam em fazer da história uma ferramenta apologética, limitando-se apenas à tarefa de recontar o passado e defender a fé, mas com olhar maduro, crítico, científico, conectado às outras ciências sociais - no que consiste a interdisciplinaridade proposta pelos Annales - conseguiram reproduzir a história do cristianismo com os olhos não somente no passado, mas principalmente no presente. Sim, no presente. Pois é a partir dessa mentalidade que se entende o conceito de problematização. A história passada é um problema que reflete no presente com conseqüências positivas ou negativas. É assim que se estuda História. Chega de contadores de causos, pois para isso, meu avô paterno que faleceu analfabeto aos 90 anos, nunca freqüentou a Academia.

Os historiadores da igreja mais admirados, lamentavelmente não passam de contadores de histórias, e seus "causos" são sempre os mesmos. Agostinho, Tomás, Lutero, Calvino... Meu Deus! Só existiram esses indivíduos? Eles foram importantes? Claro que foram. Devem ser estudados? Evidentemente. Mas e os anônimos? Os que de fato moviam as engrenagens da história da igreja? Até quando serão omitidos?

Eis nosso desafio para as próximas reflexões. Vamos tentar no próximo texto, observar o que está por traz da Era dos Mártires, e com isso, saberemos quem foram os verdadeiros mártires. Até lá!

na Graça,
Jefferson

quinta-feira, 9 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Chega de Teologia - Que venha a baleia!

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Com a presença da maioria de seus titulares em campo, o Palmeiras cumpriu sua missão em casa, apesar do mau início de jogo, venceu o Botafogo-SP por 2 a 1 neste domingo, e confirmou a primeira colocação na fase classificatória do Campeonato Paulista. Com a vitória, o time alviverde carrega para as semifinais a vantagem de jogar por dois empates, ou derrota e vitória pelo mesmo placar.

Na segunda etapa, Luxemburgo sacou Lenny e colocou Ortigoza em campo. Com o gramado molhado, a escolha foi tentar os cruzamentos e chutes de longa distância. Logo aos 2min, após cruzamento de Cleiton Xavier, o paraguaio teve boa chance, mas cabeceou por cima da meta de Everton.

No entanto, aos 13min, a substituição deu certo. Ortigoza aproveitou lançamento de Cleiton Xavier e, de carrinho, colocou no fundo do gol. No minuto seguinte, Diego Souza, em jogada individual, bateu forte e virou o placar para o Palmeiras, confirmando a classificação na liderança da primeira fase do Paulista.

Nas semi-finais, o Alviverde enfrentará o Santos, na Vila e no Palestra, jogando por dois empates! Vamos pra cima, Verdão!

Fonte: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2009/04/05/ult59u193964.jhtm

sábado, 4 de abril de 2009

Cinema - O nome da Rosa

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Romance de estréia do crítico literário italiano, Umberto Eco, O Nome da Rosa é uma narrativa policial, ambientada em um mosteiro da Itália medieval. A morte de sete monges, ao longo de sete dias e noite...

O filme “O nome da Rosa” trata da história ocorrida no ano de 1327 – Século XIV - num Mosteiro Beneditino Italiano que continha, na época, o maior acervo Cristão do mundo. Poucos monges tinham o acesso autorizado, devido às relíquias arquivadas naquela Biblioteca.

No Filme, um monge Franciscano e Renascentista, interpretado pelo ator Sean Conery, foi designado para investigar vários crimes que estavam ocorrendo no mosteiro. Os mortos eram encontrados com a língua e os dedos roxos e, no decorrer da história, verificamos que eles manuseavam (desfolhavam) os livros, cujas páginas estavam envenenadas. Então, quem profanasse a determinação de “não ler o livro”, morreria antes que informasse o conteúdo da leitura.

O Livro havia sido escrito pelo Filósofo Aristóteles e falava sobre o riso: “Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, porque a única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade”.

Isso tudo sugeria, além de outras coisas, principalmente pela razão, que Jesus sorriu, pois Ele (Jesus), além de amar todos os homens, desejava que todos encontrassem a verdade e, através dela (da verdade), fossem libertos.

Acho que esta frase está ligada à máxima “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”.

E na história, por trás de “quem matou e quem morreu” aparecem nítidas disputas entre o misticismo, o racionalismo, problemas econômicos, políticos e, principalmente, o desejo da Igreja em manter o poder absoluto cerceando o direito à liberdade de todos.

A Igreja não aceitava que pessoas comuns tivessem acesso ao significado de seus dogmas (fundamentos da religião) nem questionassem e fossem contra os mesmos e, por esse motivo, para definir o poder sobre o povo, houve a instauração da Inquisição que foi criada para punir os crimes praticados contra a Igreja Católica que se unia ao poder monárquico.



O período Renascentista que se desenvolveu na Europa entre 1300 e 1650, época em que se desenrola o filme (1327), vinha de encontro a Igreja, exatamente porque o Renascimento pregava a valorização do homem e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural.

Dessa forma, o Monge Francisco e Renascentista, William de Baskerville, utilizava-se da Ciência e conseqüentemente da razão para dar solução aos crimes do mosteiro e desagradava, em muito, a Santa Inquisição, na figura do Inquisidor Bernardo Gui que realmente existiu e foi considerado um dos mais severos inquisidores.

Entendi que na Biblioteca do Monastério haviam pergaminhos que falavam sobre a infalibilidade de Deus e que não era preciso se ter uma fé cega em detrimento à figura do homem.

Para não se ter uma fé cega é preciso utilizar-se da Ciência como instrumento principal para se desvendar os mistérios impostos pela religião.

Por esse motivo, creio eu, que a Ciência teve ascendência sobre a religião, pois através da razão vários mistérios eram descortinados, inclusive o poder desenfreado da Igreja que, na verdade, só contribuiu para o misticismo e o entrave do desenvolvimento intelectual de todo um período histórico, principalmente o da Idade Média, cercado pela Inquisição e seu poderio absurdo e desmedido.

Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/249488

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Chopp com Teologia - Rudolf Karl Bultmann

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Rudolf Karl Bultmann (Wiefelstede, 20 de agosto de 1884 — Marburg, 30 de julho de 1976) foi um teólogo luterano, de Wiefelstede, em Oldenburg, na Alemanha, que propôs uma interpretação do Novo Testamento da Bíblia apoiada em conceitos de uma filosofia existencialista. Filho mais velho de um ministro da Igreja Luterana, nasceu num ambiente profundamente religioso e foi educado na escola primária em Rastede, para onde seu pai fora transferido. Freqüentou o liceu em Oldenburg, onde destacou-se nos estudos de religião, do grego e da história da literatura alemã.

Ao concluir o liceu (1903), iniciou seus estudos teológicos na Universidade de Tubingen e no ano seguinte passou para a Universidade de Berlim e dois anos depois seguiu para Marburg, onde se licenciou em teologia (1910) com a tese O Estilo da Pregação de Paulo e a Diatribe Cínico. Dois anos depois tornou-se livre docente com uma dissertação sobre a exegese de Teodoro de Mopsuestia. Iniciou sua carreira docente como professor especialista em o Novo Testamento (1916). Foi professor por três décadas de estudos do Novo Testamento na Universidade de Marburg e nessa cidade tomou contato com Martin Heidegger e a filosofia existencialista, que influenciou seu pensamento posterior.

Morreu em Marburg, então Alemanha Ocidental, vítima de várias doenças, entre as quais a cegueira. Seu primeiro livro foi Jesus (1926) e em uma monografia altamente controversa Das Evangelium des Johannes (1941) criticou o evangelho de João e esta tornou-se sua mais famosa obra. Seu livro História da Tradição Sinóptica é ainda considerado como uma ferramenta altamente essencial para a pesquisa dos evangelhos.

Suas principais obras são:

Jesus (1926)

Novo Testamento e Mitologia (1941, título original: Neues Testament und Mythologie. Das Problem der Entmythologisierung der neutestamentlichen Verkündigung)

Teologia do Novo Testamento (1948–53, título original: Theologie des Neuen Testaments)

Religião sem Mito (1954, em parceria com Karl Jaspers, título original: Die Frage der Entmythologisierung)

Fontes:
http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_3050.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Karl_Bultmann

Em Junho - 1º Cristianismo Inteligente

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Eliadiar: Igualdade e diferença

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por Aline Grasiele

Queridos amigos e amigas,

Após duas semanas de pausa, retomamos com uma reflexão sobre IGUALDADE E DIFERENÇA. Peço licença para hoje, não falarmos de Eliade, apesar do título de nossa coluna ser Eliadiar. Certamente é possível encontrar no pensamento eliadiano argumentos para tratar a temática quando aborda, por exemplo, espaço homogêneo (sagrado) e não-homogêneo (profano). Mas hoje, já que vamos refletir sobre igualdade e diferenças, permitam-me fazer diferente.

Esta reflexão, diferente das anteriores, tem um caráter extremamente particular, parte não das minhas observações de pesquisa, mas de uma experiência vivenciada ao longo desses dias, digamos que de discriminação, ainda que velada. O fato é, sou MULHER, sou diferente, e não igual ao comumente aceito num determinado grupo.

Minhas amigas feministas que me perdoem e não pensem que estou desconsiderando toda a história de lutas e conquistas de igualdade de direitos da mulher, mas sinceramente não estou a procura de igualdade e sim das diferenças. E se não posso viver uma experiência de libertação dos conceitos da sociedade patriarcal através da diferença, isso de fato, não vem ao caso e não se constitui como fidedigna experiência de libertação.

As grandes questões de opressão são marcadas por esses dois temas: igualdade e diferença. Não sabemos lidar com o diferente. Não toleramos os que pensam diferentes de nós ou de nossas doutrinas, esses são hereges, leigos, ignorantes. Ora, por que somente nossa matriz de pensamento pode ser verdadeira? Muitos podem dizer, mas se não há critérios de verdade, cairemos num relativismo. A questão aqui, não é abrir mão de pressupostos, mas estar aberto ao outro, ao diferente, onde ambos possam ser interpelados. Relembro aqui uma frase de um professor que marcou minha caminhada teológica quando disse numa aula lá nos primeiros períodos: cada um é convencido daquilo que merece.

Tolerância, uma outra palavra interessante para refletirmos sobre a(s) diferença(s), pois uma visão absoluta, fechada em qualquer segmento, é extremamente prejudicial. A harmonia e coesão de um grupo não é construída com o fechamento de possibilidades, ao contrário, ocorre num processo dialético.

Poderia agora prosseguir a reflexão pensando em nossa intolerância diante do outro. Mas isso não seria condizente com nossa realidade, não é mesmo? Imagine, nós cristãos, que temos, ou pelo menos deveríamos ter, como modelo o Cristo. Aquele que andava com os excluídos, com os diferentes, e que por isso foi chamado diversas vezes de no mínimo beberrão. Que não se preocupava com o julgamento moral que pudessem fazer a seu respeito porque andava com os diferentes. Por que então deveríamos falar de intolerância neste contexto? Haveria marcas dessa intolerância em nossa história ou em nossas comunidades de fé? Talvez não, isso é somente mais um devaneio de alguém que resolve numa quinta-feira falar sobre diferença.

Devaneio! Talvez essa seja a palavra mais adequada para a nossa brevíssima reflexão de hoje, que não tem a mínima pretensão de ser acadêmica, teológica e nem mesmo pastoral, mas somente um convite a pensar a partir da(s) diferença(s) e não da igualdade.

Um abraço fraterno e até a próxima quinta.
Aline