quinta-feira, 2 de abril de 2009

Eliadiar: Igualdade e diferença

.

por Aline Grasiele

Queridos amigos e amigas,

Após duas semanas de pausa, retomamos com uma reflexão sobre IGUALDADE E DIFERENÇA. Peço licença para hoje, não falarmos de Eliade, apesar do título de nossa coluna ser Eliadiar. Certamente é possível encontrar no pensamento eliadiano argumentos para tratar a temática quando aborda, por exemplo, espaço homogêneo (sagrado) e não-homogêneo (profano). Mas hoje, já que vamos refletir sobre igualdade e diferenças, permitam-me fazer diferente.

Esta reflexão, diferente das anteriores, tem um caráter extremamente particular, parte não das minhas observações de pesquisa, mas de uma experiência vivenciada ao longo desses dias, digamos que de discriminação, ainda que velada. O fato é, sou MULHER, sou diferente, e não igual ao comumente aceito num determinado grupo.

Minhas amigas feministas que me perdoem e não pensem que estou desconsiderando toda a história de lutas e conquistas de igualdade de direitos da mulher, mas sinceramente não estou a procura de igualdade e sim das diferenças. E se não posso viver uma experiência de libertação dos conceitos da sociedade patriarcal através da diferença, isso de fato, não vem ao caso e não se constitui como fidedigna experiência de libertação.

As grandes questões de opressão são marcadas por esses dois temas: igualdade e diferença. Não sabemos lidar com o diferente. Não toleramos os que pensam diferentes de nós ou de nossas doutrinas, esses são hereges, leigos, ignorantes. Ora, por que somente nossa matriz de pensamento pode ser verdadeira? Muitos podem dizer, mas se não há critérios de verdade, cairemos num relativismo. A questão aqui, não é abrir mão de pressupostos, mas estar aberto ao outro, ao diferente, onde ambos possam ser interpelados. Relembro aqui uma frase de um professor que marcou minha caminhada teológica quando disse numa aula lá nos primeiros períodos: cada um é convencido daquilo que merece.

Tolerância, uma outra palavra interessante para refletirmos sobre a(s) diferença(s), pois uma visão absoluta, fechada em qualquer segmento, é extremamente prejudicial. A harmonia e coesão de um grupo não é construída com o fechamento de possibilidades, ao contrário, ocorre num processo dialético.

Poderia agora prosseguir a reflexão pensando em nossa intolerância diante do outro. Mas isso não seria condizente com nossa realidade, não é mesmo? Imagine, nós cristãos, que temos, ou pelo menos deveríamos ter, como modelo o Cristo. Aquele que andava com os excluídos, com os diferentes, e que por isso foi chamado diversas vezes de no mínimo beberrão. Que não se preocupava com o julgamento moral que pudessem fazer a seu respeito porque andava com os diferentes. Por que então deveríamos falar de intolerância neste contexto? Haveria marcas dessa intolerância em nossa história ou em nossas comunidades de fé? Talvez não, isso é somente mais um devaneio de alguém que resolve numa quinta-feira falar sobre diferença.

Devaneio! Talvez essa seja a palavra mais adequada para a nossa brevíssima reflexão de hoje, que não tem a mínima pretensão de ser acadêmica, teológica e nem mesmo pastoral, mas somente um convite a pensar a partir da(s) diferença(s) e não da igualdade.

Um abraço fraterno e até a próxima quinta.
Aline

Nenhum comentário: