sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Reflexão (85) - Como seria bom se o próximo papa fosse assim...



por Jefferson Ramalho

É muito difícil tratar de uma temática tão complexa como esta. Sim, a renúncia de um papa por ser algo que não ocorria há séculos, trata-se de uma questão complexa. Não pretendo aqui repetir tudo o que os jornais já falaram e ainda irão falar até o dia 28 de fevereiro. Também, não é minha intenção ficar explicando como se escolhe um papa num conclave, coisa que os jornais, revistas e reportagens também estão mostrando e ainda mostrarão em demasia nos próximos dias.

Li todos os artigos aos quais tive acesso, fosse através do facebook ou de alguns portais que tenho o hábito de visitar mesmo antes dessa barulheira toda. Da mesma forma, procurei assistir atentamente vários programas televisivos, entrevistas e documentários sobre o tema corrente.

O que me chamou a atenção, por exemplo, foram falas como as do teólogo brasileiro Leonardo Boff e de outros intelectuais e religiosos ligados à clássica e não extinta – embora muitos ainda insistam em afirmar isso – Teologia da Libertação. Afirmações estas que podem ser resumidas na surpresa que a renúncia de Bento XVI lhes causou, demonstrando humildade e, sobretudo, uma atitude de uma pessoa com mente sensata.

Estes que assim disseram foram os mesmos teólogos que sempre lançaram críticas ao cardeal Ratzinger – mais que ao papa Bento XVI – por sua postura repressiva e intolerante quando foi braço direito do antigo Sumo Pontífice João Paulo II. O atual papa, quando era o cardeal responsável pela Congregação para Doutrina da Fé, uma vez que trabalhava para defender a sã doutrina católica, fora encarregado pela convocação, julgamento, condenação e censura de diversos padres que, como Leonardo Boff, adotaram uma interpretação da fé à luz de referencias teóricos reprovados pela Igreja Católica; por exemplo, o marxismo.

Hoje, às portas da renúncia oficial de um papa e início de um conclave que elegerá um líder que poderá vir a ser a representação de um novo ciclo na história da Igreja Católica, sabemos o quanto não somente a instituição católica e seus fiéis, mas o mundo quase todo precisa de um papa absolutamente diferente de Bento XVI, de Ratzinger, como queiram chamá-lo.

Sim, ele ainda exerce uma influência significativa internacionalmente. Quando um presidente como Barack Obama diz que foi bom trabalhar com Bento XVI, parece ficar claro o quanto a influência de um papa ainda é real no mundo contemporâneo. Poderíamos listar inúmeras formas através das quais esta relação ampla de poderes entre a Igreja e os Estados acontece nos dias atuais. Não é necessário!

Mas, já que esta mútua colaboração política não deixará de existir por muito tempo ainda – não sabemos quanto – que possa ser com a participação de um papa que: não seja tão retrógrado, tão religiosamente medieval, tão comprometido com uma teologia dogmaticamente conservadora, tão defensor de fundamentos e de tradições absolutamente incompatíveis com o nosso século. A sensação que temos com Bento XVI é a de que vivemos quase mil anos antes do nosso tempo – só faltam as fogueiras.

Como seria bom se o novo papa fosse aquele que insistisse na importância de uma parceria da Igreja Católica com instituições, ONGs e até com a própria mídia em campanhas de combate à AIDS, de orientação tanto acerca do planejamento familiar como da educação sexual, conscientizando o mundo sobre o uso da camisinha e dos métodos contraceptivos!

Como seria bom se o novo papa fosse aquele que reconhecesse o valor das mulheres religiosas, ou seja, as freiras, ao ponto de oficializar a estas uma autoridade absolutamente igual à dos homens dentro da hierarquia da Igreja!

Como seria bom se o novo papa entendesse e, mais do que isso, convidasse a Igreja a entender junto com ele que homossexuais são simplesmente seres humanos e, que, por causa disso, como qualquer católico heterossexual, merece também uma vida comum e digna perante a igreja e a sociedade, inclusive tendo o direito de experimentar a felicidade e a emoção de uma cerimônia religiosa ao pé da cruz de Cristo, para oficializar diante de Deus o seu amor e a sua união com a pessoa com a qual quer viver até que a morte (ou o divórcio) os separe!

Como seria bom se o próximo papa derrubasse os muros do fundamentalismo tão protegidos por papas como Bento XVI e, consequentemente, permitisse que os sacerdotes pudessem assim como os leigos, terem o direito de construir uma família, ter filhos e, simultaneamente servir a igreja, porque isso é possível, sim!

Como seria bom que o papa que será eleito nos próximos dias escrevesse pelo menos uma encíclica afirmando que realmente a mulher é dona de seu corpo e, que, por esta razão, pode decidir se terá ou não aquela criança que foi gerada em seu ventre!

Como seria bom se o próximo papa não fizesse vistas-grossas para os inúmeros casos de pedofilia praticados por padres, no mundo todo. Punir, apenas o sacerdote, é pouco. É preciso punir a pessoa. O pedófilo é um criminoso como qualquer outro e deve ser julgado rigorosamente, sem o amparo e a proteção de uma Instituição que diz que não o apoia, mas que na prática lhe oferece todo o amparo. Lamentável!

Como seria bom se a Igreja, a partir do próximo papa, desse as mãos à ciência e à medicina, reconhecendo que pesquisas com células-tronco embrionárias são não somente um avanço, mas, principalmente, um instrumento divino descoberto pelo homem para salvar a vida de inúmeras outras pessoas!

Como seria bom se o próximo papa fosse um agente que promovesse a partilha, a eliminação da miséria em países aonde ainda se morre de fome, de frio ou até de calor, a solidariedade efetiva para com os desfavorecidos e a assistência aos doentes sem cobrar as fortunas que muitas vezes são cobradas em hospitais sob filiação católica, uma vez que sabemos ser o patrimônio da Igreja, graças às doações dos fieis do mundo todo, infinitamente maior que o salário de um médico ou que o preço de uma cara cirurgia ou de um caro exame!

Infelizmente, neste caso, devo ser sincero: não acredito que isso venha acontecer. Às vezes parece que a Igreja na condição de instituição tem seu compromisso firmado não com a humanidade, mas com o seu patrimônio e com o seu edifício de tradições dogmáticas.

Mas, não é caro nem proibido sonhar assim!

na esperança de um mundo melhor,
Jefferson

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sobre a renúncia de Bento XVI

                                                                                 

Amigas e Amigos:
Em breve escreverei sobre o Papa Bento XVI e sua renúncia. Estou acumulando artigos e depoimentos como os do teólogo Leonardo Boff e aguardando novas informações para que, quando escrever, o possa fazê-lo uma única vez; mesmo que isso seja só após o conclave. Até breve!
Abraços aos visitantes e seguidores do blog.
Cordialmente
Jefferson