sábado, 28 de dezembro de 2013

Reflexão (87) - As bem diferentes "erudições" de Jorge Mario Bergoglio e Joseph Aloisius Ratzinger


por Jefferson Ramalho

"Fale de amor, se for preciso use palavras." - São Francisco de Assis

Bergoglio critica Ratzinger não com palavras, mas adotando uma postura totalmente diferenciada. Logo, não é preciso dizer nada. Aliás, a gentileza, a educação, a forma polida de ser e agir anulam qualquer necessidade de Bergoglio ser áspero com quem quer que seja. Não que ele não possa vir a sê-lo um dia. Mas, a questão aqui é entre ele e seu predecessor. A propósito, as falas e os atos de Bergoglio são suficientes para explicitar a crítica e a denúncia direta que faz ao modelo episcopal que Ratzinger e tantos outros bispos e papas adotaram ao longo da história. Não é preciso dizer nada!


Ratzinger (o Bento XVI) é, para aqueles que conhecem um pouco de sua trajetória, conhecido por duas características fundamentais. Dono de uma mente brilhante, não há como negar que tenha sido um dos intelectuais católicos mais eruditos de seu tempo. Por outro lado, Ratzinger também é conhecido por muitos como sendo o grande inquisidor, aquele que fez o “serviço sujo” no pontificado de João Paulo II. Não foram poucos que tiveram de se apresentar ao Vaticano para prestar contas de suas “heresias” diante dele que era o cardeal responsável pela Congregação para Doutrina da Fé.


Bergoglio, poucos conheciam até aquele fim de tarde (já noite em Roma) de quarta-feira em que foi apresentado ao mundo como novo Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Um padre das periferias, sim! Não apenas das periferias de Buenos Aires, mas, sobretudo, da periferia do Planeta. Como ele próprio disse: “foram me buscar no fim do Mundo”.


Abrindo parênteses, este é o século XXI, para quem ainda não tinha percebido. Um século em que um negro se torna presidente dos Estados Unidos da América, em que um operário metalúrgico e depois uma mulher se tornam presidentes do Brasil, em que o Corinthians (time que mais odeio, mas um time do povo – como negar isso?) se torna Campeão da Copa Libertadores. Logo, o que faltava? Faltava um Papa não europeu; melhor, um Papa Latino-Americano. Perfeito!

Fazendo justiça com o nome que escolheu, Bergoglio – agora, Francisco – deixou claro o seu perfil quando esteve entre nós na Jornada Mundial da Juventude. Poderia citar aqui as muitas frases que explicitariam seu lado “periferia do mundo”, mas não se faz necessário. Poderia repetir tudo o que já foi dito sobre sua negação aos adornos de ouro, ao carro de luxo, ao aposento papal gigantesco, e às tantas outras e incontáveis ostentações que não foram rejeitadas por seus antecessores. Porém, não é preciso. Todos já estamos convencidos de quem Francisco é.

Aprendi neste ano inesquecível de 2013 – absolutamente contrário ao triste 2012, pelo menos para mim – que ser erudito é ser como uma pedra que é, pouco a pouco, polida. E quando vejo o modo polido com que Francisco se mostra, concluo que sua erudição é muito mais valiosa que a erudição intelectual de Ratzinger. Aliás, quem já teve a oportunidade de ouvir ou ler o testemunho de Leonardo Boff, um dos que teve de se apresentar ao tribunal do santo inquisidor dos anos 1980, percebeu que a intelectualidade polida de Ratzinger, conquanto existisse, esteve sempre à serviço de outros interesses.

O que concluo desse novo momento da igreja católica, em linhas gerais, é que haverá menos condenação e mais inclusão e tolerância, menos exclusivismo e mais diálogo inter-religioso, menos sermões longos e cansativos e mais mensagens de fé e esperança, menos fundamentalismo e mais abertura para uma nova época na história, não só da igreja católica, mas da sociedade mundial como um todo.

Que o apelo sempre sorridente de Francisco, sem muitas palavras e ostentações, mas com todos os gestos de gentileza e simplicidade, possa contagiar o mundo, para que as pessoas se tornem pessoas melhores, independentemente das religiões que seguem, da opção sexual que escolhem, do espaço geográfico que ocupam no planeta e da bandeira política que agitam. Feliz 2014 a todos e a todas! - Jefferson


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