sexta-feira, 6 de março de 2009

Eliadiar: André Eduardo Guimarães (1952-1991)

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por Aline Grasiele

Queridos amigos e amigas,

Hoje quero mudar um pouco o rumo da prosa para relembrar um grande pesquisador, André Eduardo Guimarães. Hoje (5 de março de 2009) faz 18 anos de sua morte. Pe. André era filósofo, licenciado em teologia moral e psicólogo. Sua dissertação de mestrado, defendida em 1980 no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, tem como título “A estrutura do sagrado na obra de Mircea Eliade”. Sua tese doutoral foi defendida em 1989 no programa de filosofia da Pontifícia Universidade Católica Gregoriana de Roma com o título “O Sagrado e a História: fenômeno religioso e valorização da história à luz do anti-historicismo de Mircea Eliade” e publicada em 2000 pela EDIPUCRS. Temos ainda um outro trabalho, publicado em 1999 pela EDIPUCRS com o título “A paternidade no confronto entre psicanálise da religião e fé”.

Pe. André Eduardo Guimarães dedicou-se com paixão a garimpar o pensamento filosófico de Mircea Eliade, constituindo-se, assim, na maior referência para os estudos eliadianos no país. Porém, devido ao seu falecimento precoce num acidente de automóvel do dia 5 de março de 1991 entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, muito de seu significativo material, resultante de suas investigações, ficou esquecido. Mesmo seus dois livros, posteriormente publicados, são pouco utilizados entre os pesquisadores.

Dom Eduardo de Benes Sales Rodrigues, Arcebispo da Arquidiocese de Sorocaba, em sua apresentação do livro “O Sagrado e a História”, publicação da tese doutoral de André Guimarães, ressalta que a obra é uma leitura indispensável para todos os que se interessam pelo fascinante tema das relações entre o sagrado e o profano, transcendência e história, religião e cultura. Portanto, resgatar essa interpretação e documentos de pesquisa de André Eduardo Guimarães é um importante objetivo de nossa pesquisa.

Deixo hoje, então, como homenagem ao Pe. André Guimarães e prosseguindo nossa reflexão, um pequeno trecho de sua dissertação sobre a camuflagem do sagrado

“Eliade ao observar atentamente vários comportamentos do homem moderno, foi levado a elaborar a noção de camuflagem, para designar o modo pelo qual o sagrado estaria cifrado nos recônditos e entremeios das condutas, até mesmo entre as mais ordinárias, do homem arreligioso. Na verdade, trata-se de mitos, ritos, símbolos, degradados na aparência. Estes, nas sociedades primevas, eram expressão de situações-limites, de crises existenciais. O que caracteriza estas situações é o fato de que colocam em questão a realidade do mundo e a presença do homem no mundo. Neste sentido, a experiência religiosa, posto do ponto de vista da dialética do sagrado (não há manifestação do sagrado, propriamente falando) como do ponto de vista da estrutura simbólica (não se percebe a ligação entre tal evento “dessacralizado” e o sistema simbólico capaz de conferir-lhe sua plena inteligibilidade). O mito é uma forma de interpretação religiosa da história. Ora, a camuflagem dos mitos significa que o homem moderno não deixou, pelo fato de se dizer dessacralizado, de construir seus “mitos”. Ao contrário, parece mesmo que as perspectivas mais dessacralizadas são as que revelam, no fundo, uma estrutura mítica.” (p. 189-190).
(GUIMARÃES, André Eduardo. A estrutura do sagrado na obra de Mircea Eliade. 1980,276f. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte)

Sobre essa temática deixo como referência, a obra de uma ex-aluna do Pe. André, Profa. dra. Cleide Scarlatelli, “A camuflagem do sagrado e o mundo moderno: à luz do pensamento de Mircea Eliade” publicada em 1998 pela EDIPUCRS.

Até a próxima quinta!!!

Aline

Um comentário:

Tatá Reis disse...

Fiquei feliz com a lembrança do Pe
André Eduardo. Fui sua aluna no curso de filosofia no ITASA/JF. Ficamos muito tristes com sua morte. Era o nosso professor querido. fui também, amiga e trabalhava com ele e o Dom Eduardo na Biblioteca do Seminário Santo Antônio. Inclusive a Biblioteca leva o seu nome e tem lá um acervo muito especial do Pe. André. sinto muitas saudades .... Fátima