quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Reflexão (35) - Calvinismo disfarçado - introdução
por Jefferson Ramalho
O que significa ser calvinista? Há quem diga que ser calvinista é acreditar na predestinação segundo o pensamento de João Calvino. Quem faz essa afirmação, ainda não entendeu o conceito do termo "calvinista".
Ser calvinista é muito mais do que isso. Há uma quantidade enorme de pensamentos defendidos por João Calvino e seus primeiros seguidores que fazem destes últimos, calvinistas autênticos. E isso não se refere apenas à questão do pensamento soteriológico do reformador.
Contudo, por causa da reação dos calvinistas do século XVII ao pensamento de Armínio, a soteriologia calvinista tornou-se a principal marca daqueles que se identificavam como seguidores da teologia de Calvino.
Hoje, passados 500 anos, está bastante claro que a maioria esmagadora dos protestantes e evangélicos é arminiana. Poucos aceitam os chamados 5 pontos do calvinismo. São capazes de aceitar que satanás será redimido no dia do Juízo, caso se arrependa do que fez, mas as soteriologias de Calvino e dos calvinistas do século XVII - que no fim das contas são a mesma soteriologia - são absurdos que jamais uma mente sã poderia aceitar.
Nos próximos dias pretendo escrever o que realmente penso sobre a soteriologia calvinista. Não sou totalmente calvinista por uma razão simples: O pensamento de João Calvino é amplo demais para eu dizer que sou calvinista só porque concordo com a sua soteriologia. É possível que haja outras reflexões no pensamento de Calvino que eu não conseguiria concordar. Por isso, prefiro dizer que sou calvinista apenas na sua proposta soteriológica.
Para concluir este preâmbulo sobre o que vou escrever a respeito desse tema nos próximos dias, gostaria de salientar que tenho sido profundamente alimentado espiritualmente por literaturas que têm sido publicadas atualmente na área de espiritualidade.
Uma delas é a obra do escritor Brennan Manning. Sem dúvida, Brennan é um autor como nenhum outro nos nossos dias. Mas percebo que conquanto ele critique o calvinismo em alguns momentos, ao mesmo tempo usa muitos argumentos que só o calvinismo - e antes de Calvino, Santo Agostinho - têm, quando resolve falar sobre a Graça. Parece que em muitas vezes - não poucas - Brennan Maning é um calvinista disfarçado.
Seus argumentos em defesa da Graça que é capaz de salvar sem pedir nada em troca e de fazer ao homem o que este jamais poderia fazer a si mesmo, são exatamente os argumentos que homens como Santo Agostinho, João Calvino e Martinho Lutero usavam quando defendiam a "doutrina" da predestinação, a idéia de salvação imerecida, a certeza do favor de Deus ao homem pecador etc.
É sobre isso que iremos refletir nos próximos dias. Convido você a esta aventura, pois lembre-se: calvinista, por incrível que pareça, às vezes também consegue pensar. Acho que eu sou um deles.
Abração!
na Graça,
Jefferson
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Reflexão (34) - A volta do filho pródigo
por Jefferson Ramalho
A parábola do filho pródigo é uma das mais conhecidas de toda a Bíblia.
Mas há detalhes contidos nessa estória inventada por Jesus, que apenas alguns mestres do conhecimento conseguiram perceber.
Na pintura, o quadro do holandês Rembrant foi a obra que melhor representou em forma de imagens o que a parábola ensina.
Na literatura, após uma análise concentrada e ao mesmo tempo repleta de sensibilidade diante da pintura de Rembrant, o sacerdote católico Henri Nouwen detalhou ainda mais a parábola, compartilhando em seu principal livro A volta do filho pródigo, tudo o que há de verdades espirituais naquele texto do Evangelho de Lucas.
Na música, repleto de simplicidade, ninguém além do compositor brasileiro Stênio Marcius conseguiu transformar em poesia, letra e música, o que o Mestre quis ensinar ao narrar a parábola.
Abaixo, a pintura de Rembrant. Após a pintura, a letra de Stênio Marcius.
Abração a todos!
na Graça,
Jefferson
Fim de tarde no portão (Stênio Marcius)
Fim de tarde no portão
A cabeça branca ao relento
Teimosia de paixão
Faz das cinzas renascer alento
Na estrada o seu olhar
Procurando um vulto conhecido
Espera um dia abraçar
Quem diziam já estar perdido
O seu amor é tão forte
Mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais fácil secar os mares
Apagar a estrela Antares
Que arrancar o amor do seu coração
Fim de tarde, se debruça no portão
Mas um dia aconteceu
E o moço retornou mendigo
O pai depressa correu
E abraçou o filho tão querido
Tragam roupas e o anel
Calcem logo os seus pés, milagre!
Vinho do melhor tonel
Tanta alegria em mim não cabe
O seu amor é tão forte
Mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais fácil secar os mares
Apagar a estrela Antares
Que arrancar o amor do seu coração
Fim de tarde, está deserto o portão
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Leia comigo (10) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno
Caros amigos,
Abaixo, seguem os fragmentos que selecionei do 2º capítulo do livro do professor Alessandro Rocha, entre as páginas 86 e 116.
Boa leitura!

"O
"
"Boff
"Deve haver 'um trabalho hermenêutico, que rompe com toda e qualquer possibilidade de dogmatização da teologia'."(p. 99)
"Todo o processo de desistoricização do discurso teológico serve a um propósito específico, que é a afirmação da univocidade da verdade. Uma vez garantida essa univocidade, faz-se necessária ainda sua manutenção, ou seja, o controle de toda discursividade dissonante. Mas, como pergunta Foucault, 'o que há enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem? Onde, afinal, está o perigo?' ."(p. 106)
"A teoria de Foucault sobre a análise do discurso é, sem dúvida, bastante adequada à análise do discurso teológico sistemático. Pretende-se aqui, no entanto, contribuir com uma análise que não se limita a Foucault, mas que a partir dele dialoga com outras perspectivas de produção de mecanismos de controle do discurso sistemático."(p. 109)
"O 'magistério protestante' é, portanto, quem seleciona os agentes do discurso, que irão reproduzi-lo em sua dimensão totalizante e universalizante. Os agentes são pessoas concretas, porém o “magistério” não é o somatório dessas pessoas, sendo, antes, a instituição guardiã do discurso unívoco. Ao ingressar nele, o agente deve abrir mão de sua condição concreta, bem como de seu horizonte existencial, para reproduzir e defender aquela verdade que supostamente emanou da essência das coisas."(p. 110s)
Na próxima semana tem mais.
Compre este livro no link:
http://www.editoravida.com.br/loja/product_info.php?products_id=250
Amanhã teremos uma nova Reflexão.
Abração!
na Graça,
Jefferson
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Reflexão (33) – Espiritualidade verdadeira
por Jefferson Ramalho
O que é espiritualidade? Diante de tantas obras publicadas a respeito desse assunto, fica difícil estabelecer um conceito único. E as obras que se dizem de espiritualidade, não são todas necessariamente escritas por cristãos protestantes. Na verdade, há espiritualidade segundo os conceitos católicos, segundo os conceitos espíritas e até mesmo segundo os conceitos budistas.
O fato é que esse tema tomou conta de boa parte das prateleiras das grandes livrarias, religiosas ou não. Mas antes disso, o anseio por uma espiritualidade verdadeira tomou conta dos corações e das almas das pessoas. Não apenas no Brasil, mas no mundo todo, fala-se muito, escreve-se muito e aspira-se muito uma espiritualidade autêntica que é capaz de trazer consigo uma bagagem repleta de paz, honestidade e acima de tudo, amor.
Neste sentido, conceitos teológicos à parte, as espiritualidades dos cristianismos católico e protestante, do budismo, do espiritismo ou de qualquer outra vertente religiosa, pregam a paz entre os homens, o fim das guerras, das corrupções, das infinitas formas de violência que existem, exceto a suposta espiritualidade dos fundamentalistas cristãos, islâmicos etc.
Enfim, são esses os objetivos da espiritualidade verdadeira, a qual pretende mostrar tais questões como sendo urgências que todo ser humano tem carregado dentro de si, tanto enquanto indivíduo como enquanto membro de uma sociedade.
Os que não se percebem, até conseguem enxergar o outro, mas o outro que peca, que está desviado da vontade de Deus, que está caído e que merece ser castigado por isso. Isso é o que eu chamaria de "Espiritualidade do fariseu". O fariseu, por ser extremamente ortodoxo e obediente à Lei, não consegue se enxergar, logo não consegue enxergar o outro. E quando enxerga o outro, o faz com uma capacidade enorme para acusar e julgar, sem piedade e sem misericórdia.
Quando nós enxergamos a nós mesmos, e isso é possível através dos exercícios de contemplação, silêncio e meditação – que são práticas comuns da espiritualidade clássica – automaticamente conseguimos enxergar o nosso próximo com outros olhos. Contemplamos nossa impureza e incapacidade, que nos leva a perceber o quanto somos carentes de misericórdia, graça e perdão. O quanto precisamos de uma mão estendida para nos ajudar e não uma mão apontando para nos acusar.
Jefferson
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Uma oração
Pai,
Sou fraco, ingênuo, pecador, soberbo, vingativo e perverso. Tudo isso habita dentro de mim. Não consigo me livrar dessas coisas. O que faço, Senhor?
Estou vivendo na própria pele a carência de alguém que sabe o quanto precisa de Deus, que o tem como Pai, mas não o sente agindo. Será que precisamos senti-Lo?
Deus não é palpável, nem sentido – na verdade, Ele é sem sentido – habitável, reduzível ao tempo e ao espaço, teologizável. Sua Soberania ultrapassa todas essas condições tão limitadas.
Ele é amor, é ilimitado, é santo de fato, é acessível, é limpo, essencialmente limpo. Eu não; eu sou imundo, sujo, e não tenho tempo para Ele. Tenho para minhas intenções perversas, que muitas vezes, ainda que sejam puras e sinceras, tornam-se perversas, quando se tornam substitutas do meu relacionamento com Ele.
Critico os que barganham, mas quantas e quantas vezes não penso em barganhar também? Desprezo a teologia da prosperidade, mas quando foi que aceitei trabalhar ou prestar serviços voluntários a alguém? Não apenas precisamos, mas também queremos dinheiro. Não estou aqui justificando as aberrações existentes no meio evangélico a esse respeito, mas estou pedindo ao Pai, para que despreze o meu pecado e me faça entender que a encarnação da Graça, acerca da qual tanto falamos, é realmente o perdão. E se os que fazem e estimulam a barganha, estiverem no céu? Eu vou me revoltar com Deus por causa disso?
O perdão que devo conceder ao meu irmão, não posso produzir em mim. É obra do Senhor!
Obrigado, Pai, por ter me perdoado, mesmo sabendo que eu não perdoaria.
constrangido por causa do Teu grande amor,
Jefferson
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Leia comigo (9) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno
Caros amigos,
Abaixo, seguem os fragmentos que selecionei do 2º capítulo do livro do professor Alessandro Rocha, entre as páginas 70 e 84.
Boa leitura!

"É na abertura para a transcendência que homens e mulheres encontram o terreno apropriado para a experiência de fé." (p. 76).
"
"Embora pareça claro que o discurso teológico não possa prescindir da cultura como instância que promove mediação a partir da linguagem (de determinada linguagem), permitindo assim seus postulados, isso não se verifica no caso da teologia sistemática manualista (que é o objeto desta pesquisa). O que se pode perceber é a cristalização de uma mediação cultural (a metafísica) que impede qualquer outra. Dessa forma, o arco de elementos que compõe o horizonte existencial de homens e mulheres concretos não é identificado no interior desse discurso." (p. 84).
Na próxima semana tem mais.
Compre este livro no link:
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Amanhã teremos uma nova Reflexão.
Abração!
na Graça,
Jefferson
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Reflexão (32) - Autoridade corrompida
por Jefferson Ramalho
“Igreja com autoridade para evangelizar pessoas!” É o que diz o lema de uma determinada comunidade em frente da qual eu passei no sábado, em uma cidade do litoral paulista. Embora minha reação imediata tenha sido de espanto, não resisti à tentação e acabei soltando uma piadinha para quem estava ao meu lado: E daria para evangelizar cavalos, em vez de pessoas? É cada uma que a gente vê! Obviamente, as gargalhadas foram inevitáveis. Minhas e de quem estava comigo.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Reflexão (31) – Manipuladores manipulados
por Jefferson Ramalho
É muito comum ouvir em seminários teológicos que o neopentecostalismo conseguiu chegar aonde chegou, devido à habilidade que os seus líderes têm para manipular as massas. Essa não é uma afirmação incorreta.
na Graça,
Jefferson