terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Leia comigo (10) - Teologia sistemática no horizonte pós-moderno


Caros amigos,


Abaixo, seguem os fragmentos que selecionei do 2º capítulo do livro do professor Alessandro Rocha, entre as páginas 86 e 116.

Boa leitura!

"[Nas palavras de Leonardo Boff], Deus é identificado com os conceitos que dele fazemos. Ele habita nossos conceitos e nossas linguagens. Elaboramos doutrinas sobre Deus e sobre o mundo divino, doutrinas que se encontram nos vários credos e nos catecismos. Com tal procedimento tentamos encher de sentido último e pleno nossa vida. Deus pode ser encontrado na intimidade do coração."(p. 86s)

"Uma vez constituído, o discurso sistemático sofre o risco da própria natureza, ou seja, de sua condição sistematizadora. Esse risco consiste em sua identificação como uma peça acabada capaz de comunicar sentido para além das fronteiras da cultura que o gerou. Ao abrigar em seu interior um sistema, esse discurso pode acabar servindo somente como instrumento sistemático, ou seja, como seu reprodutor, iniciando assim um círculo que acaba por excluir tanto a experiência de fé originária quanto qualquer outra mediação cultural."(p. 89)

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O método deve estar, portanto, a serviço do discurso teológico, quanto a permitir que se realize a cognoscibilização da . Ou seja, que a experiência de tenha na mediação cultural um veículo capaz de se aproximar do horizonte existencial completo de cada comunidade, em qualquer tempo histórico-cultural, para que assim o discurso sistemático construído nesse espaço seja relevante a essa comunidade."(p. 93)

"Diferentemente dos discursos unívocos e apologéticos e mesmo dos documentos escriturísticos, a fé em si não é 'firme fundamento'. Ela torna-se fundamento à medida que aquele que a experimenta reage à sua insegurança, ou mesmo à inexistência desses fundamentos."(p. 79)

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Sem a dimensão da mediação cultural, haveria uma polarização entre experiência de e discurso sistemático, uma incomunicabilidade que inviabilizaria qualquer discurso minimamente relevante. Sem mediação cultural, a experiência de não transmitiria nenhum sentido existencial, e o discursos sistemático não passaria de peça literária cristalizada, fria e absolutamente irrelevante, dada tão-somente à reprodução sistemática de corte apologético."(p. 82)

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Boff também discute a questão: 'Deus transcendente é representado como o Deus acima do mundo e, o que é pior, fora do mundo [...] Representado como totalmente fora do mundo, Deus de fato não seria experimentável'. E conclui: 'Esse Deus está muito próximo do Deus do deísmo [...] Não é um Deus que se abaixa com profunda simpatia para com o ser humano. Não assume a nadidade humana. Mas conserva, contrariamente ao que diz Paulo [v. Fp 2.6,7] uma majestática e transcendente divindade'."(p. 97s)

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Deve haver 'um trabalho hermenêutico, que rompe com toda e qualquer possibilidade de dogmatização da teologia'."(p. 99)

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Todo o processo de desistoricização do discurso teológico serve a um propósito específico, que é a afirmação da univocidade da verdade. Uma vez garantida essa univocidade, faz-se necessária ainda sua manutenção, ou seja, o controle de toda discursividade dissonante. Mas, como pergunta Foucault, 'o que há enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem? Onde, afinal, está o perigo?' ."(p. 106)

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A teoria de Foucault sobre a análise do discurso é, sem dúvida, bastante adequada à análise do discurso teológico sistemático. Pretende-se aqui, no entanto, contribuir com uma análise que não se limita a Foucault, mas que a partir dele dialoga com outras perspectivas de produção de mecanismos de controle do discurso sistemático."(p. 109)

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O 'magistério protestante' é, portanto, quem seleciona os agentes do discurso, que irão reproduzi-lo em sua dimensão totalizante e universalizante. Os agentes são pessoas concretas, porém o “magistério” não é o somatório dessas pessoas, sendo, antes, a instituição guardiã do discurso unívoco. Ao ingressar nele, o agente deve abrir mão de sua condição concreta, bem como de seu horizonte existencial, para reproduzir e defender aquela verdade que supostamente emanou da essência das coisas."(p. 110s)

Na próxima semana tem mais.

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Amanhã teremos uma nova Reflexão.

Abração!

na Graça,

Jefferson

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