quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Reflexão (18) - O coração tem razões...


por Jefferson Ramalho

Blaise Pascal (1623-1662) é um dos meus filósofos preferidos. O outro é Kierkegaard.Pascal converteu-se radicalmente à fé cristã quando tinha seus 23 anos. Entrara em contato com o jansenismo - ramificação católica daquela época - e assumira a convicção acerca da perspectiva da Graça segundo Santo Agostinho.

Aos 31 anos decidiu deixar tudo para viver uma vida retirada na solidão do mosteiro onde vivia sua irmã Jacqueline, que era freira.

Na filosofia, a posição equilibrada, conseqüentemente crítica ao Racionalismo e ao Empirismo, marcou a sua identidade enquanto pensador. Na matemática e na física, conquanto nunca tenha freqüentado a escola, destacou-se por aos 18 anos ter inventado a "pascalina", que foi o primeiro exemplo de máquina de calcular.

Na reflexão teológica unida à linguagem filosófica, Pascal destaca-se também por ter apresentado a famosa aposta de Deus.

Muitas outras reflexões foram propostas por este gênio que acabou morrendo precocemente. Certamente, se ele tivesse vivido por pelo menos mais 20 anos, muito mais teria produzido. Mas para cada um o Altíssimo tem um propósito. Como diz a canção do meu amigo Stênio Marcius: "nossa vida é obra de tapeçaria e ELE é o tapeceiro".

De todas as máximas de Pascal, a que mais me fascina é a que diz: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Fantástico!

Ele não está afirmando que os sentimentos e a inteligência são dois antagonismos, mas que na existência humana existem duas maneiras de chegar ao conhecimento: o intuitivo e o discursivo.

A fé, por exemplo, seria um conhecimento do coração, pois jamais a razão conseguirá conduzir o homem à compreensão de determinadas convicções que só podem ser aceitas por meio de um elemento chamado "fé".

No amor não é diferente. Existem sentimentos inexplicáveis no coração do homem, capazes de conduzi-lo à covardia, ao medo, à inércia e à passividade. Nem sempre a reação é contrária, ou seja, a de se tomar atitudes. "Cada um tem de Deus o seu dom", já dizia Paulo. Tudo porque o coração tem razões, ou seja, motivos, segredos, sentimentos, particularidades inconfessáveis e impenetráveis, que a razão, ou seja, a capacidade de raciocinar, de filosofar, de compreender e de simplesmente pensar, jamais conseguirá tecer explicações, por mínimas que sejam.

De qualquer modo, este é o legado de Pascal: ter nos deixado esta máxima reflexiva que consegue transformar em palavras um pouco do que nos habita, ainda que o que esteja morando em nossa alma, verdadeiramente seja muito mais que palavras.

Beijão a todos!

na Graça,

Jefferson

Nenhum comentário: