domingo, 5 de setembro de 2010

***** A historiografia cristã na História (parte 2)

Caros e Caras Colegas,

Depois de muito tempo prometido, segue meu segundo texto da série 'A historiografia cristã na História'. Dividido em três momentos, este é o primeiro fragmento desta parte 2 da série.

Abaixo da imagem a seguir, a qual retrata o grego Heródoto (c.484-425 a.C.), aquele que foi chamado de "o pai da História', segue o meu texto, no qual penso na possibilidade de um diálogo entre a clássica autonomia do filósofo e o ofício do historiador, neste caso, particularmente, do historiador do cristianismo.

A bibliografia será fornecida na íntegra ao final da série.

Espero que curtam.

Abraços,
Jefferson


por Jefferson Ramalho

Preâmbulo ao diálogo pretendido

A temática de pesquisa com a qual temos trabalhado está delimitada entre a historiografia clássica da religião cristã que tem seu precursor em Eusébio de Cesaréia (c. 260 – c. 339) e a possibilidade de uma inovação desta historiografia, através do rompimento com o estilo apologético de Eusébio e a adesão de um método historiográfico interpretativo, ou seja, com maior autonomia.

O estilo de Eusébio é marcado pelo discurso triunfalista e defensivo de uma identidade religiosa em transição naquele período. O fim da perseguição religiosa do império romano e o começo de uma aliança deste império com a cristandade são os fatores históricos que caracterizam todo o triunfo que permeia a obra de Eusébio.

Para que este rompimento se estabelecesse, o imprescindível seria que o historiador assumisse uma postura autônoma, permitindo sua ação de intérprete, de hermeneuta, até mesmo de filósofo, e não simplesmente de um narrador, um mero reprodutor do passado.

O historiador Henri-Irénée Marrou defende esta inovação no trabalho historiográfico ao responder à pergunta: o que é a história? Marrou responde afirmando que “a história é o conhecimento do passado humano. [...] Dizemos conhecimento e não, como outros, ‘narração do passado humano’, ou ainda ‘obra literária que visa a revivê-lo’.” (Marrou, 1978, p. 28)

Conhecimento do passado humano como definição de história não se trata de uma perspectiva rankeana, onde a história é vista, como uma reprodução do passado tal como aconteceu. Antes, se refere ao conhecimento que interpreta o passado, tanto a partir de fontes consideradas oficiais como de fontes materiais, arqueológicas, orais, que também têm o seu valor enquanto recurso histórico.

O historiador intérprete se dedica à avaliação da historiografia já existente, pois o modo como historiadores positivistas reproduziram o passado, cabe ao historiador interprete avaliar. Para isso, se faz necessário explorar o debate que Marrou coloca na introdução à sua obra, entre a história e a filosofia, entre o historiador e o filósofo.

A estrutura deste texto, portanto, está dividida no sentido de demonstrar as relações entre alguns pontos da filosofia conforme o que foi trabalhado no primeiro semestre de 2010 na disciplina de Filosofia da Religião, ministrada pelo professor Luiz Felipe Pondé, no Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e o projeto de pesquisa que estamos desenvolvendo no mesmo Programa, cuja preocupação tem como objetos temáticos a obra de Eusébio de Cesaréia, seu estilo historiográfico e a necessidade de uma inovação em história das religiões, neste caso, especificamente, da religião cristã.

Como experimento de aplicação e exemplificação desta autonomia que o historiador passa a assumir, entendemos que entre tantas, uma situação caracteriza bem a transição vivida pela cristandade no início do quarto século de nossa era, quando o império romano resolveu favorecê-la. Observaremos as relações de poder entre o imperador Constantino e os superiores eclesiásticos daquele momento, sendo Eusébio um deles.

Neste sentido, será possível compreender um pouco desta proposta de relação entre o trabalho do filósofo e a tarefa do historiador, e este, não mais como um simples contador de histórias, mas como um intérprete do passado e do que foi dito sobre ele.

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