sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Reflexão (72) - (IN) Felizes Natais
por Jefferson Ramalho
Como desejar Feliz Natal se para muitos ele não o será?
Como desejar Paz, se muitos estão em guerra, dentro de casa, da família, onde um apelo à reconciliação não se mostra suficiente?
Como desejar Saúde, se o câncer e tantas outras ‘pragas’ são causas de tantas lágrimas que na noite de hoje não deixarão de ser derramadas?
Como desejar Alegria, se a dor da perda, da morte, da saudade, invadiu o coração e a alma de tantos e tantas, de um jeito que parece até que nunca mais vai sair?
Como desejar Fartura, se a fome, o desemprego, a falta de recursos, ainda continuam presentes nas vidas de tantos seres humanos?
Como desejar Grandes Conquistas para o Ano que virá, sendo que nem o básico ainda se faz real na realidade precária de vida de tantos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai?
Que Pai é esse? Que Pai é esse que permite tanta desgraça, tanta desigualdade, tanta dor, tanta escassez, tanto sofrimento?
Ao mesmo tempo, que Pai é esse que parece estar em conluio com tanto consumismo, com tantas mentiras ditas em Seu Nome, com tantas manipulações feitas para Sua Glória?
O fato é que os Natais passam, acontecem, e as coisas não mudam. O cenário é sempre o mesmo! Não tenho problemas com a hipótese de que o Natal que conhecemos e celebramos, existe para fins comerciais. Isso é bobagem! No Natal, os que podem, e eu por (in)justiça sou um destes, gostam de comer e beber muito bem, mesmo! Tudo do bom e do melhor!
Não fazer, no momento da ceia de Natal da família, uma reflexãozinha em memória do suposto aniversariante não vai fazer nenhuma falta, mesmo porque, Ele, nunca ligou pra essas coisas. Ele espera muito mais de nós no que tange outras questões! Podem ter certeza!
O grande problema é que os Natais de 2011, 2012, 2013...2050, 2500 etc etc etc também serão assim. Sempre terá gente com alguma doença mortal, sempre terá gente com fome, sempre terá gente com câncer, sempre terá gente sentindo a dor da perda!
Sendo assim, o que fazer? Acredito que nestes momentos, a melhor opção, é ser alguém verdadeiramente solidário.
Não deseje Feliz Natal a quem chora, mas chore com essa pessoa!
Não deseje Feliz Natal a quem perdeu um ente querido, mas simplesmente lhe dê um abraço bem apertado e em silêncio, sem dizer nada (não há o que dizer)!
Não deseje Feliz Natal a quem tem fome, mas divida, compartilhe o que você tem!
Não deseje Feliz Natal de maneira hipócrita a quem lhe agrediu, mas abrace-o e peça perdão, ainda que a culpa do conflito não tenha sido tua, pois na ótica do seu agressor, o culpado foi você!
Isso tudo, com certeza, será muito melhor que fazer uma reflexãozinha sobre o nascimento de Jesus, pois imitá-lo é melhor que bajulá-lo.
Pense assim: um dia serei eu que no Natal estarei sentindo a falta de alguém que perdi, um dia serei eu ou alguém que amo que poderá estar passando seu Natal no leito de uma UTI, um dia serei eu que poderei não ter uma mesa farta para compartilhar com meu próximo!
Se o seu Natal de hoje à noite estiver carregado desta consciência, tenha certeza que os votos de Feliz Natal que você der e que você receber serão bem mais constituídos de significado em seu coração e em sua alma!
Um Feliz Natal!
Até 2011, se o Aniversariante assim permitir!
na Graça,
Jefferson
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Meu irmão e amigo Jefferson Ramalho! Graça, paz e bem! Muito bom o seu texto, pois me faz lembrar o verdadeiro sentido da encarnação do Verbo, Deus feito homem, em sua plena identificação com a condição humana, pois viveu a vida de servo, e nos convida a sermos servos uns dos outros. Entretanto, faço a ressalva de que, se podemos chegar à conclusão de que "imitá-lo é melhor do que bajulá-lo", é justamente porque refletimos acerca da vida dele. Talvez nunca tenha havido na história do cristianismo uma pesssoa que se identificasse com a dor humana como Francisco de Assis, e ainda assim, ele foi o "inventor" do famoso presépio de natal, dando-lhe um novo significado litúrgico. Talvez também não tenha havido um profeta social como João Crisóstomo, que condenou a riqueza e o poder na face do rico; entretanto, ele operou uma reforma litúrgica como patriarca de Constantinopla que é utilizada até hoje pela Igreja Ortodoxa. Por isso, em minha opinião, é preciso parar com esta tendência protestante e historicamente puritana de opor coisas que não precisam ser opostas, como celebração e misericórdia, liturgia e ação social, num verdadeiro espirito "kata olon" (segundo o todo). Se descartarmos os símbolos, o mais provável que o conteúdo prático também deixe de exitir...
Postar um comentário