sábado, 14 de agosto de 2010

Reflexão (71) - Sobre a matéria de ÉPOCA


por Jefferson Ramalho

Falar de uma nova reforma, o resgate de um cristianismo abandonado na essência, acusar os neopentecostais de pilantras e safados... Concordo com todos os argumentos que são colocados contra este neopentecostalismo imundo que causa vergonha a todo cristão evangélico sério que não segue o evangelho em troca de prosperidade financeira, por exemplo. Mas quando leio uma matéria como a que a Revista ÉPOCA publicou na semana passada, não consigo ver apenas como a oportunidade de manifestação de vozes revoltadas e insatisfeitas com estes movimentos liderados por verdadeiros charlatães.

Para mim, não se trata apenas disso. Não que eu negue tudo o que escrevi aqui no blog sobre o neopentecostalismo. Não é isso! Só que está nítido que esta briguinha é mais uma daquelas disputas de gente que diz: “__eu entendi o evangelho!” “__eu falo a verdade!” “__eu estou certo em minha interpretação da Bíblia.” Só que o Lutero já fez isso no século XVI e vejam no que deu! O protestantismo já nasceu bagunçado. Só no século XVI já existiam seguramente mais de dez diferentes movimentos que se identificavam seguidores da maneira correta de se interpretar a Escritura.

Ou seja, nasceram protestantismos distintos doutrinária e politicamente – principalmente, politicamente – dizendo-se verdadeiros seguidores do evangelho de Jesus de Nazaré. Como se não bastasse, os protestantismos se dividiram ainda mais nos séculos XVII, XVIII e XIX. Típico do protestantismo, foram divisões atrás de divisões.

Para consolidar o estrago, no século XX nasceu nos Estados Unidos – claro, só poderia ter sido – o Pentecostalismo. Esta “praga divina”, em menos de cinco anos chegou aqui no Brasil e, como uma verdadeira epidemia, invadiu nosso território e só cresceu, cresceu e cresceu. Sem ter de perder tempo aqui resumindo esta história de descaracterização evangélica no Brasil, chegamos à consolidação do estrago iniciado com o pentecostalismo. Falo do novo pentecostalismo, ou seja, o tal do neopentecostalismo.

Conforme este movimento crescia, os tradicionais que aqui chegaram no século XIX foram desaparecendo. Presos em seus fundamentalismos e dogmatismos, permitiram que o pentecostalismo e o neopentecostalismo fizessem aquilo que eles deveriam ter feito desde que chegaram. Por mais que neguem isso, a impressão que tenho é que os tradicionais criticam os pentecostais e neopentecostais porque estes cresceram e aqueles não. Como argumento, apontam as picaretagens dos neopentecostais, como se nas igrejas tradicionais não existissem maracutaias internas.

Agora, com raízes tradicionais e revoltados com o crescimento inegável dos neopentecostais, aparecem estes aí que, em outras palavras estão dizendo também, como muitos já disseram em dois mil anos de história: “__nós estamos com a verdade!”

Que me desculpem todos os citados e entrevistados na Revista. Ed René e Bispo Robinson, com os quais fiz eventos nos tempos de Editora Vida, Ricardo Gouvêa que foi meu professor nos tempos de Mackenzie, Ricardo Agreste e Ricardo Gondim que nos tempos em que estive envolvido no ramo editorial tive a oportunidade de conversar algumas vezes, mas tenho que concordar com o sociólogo Ricardo Mariano. Aliás, o que não faltou – mas sobrou nesta matéria, foram os Ricardos! Faltou um! Ricardo Bitun, grande amigo, professor, pentecostal, um dos raríssimos que conheço dos quais digo com toda tranqüilidade e sem medo de errar: “__este é um ser humano de verdade!” Mas, voltando, devo concordar com o Ricardo Mariano. Está claro que trata-se de uma concorrência. Uma briga de gente que quer conquistar o público do outro.

Pare de beber Coca Cola, mas beba Pepsi porque... blá, blá, blá...

Não assista ao jogo na Band, mas na Rede Globo porque... blá, blá, blá...

Não compre um carro da Fiat, mas da Ford porque... blá, blá, blá...

É a mesma coisa, caramba!
O Silas Malafaia diz que está certo!
O R.R.Soares diz que está certo!
O casal Hernandes diz que está certo!
O Edir Macedo diz que está certo!...

Só que o Ed René diz estar certo!
O Gondim também diz! O Ariovaldo também diz!...

E o Caio Fábio? Este sim, entendeu o Evangelho! É quase um Messias!
Não contribua com o programa do R.R. Soares, nem com o Malafaia!
Contribua com o Vem e Vê TV, do Caio Fábio, porque este sim é sério!
Caramba! Mas o Malafaia também diz que é sério! O R.R. também o diz!

E agora?

Nietzsche estava certo! Definitivamente estava certo!
Cristão mesmo, só existiu um! Só que este já morreu na cruz!

Como sabemos que aquela frase “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem!” foi um acréscimo de vários séculos depois de Jesus, ou seja, ele muito possivelmente nunca disse tal frase, fico imaginando como ele se dirigiria a este bando de concorrentes que se dizem seus autênticos porta-vozes! Talvez, quem sabe, ele diria: "__até os fariseus, com toda hipocrisia deles, foram melhores que vocês!"

Até a próxima!

Jefferson

10 comentários:

TORQUATO disse...

Caro Amigo, graça e paz!

Gostaria de deixar aqui minha opinião:

Entendo toda sua indignação e digo que participo dela, concordo contigo quando dizes que o protestatimo não começou da maneira mais correta e que há sérios problemas dentro dele, concordo também que o "Mal" instaurado em nosso país seja culpa da ineficácio deste sistema.
Concordo em parte com Roberto Marino, porem não posso concordar em colocar todas as vozes em um mesmo tubo e dizer são todos iguais, mesmo porque isto é generalização e não compactuamos com isto.
Gosto e sempre que posso ouço ou vejo o Rev. Caio Fábio e sei que é uma voz que clama no deserto, porem acredito que exista outras vozes profetizando a moda antiga.

Quando você diz que o Rev. Caio Fábio é o único que entendeu verdadeiramente o evengelho, você esta criando um fundamentalismo dogmático e com isto não posso concordar. Embora eu não siga os passos do Rev. Caio Fábio, não significa que eu e outras pessoas que concordam e discordam de alguns pontos são todos farinha do mesmo saco. Gosto de sua indignação e acredito ser ela salutar, gostei de sua resposta a matéria da revista época, porem não concordo com a generalização.

Um abraço meu caro amigo, e que possamos juntos continuar nossa caminhada árdua, porem muitissíma nobre.
Hailton de Andrade Torquato

Unknown disse...

Concordo com que você escreveu!
Fiquei meio triste com tudo isto, não estava entendo o pq de toda essa briga e competição, entre os que inicialmente estavam batendo nas heresias e barganhas neopentecostais.
:-( Entendi que estão repetindo a mesma concorrência de sempre entre instituições e seus líderes.

Um abraço.

Unknown disse...

O problema dos nossos comentários amigão é a história, nós já sabemos aonde ela irá dar né...vc citou Nietzsche, eu vou citar Foucault, onde tem ser humano tem relações de poder e aí, podemos dizer que já vimos este filme antes, porém vamos continuar a acreditando na graça e na misericórdia de Deus, um abraço.
Jefferson uma outra coisa como para adquirir seu livro para uns cinco alunos meus?
PS. Só deixe de ser um pouco ácido.

De seu amigo e companheiro,
Roberto Wagner, Pb.
Diretor do IBBC - Mandaqui.

Anônimo disse...

Amigo, graça e paz!

Ouve um mal entendido de minha parte em um dos quesitos, você não esta defendendo o "Reverendo" ou mesmo qualquer outro e sim questionado-os e com muita tristeza no coração tenho que concordar com você. Digo tristeza porque fico sem saber o que fazer com tanta gente presa em gaiolas monumentais sem saber mais voar onde para onde ir. Faltam homens como Rubem Alves (Religião e Repressão - Teológica & Edições Loyola) e sobram mercenários. O que fazer meu amigo? Só sei de uma coisa: Iremos gritar juntos no deserto, talvez consigamos livrar alguns passáros das gaíolas e armadilhas outros talvez não tenha mais solução.

Sou grato a Deus por conhecer pessoas de coragem e convicção apurada como você.

Continuemos nossa árdua jornada.

Unknown disse...

Não posso deixar de postar minha opinião diante de tamanha indignação...rsrs!
Concordo plenamente com seu "desabafo" quanto aos malefícios da teologia neopentecostal e, sua influência tanto em pentecostais como em alguns tradicionais. Porém, não deixo de ver a reportagem como um esclarecimento de que nem todos os “cristãos", corroboram com o circo chamado "evangélico" existente principalmente nos últimos anos. Se é difícil saber o que é certo, não é tão difícil enxergar o errado, o engano e a perversão da moral e da ética estampada nos discursos e práticas destes falsos mestres.
E mesmo diante de tanta devastação da palavra, o fato é, precisamos falar dAquele manso nazareno que passou por essa terra, nos trazendo liberdade e esperança de uma nova realidade, pois isto está não em um ou outro versículo, mas em todo o novo testamento.
É verdade, Nietzsche estava certo, e é por isso que, sem generalizar, não podemos desistir...

Grande Abraço!

Leandro França

Cida Souza disse...

Jefferson, estava angustiada com o seu silencio,pois bem antes dessa matéria voce já nos fazia pensar sobre tudo isso,penso como Leandro o que precisamos mesmo é falar DELE, que de fato nos trouxe liberdade e esperança. meu bj. a voces.

Joseph Ma. disse...

Ola! Veja isso daqui por favor: http://juliosevero.blogspot.com/2010/08/revista-epoca-fala-sobre-novos.html
Ate mais e fique com Deus!

Jonadabe Rios disse...

Disse tudo que penso em relação a isso. Mas será que esse tipo de critica (que também faço)também não é mais um “__nós estamos com a verdade!”?

Abraços.

Erik disse...

Sem acréscimos mano,

O que realmente falta é verdade na existência, simplicidade na vida, ouvir a vóz da consciencia, exergar no próximo a sí mesmo...

E andando assim saber que que não é aquele que diz "Senhor, Senhor, mas aquele que faz a vontade do PAI" que herda o reino...

O resto é bandeira, jogo de interesses, ainda que os próprios achem que não, e mesmo em seu auto-engano não saibam que estão indo contra a verdade que não tem bandeira alguma, ainda assim estão...

Por isso acredito que o grande chamado de Jesus não é para ser "cristão", "evangélico", etc. mas é para SER...

Apenas SEJA

Valew Jeff

Saudades

Grande Abraço

Erik

jubis disse...

entrei neste blog por acaso, gugando para ver se encontrava quem eram teólogos brasileiros, para por numa dissert. de mestrado, porém, nenhum desses que vc falou, como alguém comentou começou ou escreveu teologia nenhuma. Aff e ainda mais descobrir que vc falou mal do meu marido Gondim, se vc ler as coisas dele verá que ele não se arvora que tem a verdade, só não aceita as manipulações do mundo evangélico que todo mundo tem que ler na cartilha dos fundamentalistas. Quando se fala de alguém, seria bom ler primeiro e ouvir o que ele fala e escreve!
Agora, quem sai do Mckenzie, só pode mesmo falar mal dos não fundamentalistas!