terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Reflexão (75) Lutando pela igreja? Qual igreja?


por Jefferson Ramalho

Lutando pela igreja? Qual igreja? A do Nazareno? Não se preocupem, amigos; Ele não precisa que ninguém lute por ela. Jesus é Homem o suficiente para defendê-la.

Ou será que estão falando das inúmeras denominações evangélicas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo? Ah, estas muitos de vocês precisam defender, mesmo, pois são suas igrejas, não do Nazareno.

A igreja do Nazareno não tem logotipo, não tem estatuto, não é pessoa jurídica, nem possui nome fantasia. A igreja do Nazareno não possui e jamais possuirá o patrimônio que as igrejas de vocês possuem.

E querem saber? Vocês precisam defender seus patrimônios, mesmo. Vocês, de uma maneira espetacular, sem pregarem teologia da prosperidade como muitos por aí, atingiram um patamar tão elevado que a igrejinha do Nazareno jamais conseguiria.

Qual salário vocês recebem? Que carros vocês dirigem? Em quais bairros vocês moram? Quais marcas de roupas vocês vestem? Em quais escolas seus filhos estudam? Quanto vocês cobram por seus eventos biblicamente corretos?

Agora, não venham me dizer que os empreendimentos de vocês são a continuidade daquilo que o Altíssimo, através do Nazareno, iniciou há aproximadamente dois mil anos. Por favor, pra cima de mim, não!

Qual diferença seus congressos evangelística e socialmente corretos têm causado na sociedade? Os cafés que organizo e organizei nunca tiveram tal pretensão. Sempre foram encontros sem pretensões evangelísticas ou sociais. O intuito nunca passou de intelectual e o custo nunca ultrapassou os impagáveis R$ 10,00 para que todos possam tomar um bom café da manhã, custear as despesas – não os luxos eclesiasticamente corretos – dos palestrantes, e as despesas de divulgação impressa e virtual.

E vocês? Quanto vocês cobram por suas vozes preciosas e mentes brilhantes? Nada? Mas ficam emburrados quando não rola nenhuma ofertinha! Será que as suas palestras, na verdade, não são mais um “show da fé” com outro nome e estilo? Falemos a verdade: é grana ou não é grana que movimenta o negócio de vocês?

Quero deixar claro, aqui, que tem muita gente boa que se sentirá atingida injustamente ao ler mais esse desabafo. Outros, que deveriam ler e se enxergar, nem tomarão conhecimento que essas linhas foram escritas. Se souberem e lerem, dirão a si mesmos: mais uma desse Jefferson idiota! Piores serão aqueles que imediatamente se doerão pelo que estão lendo, pois são aprendizes que sonham em um dia não ter de fazer nada da vida para depender de uma igreja com a desculpinha esfarrapada de que estarão cuidando de gente!

Como já ouvi de alguns sábios de cabelos brancos: Serviu-lhe a carapuça? Então leva essa!

E aqueles puxa-sacos, bajuladores e bajuladoras de teólogos e pastores que, na necessidade de tentar garantir um futuro incerto, me chamarão mais uma vez de arrogante, frustrado e ingênuo!

A crítica que mais me chamou a atenção foi aquela que me colocou como decepcionado com a igreja institucional porque não consegui o que queria quando estive nela. Veja: isso não é crítica. É verdade! Eu queria realmente, como alguns – talvez a maioria – dos que criticaram meu texto "Sem igreja, graças a Deus!" poder um dia viver às custas de gente simples, viver pregando de igreja em igreja, dando aula de teologia e história da igreja não por profissão, mas por interesses disfarçados de vocação e devoção, e o que mais vocês quiserem listar nesta soma de tarefas exaustivas e prazerosas que tantos fazem porque realmente amam o que fazem. Oxalá fosse assim!

Será que preciso dizer que não estou generalizando? Acho que sim, porque senão alguns que faltaram – ou dormiram – às aulas de hermenêutica entenderão que estou falando de todos. Claro que não estou falando de todos! Sempre há raríssimas exceções. Raríssimas, mas há! Aqueles que, ainda assim, se sentirem agredidos, o que posso fazer por eles? Bajulá-los? Jamais! O fato de se sentirem ofendidos talvez lhes esteja respondendo que não compõem o grupo das raríssimas exceções.

Conheço um... Somente um! Este sim; não preciso mencionar seu nome! Ama a alma humana, crê num montão de coisas que duvido, mas ele crê com a alma. Tem defeitos como todo humano. Seu nome não precisa ser mencionado, pois a exemplo do Nazareno, ele não recebe glória humana. Logo, seu nome, pra quê ser mencionado? Para mim, basta que eu o conheça e o reconheça. Dignamente sustenta sua família, exercendo o ofício profissional que o Altíssimo o ajudou a alcançar. Nem por isso ele deixa de ser pastor, de ser esposo, de ser irmão, de ser amigo de gente que está sempre precisando dele. Por ironia, ele também é professor. E que professor!

Não quero ser agressivo, porque sei que não sou. Não quero aparentar incredulidade, porque creio até demais. Não quero ser mentiroso, porque não tenho sido quando escrevo. O fato é que às vezes, cá com meus botões e com minha esposa, digo o que estou pensando: no fundo, no fundo, eu acho que acredito mais em Deus e na igreja do que todos esses caras juntos. Eles não acreditam nela; eles dependem dela, é diferente!

Escrevi esses dias: “A igreja nunca lhe fará falta, você sim fará falta pra ela”. Enfatizei que essa segunda “falta” tem a ver somente com uma coisa: dinheiro, muito dinheiro. Um amigo complementou: dinheiro, trabalho escravo etc. Pois é! Eles ganham, sempre! Os outros, que sejam voluntários! Que palhaçada! Jesus Homem adoraria ver essa estupidez; e adoraria mais ainda quando soubesse que estão fazendo isso em nome dEle.

Brigaram comigo por causa do texto "Sem igreja, graças a Deus!" Ouvi e li de tudo. Não achei que fosse pra tanto! Arrogante, fracassado, mais um que se diz cansado, incrédulo, herege, cachaceiro, desviado, ingênuo, irresponsável, incoerente, frustrado etc.

Graças a Deus por essas palavras de elogio! Continuo sem igreja, e quando constato que são esses que a compõem, mais distante dela pretendo permanecer. É mil vezes melhor continuar fazendo todas aquelas coisas que listei no texto anterior, pois naquelas sim há comunidade, há unidade, há comunhão, há vida, há sinceridade, há espiritualidade, há Jesus de Nazaré sempre e presente.

Ou você é inocente ao ponto de achar que se o Mestre passasse hoje em frente à igreja que você frequenta, Ele perderia tempo entrando nela? Prefiro acreditar, com a garantia do que nos mostra a Seu respeito no evangelho, que Ele escolheria a mesa de uma boa chopperia ou até mesmo de um simples boteco... E, certamente, ele não beberia refrigerante!

Na Graça,
Jefferson

13 comentários:

Cida Souza disse...

Querido Amigo.

Faço minha suas palavras, com as Rarissimas exeções, não ve quem não quer.abraços.

Ronaldo Junior disse...

Jefferson, detonou!

O que sobra dentro da Igreja é sangue-suga que se diz "apologista", "homem de Deus" e "ungido" que faz a carreira dentro nas custas de muito fiel inocente.
Mandou muito bem no texto!

Quanto ao seu amigo que preferiu não citar o nome, eu já o vi pregar, tenho certeza que é um homem sincero.

Gostei do texto.

Abraços,

Ronaldo Junior

fabio.fino disse...

Uau que texto legal.

Estou no rj e se tiver tempo ainda vou comenta-lo.
Gostei do anterior tbem.
Nao se preocupe, toda vez que alguem critica a "igreja" é sempre chamado de arrogante.
Fabio fino

Aline Grasiele disse...

Ronaldo,

É muuuito improvável que vc o conheça. Acho que não é quem vc está pensando...

Aline G. Ramalho

Erik disse...

Ah meu amigo...

Cara, são raríssimas pessoas com as quais consigo concordar em quase tudo, e você é uma delas.

Meu ângulo de olhar os acontecimentos, é sempre o ângulo de onde se vê o impacto no ser humano. Tanto olhando de fora (a lá Nitzsche), como olhando pra dentro (ao estilo Jung). E em tudo vejo o mau da religião, principalmente a Cristã.

Ainda que eu estivesse defendendo algo sem sentido e sem interferência no humano, seria bem menos pior que defender a desgraça como salvação. Nisto se estabelece a inversão de valores, a verdade pela mentira, o belo pelo ridículo, a evolução pela anti-natureza e enfim o retrocesso.

Jesus enquanto homem acima da média – Falo como quem apenas olha o “supérfluo” diante da grandeza do verdadeiro sentido – com certeza buscaria pelo bem da humanidade a evolução dos seus irmãos a um estágio maior do que o que se encontravam, e os ensinaria como prosseguir nessa jornada.

O Cristianismo em sí é a negação dessa proposta (mesmo propondo ela de maneira tão simplória, ainda assim a realidade é infinitamente pior).

Então? Lutar pelo que? Pela decadência? Pela autodestruição?
Respeito Cristãos como quem respeita um viciado! Com todo respeito, é claro!

F0d@-se

Grande abraço meu mano!

Eduardo Medeiros disse...

olá jefferson, tudo bem?

olha, li com gosto este teu texto. sua crítica é perfeita e somente os que estão mamando nas tetas da igreja institucional através dos seus "dignos ministérios" com suas megas cruzadas e vendas de tudo o que é lixo cultural evangélico, sentirão a carapuça lhes caindo muito bem.

tenho pena do povo, esta massa que se deixa levar pelos tais e que não pensam e nem são capazes de criticar os "ungidos de javé".

vou aparecer mais vezes por aqui. vamos lá tomar umas com o nazareno.

abraços

Unknown disse...

É, meu caro amigo... é bem por aí mesmo! O dinheiro, a fama, a concorrência no ranking dos 'melhores' do meio, acaba que anulando a boa intenção inicial.

Abraço.

fabio.fino disse...

Jeff meu velho,tem um texto meu que permeia essa assunto que escrevo as vezes como passatempo.
O título do texto é: Porque desejo ir pro inferno.
Se tiver tempo dá uma lida no link abaixo:
http://reformar.blogspot.com/2009/12/porque-desejo-ir-ao-inferno.html

Um grande abraço.

Fabio Fino

TORQUATO disse...

Meu caro admiro sua coragem e qualidade na escrita e com muita tristeza lhes digo: você tem razão no que escreveste. Sinceramente periferia que você estivesse errado, pois se assim fosse muita gente boa e ingênua não estariam nas mãos destes lobos vorazes com sangue em seus dentes. Continue escrevendo, pois não tenha dúvidas que alguns te ouviram e se libertaram das gaiolas religiosas (Grande Rubens Alves). Preciso tomar mais coragem para ser um sem igreja. Porem já dei alguns passos e acredito que tudo é questão de tempo. Assino em baixo o que escreveste a respeito do Dinheiro, pois o que todos querem é garantir suas vidas à custa dos incautos. Ainda não conheço um que seja diferente, ainda bem que você já conhece. Por gentileza me convide para as palestras que você organiza, pois quando der para conciliar com minhas atividades eu irei. Meu e-mail é: Hailtontor@gmail.com

Emerson Bahia disse...

Mais um "daqueles" execelentes textos!

E já vai correndo para o meu Blog...rs

Abração, meu irmão!

Anônimo disse...

Cara... Li seus textos e vejo que tremenda percepção e dom apologético Deus derramou sobre sua vida. Uma coisa apenas me deixa triste... É que vc corre um grande perigo de se tornar um grande escritor sem poder verdadeiramente fazer algo por essa igreja de JESUS. Meu desafio pra vc é... Nos ensine ser uma igreja diferente distante dos seus escritos. Nós precisamos de vc, daquilo que vc conhece de Deus. O que fará a diferença entre vc e esses "lideres evangelicos" será apenas uma... Não apenas discursos, sejam eles em pupito ou escritos, mas vida e prática!
A igreja instituição é uma realidade... Nos ajude a tranforma-la em amantes de Deus!
Um abraço com muito respeito e desejo de te ter meu irmão!

Anônimo disse...

Grande Amigo Jefferson

A "igreja" criu uma forma de ditadura religiosa, e uma forma psicosomática de manipular pessoas, através de seus dógmas e da grande falta de vergonha na cara de seus pastores bispos e toda podridão de momenclaturas, o que mais me revolta e que EU durante 10 a 15 anos da minha inútil vida cristã fiz parte desta ditadura.
Não preciso dizer afinal você me conhce e andamos juntos, quanto mal eu causei, quantas palavras eu citei e quantas pessoas eu causei pensamentos deturpado sobre Jesus, das poucas alegrias que tenho e que na sua grande maioria pude pedir perdão pelo mau causado.
Enquanto eu andava com os SANTOS da igreja eu não conhecia a JESUS, hoje andando com os PECADORES aprendi a conhecer JESUS.
obs. ser herege me faz tão bem
Abraços
Rodrigo Fonseca

alessandro disse...

grande jeffinho meu brother,desejo te ver um dia pra tomarmos uma bem geladinha e compartilharmos vida.. que é isso qu interessa.. adorei o texto e comentarei depois!

bjs,

alessandro