sábado, 24 de abril de 2010

Reflexão (69) - Deixai vir a mim as criancinhas


por Jefferson Ramalho

Deixai vir a mim as criancinhas...

Em dias como os nossos não é nada interessante que um padre, por exemplo, pregue tal passagem bíblica. O Mestre sabia muito bem o que queria dizer com aquilo, afinal, ele não era um mero sacerdote, mas o sumo sacerdote.

Agora, pedofilias à parte, o que mais assusta não sabemos se é um comportamento perverso, doentio e incontrolável como o que é praticado por alguns padres ou se é a postura da instituição religiosa que os protege.

Semanas atrás, após ter visto várias notícias a respeito do assunto, o depoimento que mais me causou espanto foi o de um bispo que disse: “a igreja não deve punir, mas amar. Certamente, o sacerdote que cometer pedofilia passará por um período de restauração, todavia, não pode ser punido. Ele é padre e, uma vez padre, sempre será padre”.

Outro depoimento que me deixou horrorizado foi o de um padre brasileiro que disse ao ser indagado acerca de algumas denúncias que recebera: “eu não tenho que confessar a ninguém se já pratiquei ou não tal pecado. Devo me confessar, apenas, a outro sacerdote”. Ah! Esta foi a pior!

Não vou me estender muito, porém, só diria o seguinte: por que a igreja não deve punir os padres comprovadamente pedófilos, entregando-os às autoridades? Que conversa é essa de amar e não punir? Sim, porque quando alguém ousou questionar algumas doutrinas – que todos sabemos, foram inventadas e aperfeiçoadas na Idade Média – o que lhe sobrou foi a fogueira. E os teólogos da libertação? Estes, coitados, passaram maus bocados nas mãos dos guardiões da sã doutrina, sobretudo, durante o pontificado de João Paulo II.

Agora, um comedor de criancinhas não é condenado ao silêncio, talvez é no máximo transferido de paróquia para um local muito distante aonde ninguém o conhece, mas um teólogo que ousa questionar as verdades absolutas da igreja, estes são merecedores de censura, críticas, exposição, não podem mais nem escrever nem lecionar. Enfim! Que contradição, não!?

E a confissão? Pra que serve? Para que o perdão de Deus seja possível passando através de um encanamento no qual não basta ter Cristo como junção mediadora, mas a Virgem, o Padre e a Penitência aplicada? Amigos, com todo respeito, vocês ainda acreditam nisso?

Não falo isso como um protestante apologista, porque nem de apologista protestante eu gosto. Falo como alguém que com toda sinceridade não consegue mais entender, tampouco crer em algumas coisas. Para mim, Infalibilidade Papal e Infalibilidade da Bíblia são a mesma coisa, só muda o terreiro. Aliás, no terreiro de verdade não se encontra dessas coisas.

Eu gosto de católicos como – e agora posso nomear com todo respeito sem ter de pedir licença – Hans Küng, Paulo Evaristo Arns, João Batista Libânio, Frei Betto, Leonardo Boff, Andrés Torres Queiruga, José Comblin, Eduardo Hoornaert, Roger Haight, que não se acham defensores da sã doutrina, mas tiveram e têm sensibilidade suficiente para perceber a aflição dos menos favorecidos, dos oprimidos, dos “diferentes”, dos adeptos de outros credos, praticantes de outra fé – seja qual for.

Estes homens não me conhecem. Com alguns deles tive poucas oportunidades de estar junto, mas nada que tenha se tornado num relacionamento próximo. Aqueles que já pude ver pessoalmente, vi em palestras, congressos, simpósios, nada além disso. Outros, Hans Küng, por exemplo, tive apenas a chance ler alguns dos seus belíssimos livros e artigos. Mas todos eles e até outros que aqui não foram citados, alguns até já falecidos, conseguiram através de seus textos, palestras, aulas, mas, sobretudo, através de suas vidas, me fazer acreditar que ainda existe gente séria neste mundo, apesar das repressões sofridas por eles por coisas que sempre fizeram em favor do próximo.

Estes e outros tantos que para o mundo e até para a igreja são verdadeiros anônimos – alguns que eu até conheço –, com todo o respeito, podem falar como o Mestre: deixem vir a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos Céus. Os demais, são suspeitos!

na Graça,
Jefferson

3 comentários:

Marcos David Muhlpointner disse...

Jeff, não é o Amor - com maiúscula, como eles gostam de grafar - que tem de prevalecer? Não é o Amor o atributo que meis interessa em Deus? Não é o Amor o único que resistirá? Não é o Amor que “cobre uma multidão de pecados”? Não é o Amor “que lança fora todo o medo”?

Enquanto a ICAR e alguns pastores evangélicos mantiverem esse discurso capenga e frouxo de que é só o Amor que vale, a porta da indiferença vai continuar aberta e muitos, padres e pastores, vão entrar por ela.

Abraço, Marcos.

Paulo Matias disse...

Fala mestre! Belo e muito meditativo este texto...Tomei a liberdade de postar em meu blog, depois você cobra os direitos autorais...(risos)...até quinta-feira...

No amor do Pai...

Paulo Matias

Daise Mariza disse...

Parabéns pelo texto.
Parabéns pelo blog.
Fique com Deus