.
por Jefferson Ramalho
Graças a Deus que nos faz caminhar com os pés no chão e, não, levitando, como muitos “evangélicos” gostariam de “andar”. A maioria, na verdade, gostaria não apenas de levitar, mas se pudessem, voariam como verdadeiras águias ou gaivotas. Sobrevoar as alturas! Oh, arrogante ingenuidade! Ou seria ingênua arrogância?
Louvo a Deus por não ter mais essa consciência que de ciência nada tem. Pisar o chão é bom demais! Quem já experimentou uma turbulência aérea sabe bem do que estou falando. E quando o comandante avisa que não há previsão de pouso e que o combustível que resta só serve para alguns minutos, o desespero toma conta.
Na vida, viver turbulências, por incrível que pareça é ainda pior. Quem me conhece bem de perto, sabe das que vivi ultimamente. E se os pés não estiverem no chão, a gente sai por aí saltando de arranha-céus acreditando ser o super-homem, ou para ser mais próximo do momento, o próprio Spider-Man.
Só que nós não somos super-heróis. Somos gente e suficientemente gente. Sou fascinado por orações como a de Pedro: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador (Lc 5.8). Quando vemos a turbulência perdendo força e a Graça de Deus prevalecendo, dá vontade de pedir para Deus se retirar, pois sabemos o quanto somos indignos dEle.
Só aí percebemos o quanto merecemos a condenação, o castigo, o isolamento, a morte e o inferno. Quando vemos Deus nos agraciando com seu amor e cuidado, sendo nós quem somos. De qualquer maneira, é no chão da vida que as coisas acontecem, sejam boas, sejam ruins. Não é nos templos, não é nos montes, não é nos encontros religiosamente evangélicos, não é nos shows de música gospel nem na marcha para “Jesus”. Que Jesus, Senhor? Que Jesus receberia tantos sacrifícios presunçosos como forma de louvor?
As coisas acontecem no chão da vida, mas a alma é tranqüilizada quando percebemos que o chão da vida se tornou chão da Graça. É quando a caminhada, por mais espinhosa que pareça, não tenha que ser recheada com supersticiosos “ta amarrado”, nem com ingênuos “eu repreendo”, muito menos com blasfemos “tomo posse do melhor dessa terra”. Não, amados! Quem está no chão da Graça, sente a graça de ser acompanhado lado a lado por Jesus no chão da vida.
Quem está no chão da Graça, não se torna franciscano na aparência ou no discurso, apenas. Quem está no chão da Graça, ama até o pior e mais charlatão pastor evangélico que possa existir, não o ofendendo - como já fiz muito -, mas apenas orando por ele. Apenas, orando! Quem está no chão da Graça, não reduz a sua vida com Cristo numa comunhão estática sacralizando o espaço do templo ou o dia de domingo. Mas quem está no chão da Graça, se não sequer suporta a idéia de templo, não pisa nele também, quando convidado. Quem está no chão da Graça? Às vezes penso que ninguém! Ou às vezes imagino que somente os maltrapilhos estão, dos quais me compadeço com as palavras, mas não compartilho com eles o muito ou pouco daquilo que tenho. Dou não o que sobra, mas parte do que sobra! Que amor é este que tanto prego? Só falar é fácil, ainda mais quando o cifrão chega brilhar em meus olhos. E há também momentos em que penso que todos estão no chão da Graça, porque não é possível!
Até os pregadores da Graça têm me preocupado nos últimos dias, Jesus. Os da espiritualidade, os do ecumenismo, os progressistas, os comunistas cristãos, os da caminhada. Que caminhada? Graças a Deus que o Caminho é Cristo, apenas! Graças a Deus! Graças a Deus que é Ele o Caminho da Graça, em quem e com quem há chão da Graça, em meio ao chão da vida. Caso contrário, nem a igreja clandestina e subversiva escaparia.
Dou graças a Deus, pois no chão da Graça, as coisas são assim. Deus coloca pessoas "sem importância alguma para a maioria" para abençoar nossas almas. Gente como a gente. Gente que sorri; que recepciona; que chora junto; que diz o que tem de ser dito; que não faz aquela cara hipócrita de insatisfação na hora da piada, mas com uma vontade enorme por dentro de dar risada; gente que se for preciso não segura o palavrão, mas o pronuncia sabendo que não pronunciá-lo será ainda mais pecaminoso; gente que é gente.
No chão da Graça é assim. A consciência e as intenções limpas são o que prevalece. A Graça não se torna rótulo, mas realidade de vida de quem vive sorrindo ou chorando no chão da vida. É onde realmente há amor e simplicidade, desprendimento da matéria, riqueza na comunhão despretensiosa, liberdade em Cristo e compaixão pelo pobre.
na Graça,
Jefferson
domingo, 7 de setembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Show de bola! Sabe que estou "levando" para meu blog, né? (risos)
Forte abraço meu amigo.
Paz
http://emerson.bahia.zip.net
Esta é uma leitura que nos mostra que a Graça que achamos viver, é apenas uma religião. Como diz nosso amigo Brennan Manning: Fomos alcançados pelo "Selvagem Amor de Cristo"
- Pena que o nosso amor por Ele, e pelo proximo é tão... como posso dizer? "Civilizado."
Gil
Hey guy rsrs gostei do texto, muito bem escrito!!!
E é só no chão que sentimos a plenitude da Graça!
Texto super transparente, Jeff!
Postar um comentário