por Jefferson Ramalho
O comentário de Nana, minha amiga e irmã católica do centro-oeste brasileiro me fez ver a necessidade de antecipar uma reflexão que eu programara para daqui a algumas semanas.
Nana se lembrou de Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce. Muito bem lembrado, Nana! Na verdade, se fizermos uma leitura na História do Cristianismo após o quarto século, quando a Igreja deixou de ser perseguida pelo Império Romano e tornou-se aos poucos a instituição mais poderosa daqueles dias, perceberemos que com isso abandonou aos poucos as suas origens.
Chegaria um tempo em que ela de perseguida tornar-se-ia perseguidora. Na Idade Média, ela promove as cruzadas, as indulgências, as inquisições, a venda de relíquias e tantos outros desvios daquilo que o Evangelho propôs em sua essência.
Helena, por exemplo, mãe de Constantino, imperador que promoveu o fim da perseguição religiosa no ano 313 através do Edito de Milão, foi quem encomendou os primeiros templos e catedrais. A Igreja de Cristo precisa de um lugar para se reunir, mas não precisa se tornar Lugar Sagrado. Mas com as catedrais medievais, foi o que aconteceu. Com isso, uma série de deturpações surgiu.
Com a Reforma Protestante do século XVI parecia que as coisas melhorariam. Infelizmente não foi assim. No século posterior, os protestantes já institucionalizados, aos poucos abraçaram muito do que era peculiaridade da igreja medieval.
O fato é que após o quarto século, a História da Igreja – ou do Cristianismo, melhor dizendo – é repleta de decadência espiritual, negociações em nome de Deus, manipulação, mentira, corrupção e tantas outras características abomináveis à luz do Evangelho.
Mas em meio a tanta podridão, Deus generosamente presenteou esta mesma História com algumas exceções. Os Padres do deserto, São Francisco de Assis, Santa Tereza d'Ávila, São João da Cruz, Madame Guyon, João Wesley, Dietrich Bonhoeffer, C. S. Lewis, Thomas Merton, Henri Nouwen e Madre Tereza de Calcutá são algumas dessas exceções.
Hoje, com o advento do neo-pentecostalismo evangélico, a igreja institucional conseguiu atingir um patamar que nem a igreja medieval, no auge de sua hegemonia conseguiu atingir. Já não se vende mais a salvação. O que se vende, em nome de Deus, é a felicidade terrena, a prosperidade financeira, o “dom” de adquirir bens materiais. Os que afirmam acreditar em Deus acreditam exatamente no deus pelo qual Deus jamais gostaria de ser trocado: as riquezas. E o que é pior. Este deus é disfarçado de Deus, para que o negócio não fracasse.
Portanto, na História do Cristianismo, o que de bom e de exemplar pode ser contemplado, está registrado na história particular de cada uma das exceções que aqui citamos. Não seria incoerência afirmar que eles foram verdadeiros exemplos de amor ao próximo muito além das fronteiras da religião. Eles deixaram seus legados, e mais do que isso, nunca se sentiram santos, dignos e merecedores de qualquer dádiva divina pelo fato de fazerem o que fizeram. Esta talvez seja a principal virtude de todos eles. Sempre se reconheceram dependentes da Graça de Deus, em Jesus.
O ideal, mesmo, seria escrever uma reflexão sobre cada um. Estou pensando nisso para o futuro. Obrigado, Nana, por se lembrar que no meio de uma história tão manchada, a Igreja de Cristo teve suas autênticas personagens que verdadeiramente conseguiram com a própria vida encarnar o amor do nosso Mestre.
na Graça,
Jefferson
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Reflexão (14) - As poucas exceções da História
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