sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Reflexão (23) - Conversão ou experiência religiosa?


por Jefferson Ramalho

Em dezembro de 1995 experimentei aquilo que para os "evangélicos" é chamado de conversão. Hoje, doze anos depois, confesso que tenho minhas dúvidas acerca daquela experiência. Para a psicologia é natural que nessa fase da vida, os seres humanos tenham experiências religiosas, independentemente de onde sejam. Pode ser em uma igreja evangélica ou em um terreiro de umbanda. Só muda o endereço.

Quando me lembro do "conteúdo teológico" daquilo que me ensinaram ser a verdadeira doutrina cristã, minhas dúvidas aumentam ainda mais. Me refiro, é claro, àquilo que os líderes do neo-pentecostalismo local de onde me "converti" ensinavam como verdade.

Cinco anos depois resolvi estudar teologia. Eu já estava diretamente envolvido com os trabalhos da igreja e não via incoerência alguma em estudar para me preparar para o ministério. Contudo, o esquisito é que os meus superiores não concordavam com a minha opção em estudar. Chega ser cômico. Mandei todos eles às favas e fui estudar.

Não demorou muito, no decorrer dos estudos percebi que teologia cristã e aquelas convicções aberrantes que me ensinaram durante cinco anos eram duas coisas completamente distintas. O que aquela "igreja" me ensinara a praticar e posteriormente passei a ensinar a outros, se resumia em uma relação de barganha com deus e não de comunhão com Deus. Era preciso fazer e dar, para receber. Não existia e não existe Graça no negócio deles. Só "negociação com deus", por isso não pode ser outra coisa a não ser "negócio".

Alguns anos após o início da minha caminhada na ambiência acadêmica, comecei a aprender e a compreender a proposta da Graça. A Graça escandalosa e absurda do Evangelho, que não exige troca, barganha, negociação, prestação de contas ou qualquer coisa do gênero. Por isso é Graça.

Compreendi a Graça que convida o ser humano a ter simplesmente um relacionamento de filho para Pai e de Pai para filho. E este Pai é Deus e não deus. Um Deus que é acessível através de Cristo e não das ofertas que entregamos naquelas "campanhas de fé" que em sua essência não têm outro objetivo além do de arrecadar cada vez mais.

Pretendo um dia escrever uma reflexão só para dizer como aquele vigarista idealizava suas "campanhas de fé". Lembro-me de cada uma, as passagens bíblicas que ele utilizava para argumentar a favor de sua perspectiva, a maneira como ele manipulava seus obreiros a jogarem o seu jogo e farei questão de concluir dizendo onde o dinheiro era investido.

Hoje, portanto, não sei ainda dizer se aquela experiência quase mística que tive no neopentecostalismo poderia ser chamada de conversão, pois a compreensão da Graça veio bem depois. E somente quando compreendi a Graça foi que comecei a encarar a fé como coisa séria, por amor e por prazer e nunca mais por um ingênuo e arrogante interesse de ficar rico e próspero; muito menos por medo do diabo, que é uma das coisas que eles mais sabem semear na alma dos seus seguidores.

Me envergonho, hoje, de dizer que fui um desses seguidores do neopentecostalismo. Mas ao mesmo tempo sou grato a Deus por ter me dado a oportunidade de viver a experiência que vivi naquele ambiente. Lá aprendi como eu jamais devo proceder na vida cristã. Foi a melhor escola para vigaristas que eu poderia freqüentar em toda a minha vida. Mas hoje estou na Graça.

Beijão repleto de Graça a todos!

na Graça,

Jefferson

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