quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Reflexão (4) - Autopercepção


Não despreze um homem que, para compreender realmente o que não compreende, compreende que não compreende.

(Santo Agostinho)

por Jefferson Ramalho

Há uma conexão clara entre os pensamentos de Santo Agostinho, Paulo o Apóstolo, Sócrates, Martinho Lutero, João Calvino e tantos outros personagens da história, sobretudo, aqueles que fazem parte da galeria de pensadores cristãos.

Em todos estes, a maior de todas as “virtudes filosóficas” é a de deixar explícita em suas palavras a convicção acerca de si mesmos. A maior característica que um ser humano pode ter é a autopercepção. Jesus ensinou isso em todo tempo. Quando Ele diz “sem mim nada podeis fazer”, o que de fato Ele quer dizer é que nenhum homem é capaz de com suas próprias forças conseguir qualquer coisa sem a ação misteriosa dAquele que é MISTÉRIO em SI mesmo.

Sócrates dizia: “só sei que nada sei”, ou seja, quando alguém chega a esta conclusão, cai toda presunção, arrogância e confiança em justiças próprias, e o que toma o lugar destas coisas descaracterizáveis é a humildade e a dependência total e exclusiva do ALTÍSSIMO.

Quando Santo Agostinho afirma que a compreensão só vem quando se compreende acerca da própria incapacidade de se compreender qualquer coisa, ele está claramente conectado às falas de Sócrates, Jesus, Paulo e de outros tantos que viveriam depois como Martinho Lutero, João Calvino e Karl Barth.

Ter a certeza de que não se pode compreender nada, nem mesmo dominar totalmente qualquer ciência, teologia ou outra vertente do saber humano, é a maior virtude que um homem pode ter. Isto quer dizer que a maior virtude está em reconhecer que não se tem virtude.

Paulo o Apóstolo já dissera: “em mim não há bem algum...”. Isto também está claro nas experiências de muitas pessoas que viveram nos tempos do Primeiro Testamento. Isaías quando vê a GLÓRIA de DEUS, não pula, não grita, não chora, não tem nenhuma “explosão de louvor” como muitos dizem nos dias de hoje. Ele simplesmente se percebe e diz: “ai de mim”, ou seja, ele reconhece a sua própria imperfeição, pois a primeira coisa que acontece com alguém que se vê diante da PRESENÇA Daquele que É, é enxergar as próprias imperfeições e deficiências morais. Digo morais, não como diria um moralista.

Portanto, quero deixar esta reflexão com os amados, a fim de que busquemos todos os dias de nossas vidas esta urgente e única virtude que um cristão deve ter. Aquela que faz o ser humano se perceber, se enxergar e se definir. Quando isso ocorre, começamos a deixar de julgar o próximo, reconhecemos nossa pequenez diante do PAI e entregamos a melhor expressão de louvor que alguém pode oferecer a Deus: o silêncio.

na Graça,

Jefferson

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