sábado, 28 de junho de 2008

Reflexão (41) - Agir rápido, agir juntos




por Leonardo Boff

Finalmente também as igrejas estão se mobilizando para enfrentar o aquecimento global. O secretário geral da ONU Ban Ki Moon visitou em março o Conselho Mundial das Igrejas em Genebra e disse: “um problema global exige uma resposta global: nós precisamos da ajuda das Igrejas”. E elas logo responderam com uma conclação aos milhões de cristãos dispersos pelo mundo afora, com as palavras:”Agir rápido, agir juntos porque não temos tempo a perder”.

Biblicamente enfatizaram que Deus nos entregou a Terra como herança para ser administrada, pois esse é o sentido hebraico de “dominai a Terra” que não tem a ver com a nossa dominação. Assumem os dois imperativos propostos pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climaticas (IPCC): a mitigação e a adaptação. A mitigação quer atingir as causas produtoras do aquecimento global que é o nosso estilo delapidador de produção e o consumo sem medida e sem solidariedade. A adaptação considera os efeitos perversos, especialmente nos países mais vulneráveis do sul do mundo que exigem de todos solidariedade e com-paixão, pois se não conseguirem se adaptar, assistiremos, estarrecidos, a grandes dizimações de vidas humanas.

As Igrejas assumem uma função pedagógica: ao evangelizarem, devem propor o ideal de uma sobriedade voluntária e de uma austeridade jovial e ensinar o respeito a todos os seres, pois todos saíram do coração de Deus. Sendo dons do Criador, devemos condividi-los solidariamente com outros a começar pelos que mais precisam. A Igreja católica oficialmente ainda não propôs nada de significativo. Mas a CNBB em suas Campanhas da Fraternidade sobre a água e sobre a Amazônia ajudou a despertar para a ecologia.

O bispos canadenses publicaram recentemente uma bela carta pastoral com o titulo:”a necessidade de uma conversão”. Atribuem à conversão um significado que transcende seu sentido estritamente religioso. Ela implica “encontrar o sentido do limite, pois, um planeta limitado não pode responder a demandas ilimitadas”.Precisamos, dizem, libertar-nos da obsessão de consumir. “O egoísmo não é somente imoral, é suicida; desta vez não temos outra escolha senão uma nova solidariedade e novas formas de condivisão”.

Chegamos a isso, reconhecem, porque há séculos não respeitamos mais as leis da vida, esquecendo a sabedoria antiga que ensinava:”não comandamos a natureza senão obedecendo a ela”. É mais fácil enviar pessoas à lua e trazê-las de volta do que fazer com que os humanos respeitem os ritmos da natureza. Agora estamos colhendo os frutos envenenados da dessacralização da vida provocada pelo poder da tecno-ciência a serviço da acumulação de poucos.

O judeu-cristianismo possui suas razões próprias para fundar um comportamento ecologicamente responsável e salvador. Parte da crença, semelhante à visão da cosmologia contemporânea, de que Deus transportou a criação do caos ao cosmos, quer dizer, de um universo marcado pela desordem a um no qual vige a ordem e a beleza. E Deus disse:”isso é bom”. Colocou o ser humano no jardim de Éden para que o “cultivasse e guardasse”. “Cultivar” é cuidar e favorecer o crescimento e “guardar” é proteger e assegurar a continuidade dos recursos, como diríamos hoje, garantir um desenvolvimento sustentavel.

Importa refazer a conexão rompida com a natureza para que possamos de novo gozar de sua beleza e de sua “grandeur”. Esta fé funda uma esperança de um futuro bom para a criação, tão bem expresso no livro da Sabedoria: “Senhor, tu amas todos os seres e a todos poupas porque te pertencem, ó soberano amante da vida”(11,24 e 26).

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