por Jefferson Ramalho
Toda semana tem uma nova! Na
semana passada foi a história da intolerância dos conservadores religiosos
contra a manifestação da transexual que, encenando a crucificação na Parada Gay,
com o intuito de mostrar que até hoje os marginalizados são violentados
inocentemente, acabou execrada por aqueles que dizem ser os representantes da
verdadeira moral e dos bons costumes.
Agora, foi a vez da pedrada! Uma
criança de 11 anos foi atingida por uma pessoa que, por certo, afirma-se cristã
e pregadora do amor e da fé... sim, como aqueles que queriam apedrejar uma
mulher cerca de dois mil anos atrás, mas que foram impedidos pela frase de
Jesus de Nazaré quando este afirmou: quem não tiver pecado que atire a primeira
pedra.
A diferença entre os dois casos é
clara. Lá a mulher era acusada de adultério, o que não justifica qualquer ato
de violência ou repúdio. Aqui, a jovem é apedrejada porque tem fé, porque segue
uma tradição religiosa herdada de sua família, porque não faz parte da religião
dos que se dizem conhecedores do amor de Cristo.
A verdade é que, segundo as
estatísticas, tudo indica que daqui a algum tempo, não duvido nada se esses
sujeitos não tornar-se-ão literalmente homens-bomba do cristianismo. Ora bolas!
Eles já são homens-bomba, se pararmos para pensar. Eles acreditam que com a
pena de morte e com a prisão de crianças em conflito com a Lei serão resolvidos
os problemas da violência que existe na sociedade. Mas, ao mesmo tempo,
apedrejam candomblecistas e umbandistas e afirmam-se contra o aborto, já que
argumentam ser defensores da vida e da hipótese de que só Deus pode tirá-la.
Que bagunça! Que salada! Que caos!
Há, é claro, entre os cristãos –
católicos e protestantes – uma pequena parcela séria, que não aceita essa
intolerância, esse ódio, essa violência promovida e propagandeada nos púlpitos
das igrejas e na bancada evangélica do Congresso Nacional. Todavia, esses
poucos pastores e padres que não concordam com a intolerância religiosa e
moralista, por vezes, acabam execrados em seus próprios círculos de
convivência. Haja vista o que ocorreu com Rubem Alves quando este negou-se
apoiar o regime militar nos tempos da ditadura ou o que ocorreu com Leonardo
Boff quando este escreveu em favor do pobre e contra a ostentação eclesiástica.
Portanto, encerro, sinceramente,
sem muitas esperanças. Afinal, não duvido que na próxima semana tenhamos uma
outra manifestação de ódio, expressa em forma de pregações, de palavras, de pedradas,
de tiros, de bombardeios, por parte dessa turma que se diz seguidora e
imitadora do amor de Deus, mas que no fundo, não passam de víboras, de cobras
venenosas, como dizia um certo homem. Eles são semelhantes a sepulcros caiados,
bonitos por fora, mas podres por dentro.
O problema maior é que são
tratados e reconhecidos como santos pelos seus muitos seguidores, os quais,
admirados e ingênuos, pagam o que for preciso para sentir os seus perfumes
importados, mal sabendo que não passam de seres inescrupulosos, cuja essência fede mais que um corpo em avançada decomposição.
J.R.
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia